A duas quadras da rua mais movimentada do Bairro Arroio Grande, a Euclides Kliemann, fica uma esquina que, só de olhar, provoca encantamentos aos santa-cruzenses que passam por ali: é o túnel verde da família Fontoura. “Até as crianças param pra observar e querem ficar para brincar”, revela a moradora.
Voltemos a dezembro de 1968. Lourdes, ainda moça, chegou de outra cidade com dona Anita e disse: “mãe, é aqui que vamos morar”. No terreno havia um chalé simples, que foi logo desconstruído e transformado em um galpão. E no seu lugar fez-se uma casa. Isso sem mover qualquer pé de árvore nativa que ali existia.
O reinício de uma vida nova seria o fim, também, de uma cultura de quase submissão na família. Mulher, na cultura da época, não poderia trabalhar. Anita e Lourdes, por exemplo, ocupavam-se apenas com serviços domésticos. Mas a Lourdes, determinada e corajosa, cansada de depender dos outros, tomou uma atitude: venceu preconceitos e buscou seu primeiro emprego aos 18 anos. Os primeiros 900 cruzeiros que guardou, valor considerável naquele tempo, serviram para mobiliar o novo lar para ela e sua mãe.
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Um tempo mais tarde, após algumas festas de fim de ano no local de trabalho, conheceu um colega, de quem recebia cartões com provérbios e flores. E quatro anos depois viria a ser o amor de sua vida. Seu nome: Maurício. O romance dos dois, desde 1977, ainda perdura. E, no mesmo lugar, na esquina das ruas São Roque e João Baumhardt. É nesse endereço que, em tempos de dias quentes como agora, os que chegam não querem mais sair. E o segredo está, justamente, nas árvores que dona Lourdes não permitiu que viessem abaixo.
Em forma de L, ali se encontram pés gigantescos de espinheira-santa, açoita-cavalo, pitangueiras, angico, laranjeiras. E com a poda cuidadosa de seu Maurício, feita duas vezes ao ano, formou-se um túnel que encobre o pátio todo e gera sombra o ano inteiro. “A vantagem é que nem precisamos usar ar-condicionado. A casa fica fresquinha”, conta Lourdes. Já seu Maurício tem planos: “Vou achar um espaço pra plantar mais alguns pés de canela”.
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