Empossado no início da gestão do presidente Jair Bolsonaro, teve relação muito próxima com as agências internacionais, como exemplo o IICA, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ), que é a agência alemã de cooperação. Todo esse relacionamento lhe deu know-how para receber o convite do diretor-geral do IICA, o argentino Manoel Otero.
Na Costa Rica, desde que foi empossado, é responsável pelos projetos de captação de recursos e, em função disso, mantém contato direto com agências financiadoras nos 34 países das américas, além do Banco Mundial. “Usamos o know-how do IICA para o desenvolvimento de cinco programas bases: o Câmbio Climático, no qual fomos creditados no Fundo Verde; o Desenvolvimento Territorial e Agricultura Familiar; o Comercialização e Interação Entre Países; Sanidade, que atenta aos problemas sanitários e inocuidade; e o Bioeconomia, com temas como sociobiodiversidade e combustíveis renováveis”, explica.
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Dentre as ações, exemplifica a atenção dada ao problema da peste suína percebido na República Dominicana. “Todos devem estar atentos. Inclusive o Brasil acompanha de perto, porque isso pode representar uma grande dificuldade para a exportação”, conta.
A que atribui a indicação de seu nome ao cargo no IICA?
O IICA é um organismo internacional americano e a junta interamericana de administração é formada pelos ministros da agricultura. Um dos maiores escritórios de representação é em Brasília. Por meio dessa aproximação, o governo trabalha muito de perto com o IICA em projetos técnicos, ou com recursos de fundos internacionais ou dos governos. Pelo fato de ter sido secretário nacional da Agricultura Familiar durante dois anos e meio, acabei tendo relação muito próxima com organizações internacionais, como IICA, FAO, Fida e a GIZ, da Alemanha. Vários projetos eram com agências internacionais, tanto que fui para a Alemanha participar da negociação do acordo de cooperação entre os dois países e havia uma parte importante que era de agricultura familiar para a bioeconomia, mais especificamente. Passaram a me conhecer e também o que estava sendo feito no Brasil. Em novembro do ano passado, o diretor-geral, o argentino Manoel Otero, me convidou para assumir essa posição internacional para coordenar essa diretoria. Fiquei lisonjeado, mas disse que tinha um compromisso com a ministra Tereza Cristina para encaminhar os projetos. Conversei com ela e acertamos que eu ficaria até finalizarmos o Plano Safra 2021/22, que também é o último da ministra, que sairá em março para concorrer. E seria um momento importante de finalização do nosso trabalho. Retornei a ele e disse que seria dessa forma: me desligaria dia 30 de junho e, a partir do dia 10 de julho, eu viria para a Costa Rica.
A demanda por alimentos é uma constante, mas quais setores têm maior potencial para o mercado?
O mundo, com a pandemia, está comendo mais. Isso acabou pressionando a produção e os preços dos alimentos. É uma relação oferta/procura. É um reflexo também do que ocorreu na agropecuária brasileira nos últimos dois anos. Esse crescimento acontece, principalmente, porque a China acabou comprando cada vez mais alimentos. Quando falamos alimentos, podemos colocar a soja, que não parece um alimento, mas vira ração animal, que depois vira alimentação: carne. Esses produtos acabaram ganhando impulso grande no mercado internacional, e no mercado nacional também houve aumento do consumo. Isso é bom para todos. Uma coisa que se tem visto é o fortalecimento das cadeias curtas, o alimento produzido próximo de onde você vive. É uma tendência até para não gastar tanto com transporte. Existem mudanças na parte de logística. O mundo ainda precisa consumir alimentos produzidos por países que têm área. Então, o Brasil se tornou um dos três maiores produtores de alimentos do mundo, fornecendo alimentos para uma grande parte da população mundial. Agora, sobre oportunidade, depende de lugar para lugar, de país para país.
Apesar de grande produtor, o Brasil ainda tem limitações, o que o faz exportar muita commodity. Há possibilidade de modificar essa prática ou não seria interessante, avaliando o custo/benefício?
O Brasil é um exportador de commodities, mas diversificou muito a pauta exportadora nestes últimos dois anos e meio. No nosso período no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), se fez a abertura de 150 novos mercados. E uma das estratégias no Mapa foi diversificar a pauta exportadora. Claro que a soja continua liderando, daí vem outros produtos, como a carne, açúcar, café, algodão, que não é alimentação, mas é agrícola, o tabaco da nossa região também. Começamos a enxergar a exportação de açaí, castanha, pimenta rosa, pimenta do reino e outros produtos que começam a ter visibilidade internacional. Claro que é preciso ter volume e isso é um desafio para produtos com maior agregação de valor. A própria cachaça, que tem uma parte que é a industrial, exportada em grandes volumes, mas aí tem a cachaça artesanal, que busca ocupar esse espaço mas não tem grandes volumes. Mas o Brasil ampliou o número de mercados e de produtos. É pequeno ainda, comparado com a exportação de soja, mas é porque a soja exporta muito, mas olhando números e comparando com outros países, vemos produtos interessantes com agregação de valores e começa a ampliar esse tipo de exportação. No ano passado mesmo, levamos dez cooperativas do Nordeste para a BioFach, que é a feira mundial de produção orgânica, e eles tiveram bons resultados.
Como o Brasil pode reduzir o seu custo para ampliar competitividade mundial? E como ampliar ganhos com exportação, sem que o brasileiro tenha que pagar pelo resultado da lei da oferta e demanda?
Isso vem sendo feito. O Brasil é um país complexo. Se for olhar a questão logística, nos últimos anos avançou muito. Era sempre um custo grande na exportação do produtos agrícolas no país. Para dentro da porteira, conseguimos fazer muito bem o nosso trabalho. Somos competitivos. Se for comparar os benefícios que os países dão aos agricultores, vemos que a Europa, em cálculo da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), dá 20% para os agricultores, e o Brasil dá 2,5%. A gente praticamente é um país sem subsídios, então somos competitivos em praticamente todos os alimentos. Isso assusta muito o mercado mundial e tem reflexo em posicionamentos de outros países, atacando o país, e isso mostra muito o tamanho da competitividade que nosso país tem. Tem sido fruto de análise de outros países, nosso programa de crédito, a forma de melhorar assistência técnica. Então, somos competitivos, apesar de alguns custos ainda serem altos, principalmente neste momento em que o dólar cresce. Sobre a questão da oferta e demanda, se ajusta em médio prazo. Isso pode ter influência econômica e do dólar. Em todos os países em que houve taxação de exportação, o resultado foi extremamente contrário ao setor produtivo. O caminho é manter a liberdade de ir e vir, que ajusta a questão da oferta e demanda. O mercado ajusta, em médio prazo acaba se ajustando e economicamente e socialmente o país ganha. Muitas vezes, um discurso raso e barato acaba não se sustentando no médio prazo e temos exemplos claros por aí, como a Argentina, que tem errado muito. Taxou a exportação de carne e, hoje, o Paraguai exporta mais carne que a Argentina. Esses erros o Brasil não deve, não pode e não vai cometer.
Como está sua adaptação ao país e como tratam a questão pandemia?
A Costa Rica é um país pequeno. Tem 4 milhões de habitantes. A pandemia está bastante controlada. A vida está praticamente normal, com alguns controles, como no Brasil. O que dizem aqui é que até novembro a Costa Rica chega à imunização de rebanho. No IICA, grande parte está em home office, alguns vêm, outros ficam em casa. A tendência é que, chegando à imunidade, se faça uma nova organização de trabalho, que na minha opinião não volta mais a ser como era, 100% presencial, mas uma parte sim. Está bem controlado.