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O baile de Trombudo

Os jovens progressistas de Trombudo organizaram um baile de carnaval em pleno sábado, no Salão Machado. Essa heresia afrontava os costumes e o bom comportamento do rebanho católico, que estava proibido de acompanhar essas festas nada recomendadas, ainda mais na noite de sábado. No domingo teria a Santa Missa, às oito horas. Nenhum católico poderia faltar ao compromisso.

A folia do baile de carnaval transcorria animada pelo salão. Os jovens davam os primeiros pulos, animados com as marchinhas executadas pelo conjunto musical e acompanhados pelas meninas mais avançadas para aquela época. A repressão era muito grande com o sexo feminino. 
Os estudantes dos colégios de Santa Cruz, que retornavam para a casa dos pais nos fins de semana, tomavam a iniciativa. Para eles, o carnaval não era novidade. Lançaram o baile em Trombudo, inédito no interior. 

Nesse baile, até os católicos e os evangélicos confraternizavam juntos, algo inadmissível para as pessoas mais velhas. Era uma heresia. Até aquela data, as quermesses e festas populares eram separadas, cada um para o seu lado. 

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Algo inesperado aconteceu naquela noite, que chocou e deixou apreensivos os católicos: o padre compareceu à festa. Lá estava ele, com aquela batina preta impecável. Subiu numa cadeira, pois do alto poderia vislumbrar melhor o rebanho católico. Anotou os nomes dos frequentadores. Um escândalo! O padre de caderneta em punho, fazendo anotações. O burburinho no salão foi grande. 

Os evangélicos aproveitaram a ocasião para tripudiar seus vizinhos e amigos católicos. O espanto causado pela presença do religioso foi deprimente. Os católicos nunca haviam passado por um vexame tão grande. As beatas teriam assunto para várias semanas. 

O povo tratou de espalhar o lamentável fato acontecido com os paroquianos da Comunidade São José. A repercussão ultrapassou as fronteiras, tanto que ainda hoje estou relatando essa estória.

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As anotações do padre repercutiram. Os católicos não podiam participar de um baile frequentado somente por libertinos e ateus. O castigo seria grande para aqueles hereges! O pecado era grave! 

Na manhã seguinte, na missa das oito, aconteceu o esperado e temido sermão. O padre citou o nome de todos os presentes na festa pagã. Repetiu duas vezes a homilia. Falou na língua alemã e repetiu em português. Irado, afirmou veementemente que todos seriam excomungados da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. 
Vejam o problema que esses fiéis teriam que enfrentar, além da ira daquelas pessoas mais velhas. Que sirva de lição! 

Um morador castigado, muito irado, esbravejava impropérios contra o padre. Enfrentava os 35 km da estrada de chão até Santa Cruz todos os domingos e frequentava as missas da Catedral São João Batista. Pensava com seus botões que na cidade Deus já havia evoluído. 

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Ficou inimigo do padre. Nunca mais forneceu donativos para as quermesses. Esse padreco iria saber com quem estava lidando!

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