A polêmica envolvendo o livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, segue repercutindo em Santa Cruz do Sul – e nacionalmente. Entenda os fatos que marcaram o caso em formato de uma linha do tempo:
A diretora da Escola Ernesto Alves de Oliveira, Janaína Venzon, publicou pela manhã em seu perfil nas redes sociais vídeo no qual criticou o governo federal e considerou “lamentável” o MEC adquirir e enviar às escolas uma obra literária com vocabulário de “tão baixo nível”. Solicitou que o Ministério buscasse os exemplares e afirmou deixar claro que os professores e a escola não escolheram “nenhuma obra literária”, pois elas foram selecionadas pelo governo federal.
“Lamentável um governo federal mandar esse tipo de linguagem para ser trabalhado com adolescentes dentro de uma instituição de ensino. Governo, por favor, deixe as escolas cuidar dos seus estudantes, onde os valores, respeito, a conduta, os bons costumes e a ética prevalece. Vindo ainda de um governo federal, é muito nojento”, diz no vídeo.
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Após a publicação, a 6ª Coordenadoria Regional de Educação, por meio do titular, Luiz Ricardo Pinho de Moura, orientou que o livro fosse retirado das bibliotecas escolares, até segunda ordem.
Em manifestação, a Companhia das Letras compartilhou o documento que comprova que a escola havia escolhido o livro, diferentemente da justificativa apresentada pela diretora. Constava ainda que a decisão precisava da aprovação da própria diretora, que assinou o documento de “ata de escolha”. Afirmou ainda que O Avesso da Pele foi aprovado pelo PNLD 2021 para ser trabalhado no Ensino Médio juntamente com outros 530 títulos.
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À tarde, o MEC manifestou-se em nota e enfatizou que os professores escolhem livros a serem adotados em sala de aula, e não a pasta. Destacou que a obra entrou no PNLD em 2022, durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro.
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Horas depois, Janaína voltou a se manifestar para informar que não fez nenhuma escolha de obras literárias e que a situação será averiguada. Em sua publicação, constou o comprovante citado pela Companhia das Letras, no qual aparece seu nome. Afirmou ainda que a coordenadoria não tem lembrança de ter pedido a obra em 2022. Também afirmou que os professores têm acesso a foto do livro, sinopse e informações.
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Ainda no sábado, 2, a Secretaria Estadual da Educação divulgou uma nota suspendendo a orientação da 6ª CRE de retirar os exemplares do livro das bibliotecas escolares.
Janaína publicou em suas redes uma nota dizendo que nenhum professor recebeu cópia física do livro e, portanto, “não tem acesso ao livro no todo”. Defendeu que não censurou a obra e não questionava a qualidade quanto ao tema da narrativa, e sim os termos que considerou impróprios, os quais não acrescentam “valores éticos”.
A diretora recebe a reportagem da Gazeta do Sul para falar sobre o caso. Inicialmente, assegurou que não sabia como o romance do escritor Jeferson Tenório chegou à instituição. “A escola não fez o pedido deste livro”, garantiu. Afirmou que, em 2021, não havia solicitado obras literárias.
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Horas depois, enviou à reportagem uma ata constando que, no dia 17 de novembro de 2022, professores de literatura da instituição reuniram-se para fazer a escolha das obras literárias a serem adotadas. Consta no documento que a escola recebeu material das editoras para análise. É enfatizado que, para tornar o processo democrático, a opinião dos docentes foi decisiva e a coordenação e a direção da escola contribuíram para que fossem selecionadas as obras literárias mais adequadas à metodologia de ensino e aprendizagem.
As informações presentes nos portais do PNLD e da editora diferem das primeiras afirmações feitas pela diretora da escola, Janaína Venzon. Em publicação realizada nas redes sociais no dia 2 de março, afirmou que os educadores não têm acesso aos livros literários ofertados no site para uma leitura na íntegra. “Os professores têm [acesso] à foto do livro, uma sinopse e informações do objeto de conhecimento. Eles não têm acesso a toda a escrita interna”, escreveu.
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Em outra manifestação, realizada no dia seguinte, voltou a afirmar que o Ministério da Educação (MEC) “mostra a capa e um resumo com os objetos de conhecimento, portanto não tem acesso ao livro”. “Não podemos culpar quem escolheu já que não tiveram a prerrogativa de fazer a leitura”, escreveu.
Inicialmente, Janaína pediu que o Ministério buscasse os mais de 200 exemplares enviados à escola, por considerar o vocabulário de “baixo nível para serem trabalhados com estudantes do Ensino Médio”. “Prezamos pela educação dos nossos estudantes e não pela vulgaridade”, escreveu.
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Mais tarde, afirmou que não se trata de censura. Defendeu ainda que não questionou a qualidade da obra no contexto do racismo estrutural presente na narrativa. Porém, acredita que o conteúdo poderia ser abordado sem usar “termos inapropriados para menores de idade”.
Em entrevista à Gazeta do Sul, no início da semana, a diretora foi questionada se a obra de Tenório poderia ser abordada em sala de aula. Afirmou que é necessário entender que os ”jovens de hoje não são os mesmos jovens do passado” e precisam de “um pouco mais de atenção”. Ainda afirmou que os pais não estão de acordo com esse tipo de vocabulário dentro de uma escola.
A reportagem entrou em contato com a diretora na sexta-feira, 8. Ela explicou que estava impossibilitada de conceder entrevista por problemas de saúde.
Na literatura, é comum encontrar livros com linguagem e vocabulário semelhantes ao de O Avesso da Pele. E alguns deles compõem o acervo da Escola Estadual Ernesto Alves de Oliveira. Conforme comprovante do PNLD 2021, a instituição selecionou os seguintes romances: Capitães da areia, de Jorge Amado; O filho eterno, de Cristovão Tezza; e Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, além das peças de Nelson Rodrigues, conhecido como “o anjo pornográfico”, e os poemas eróticos de Humberto de Campos e Gregório de Matos.
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