O quarto semestre do curso de Biomedicina da cachoeirense Camila Fontoura Guimarães, de 26 anos, está sendo bem diferente. As aulas nas seis disciplinas em que ela se matriculou ocorrem à distância. Além de ser bolsista em um projeto de pesquisa, a jovem integra o time de voluntários que realiza testes rápidos na pesquisa que mede o avanço da pandemia do novo coronavírus no Estado. Em uma parceria entre a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), na qual Camila é aluna, e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), organizadora da pesquisa, ela dedicou o último fim de semana para testar a população no Bairro Bom Jesus, em Santa Cruz do Sul.
No fim de semana, foi realizada a quarta rodada de testes. Os 32 voluntários visitaram 500 residências do município, aplicando testes e coletando informações. “Eu estou aprendendo muito, tirando muitas coisas boas deste momento difícil. A minha missão é tentar ajudar no combate ao vírus e na promoção da saúde das pessoas”, contou.
As lições de medicina e biologia, comuns do currículo teórico de Camila, foram colocadas em prática durante o tempo de pesquisa. No fim de semana que passou, ela visitou 20 moradias localizadas no Bairro Bom Jesus, nas zonas 19 e 20 do levantamento técnico da UFPel. “Em cada uma das rodadas se tinha uma regra. Nesta última, a gente usa o endereço do primeiro teste e conta mais três casas à direita. Nesta residência é que deve ser feito o novo teste”, explicou a estudante.
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A contagem chegou à casa do casal Solange dos Anjos Machado e Heitor Pereira Machado, na Travessa Amazonas. Autorizada por eles, a reportagem da Gazeta do Sul acompanhou a visita. “Eu tenho me cuidado tanto, não vejo a hora de isso acabar. Só saio para a rua para ir ao supermercado e quando é necessário. Estamos com muito medo”, confessou o aposentado. Aos 70 anos e com problemas de diabetes, hipertensão e o coração que, como ele mesmo diz, bate meio acelerado, seu Heitor está dentro do grupo de risco, e teme por isso. “Conosco mora um dos filhos, e ele está respeitando o isolamento. Pois ele sabe que a gente não pode pegar esta doença”, revelou.
Na casa dos Machado, Camila realizou um sorteio. Como o método científico determina, a escolha de quem cede material para coleta precisa ser aleatória. Pelo aplicativo do celular, ela sorteia seu Heitor. “Ainda bem, eu queria muito fazer este teste”, confirmou o aposentado.
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Resultado negativo e o alívio do aposentado
O teste rápido aplicado pela estudante dura 15 minutos. Para fazer a coleta, Camila monta uma bancada. Retira da caixa térmica o material para usar. Higieniza tudo com álcool 70º. Enquanto conversa com o aposentado, diz como é importante manter as medidas de isolamento social e o distanciamento.
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Com uma gota de sangue do dedo, semelhante aos testes de glicose que seu Heitor está acostumado a fazer, é realizado o exame. O aposentado oferece o dedo médio. “O indicador eu tirei sangue para ver a glicose, na quinta-feira, no postinho”, justificou. A jovem perfura com a agulha, limpa a primeira amostra e seleciona a segunda gota.
O reagente que mede a presença dos anticorpos IGG e IGM, que indicam que o novo coronavírus passou pelo corpo do paciente, leva alguns minutos para processar a informação. Enquanto isso, Camila aplica um questionário no aposentado. São feitas perguntas sobre a saúde nas últimas duas semanas, sintomas de uma possível infecção pela Covid-19. “Eu tive um pouco de tosse, como um pigarro, um dia só, nesta última semana”, revelou seu Heitor. A resposta de um indício de tosse faz com que Camila fique mais incisiva nas suas perguntas sobre saúde. Todas as respostas são negativas, assim como o resultado do teste rápido, concluído logo em sequência. “Seu teste deu negativo, seu Heitor. O senhor pode fotografar se quiser, para mostrar para alguém”, complementa a estudante.
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Aliviado, o aposentado agradece mais uma vez. Se o contrário fosse, e o teste dele tivesse sido positivo, dona Solange e o filho que reside com o casal teriam de fazer o exame também. Camila recolhe o material, agradece a participação do casal, e segue para a próxima coleta. Entre sábado e domingo, ela tinha de fazer 20 visitas semelhantes. “Neste bairro, todos são muito receptivos. Dificilmente alguém nega a realização do exame”, complementou Camila.
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Saudade do chimarrão na praça
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Tudo o que o casal visitado por Camila no Bairro Bom Jesus quer é que a pandemia passe logo – desejo compartilhado por toda a população mundial, inclusive. “A gente gosta muito de sair para tomar um chimarrão. Na praça era um bom lugar”, disse dona Solange.
Mãe de sete filhos, avó de 11 netos e dois bisnetos, a família do casal Solange e Heitor é grande, do tamanho da saudade que eles têm de ver a casa cheia. Prestes a ficarem vovôs pela 12ª vez, o casal quer receber os filhos, fazer um churrasco e matarem a saudade uns dos outros.
Respeitando as regras de isolamento, eles primam por ficar em casa, e sozinhos. “Será que demora para passar isso, meu filho?”, questionou Solange. Nem mesmo Camila, que é aluna e faz parte da pesquisa para medir o avanço do novo coronavírus, tem a resposta.
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Saiba mais
Com a testagem do fim de semana, em Santa Cruz do Sul foram coletadas 2 mil amostras para a pesquisa que é feita pela UFPel. Moradores de nove cidades das regiões demográficas do Rio Grande do Sul, segundo classificação do IBGE, participaram da avaliação. Canoas, Caxias do Sul, Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Santa Maria e Uruguaiana, além de Santa Cruz do Sul, participaram da avaliação. Os dados coletados nestas cidades e regiões ajudam o governo do Rio Grande do Sul a pensar as medidas de isolamento controlado.
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