A necessidade do isolamento social para conter o efeito mais devastador da pandemia do novo coronavírus exigiu que todos se isolassem em suas casas. Com salas de aula vazias e ambientes virtuais lotados de tarefas, alunos e professores reinventam o jeito de estudar. Sem avançar no conteúdo, apenas revisitando as primeiras lições do ano, as tarefas feitas em casa passam pela participação dos pais e dedicação de estudantes.
Professores agora chegam por meio de vídeo ao celulares dos pais – que também redescobriram o prazer de acompanhar o aprendizado dos filhos. Sem ter certeza de que terá êxito nessa missão, o Estado se mobiliza para atender os 35 mil alunos das 98 escolas da região, que permanecerão com quadros em branco e carteiras vazias pelo menos até o dia 30 de abril.
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Da necessidade à incerteza: todos tentando aprender
Quando recebeu em mãos o decreto 55.154, de 1º de abril passado, Luiz Ricardo Pinho de Moura, responsável pela 6ª Coordenaria Regional de Educação (CRE), teve que contar com a expertise tecnológica de pais, professores e alunos. Sem ter a autorização para lecionar na modalidade de ensino a distância, o famoso EAD, tampouco com uma ferramenta digital capaz de conectar professores e alunos, as escolas precisaram contar com as soluções caseiras disponíveis.
O quadro verde transformou-se na tela do celular e a lição de casa passou a ser em casa, mesmo. “Nós criamos aulas programadas em cima dos objetos do conhecimento já abordados. Tudo que está sendo feito em casa já foi abordado pelos professores”, explicou Moura. Cada uma das 98 escolas da região criou um plano de ação e mantém apoio aos professores que comandam as turmas por meio de grupos de aplicativos de mensagem, vídeos, blogues ou outras redes sociais.
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O que se está fazendo de tarefa em casa não é conteúdo novo. Será validado como presença em aula, dependendo de o aluno entregar a lição feita ao professor, na volta. Porém, a 6ª CRE ainda não tem certeza de que toda a programação do ano letivo será vencida ao fim da jornada de 2020. “Ainda não sabemos como será essa conclusão. Até mesmo as formas de avaliação do ensino terão que considerar este ano que é totalmente novo para todos nós”, ressaltou o coordenador.
Aulas continuam mesmo onde não há internet
No universo das 98 escolas da região, as realidades são as mais diversas. Dos estabelecimentos conectados da área central de Santa Cruz do Sul às distâncias mais remotas de Boqueirão do Leão, onde o sinal de internet é visita ilustre quando se tem. “As escolas organizam tarefas impressas, ou por meio dos livros didáticos. Onde não se consegue chegar pelo meio digital, foi encontrada uma outra saída”, afirma o coordenador da 6ª CRE.
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Quanto aos professores, que também seguem em processo de formação, o contingente é quase total – mais de 95%, segundo a CRE. “Eles estão se atualizando em legislação, conceitos de educação e aprofundando o conhecimento sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A gente sabe que aqueles que não conseguiram ainda estão com dificuldades tecnológicas”, salienta Moura.
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O prazer de acompanhar os filhos
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O casal Jeferson Peres da Silva e Tizele Machado Pinto encontrou o prazer de tomar a lição dos filhos. João Henrique Pinto Peres da Silva, de 14 anos, e Ana Lívia Pinto Peres da Silva, 8, alunos da Escola Estado de Goiás, de Santa Cruz do Sul, executam as tarefas com os pais. “Aqui em casa optamos pelo estudo no turno da manhã, que é o mesmo horário em que eles estão na escola”, contou o “pai professor” Jeferson.
O chapista e a auxiliar de serviços gerais estão em casa, por causa do isolamento social. No corre-corre do cotidiano, difícil é o dia em que conseguem acompanhar de fio a pavio o tema das crianças. “Agora nós estamos acessando as lembranças do que aprendemos e ajudando eles. A escola está mandando tudo, e o método está de parabéns”, avaliou o pai de João Henrique e Ana Lívia. Na sala de jantar, a família se encontra para fazer as refeições e colocar em dia o estudo, para estar afiada quando o isolamento passar. “Estamos muito felizes por conseguir fazer isso. Estamos mais próximos e junto do aprendizado deles.”
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Receita de bolo
A professora do segundo ano do Ensino Fundamental Claci Santos deparou-se com uma situação jamais imaginada: ensinar a distância 53 pares de olhos curiosos das duas turminhas de segundo ano dela, na Escola Ernesto Alves, de Santa Cruz do Sul. “No começo, eu achei que não daria certo. Depois comecei a fazer vídeos e está sendo ótimo. Eles assistem, mandam vídeos de suas casas, fotos, está sendo muito bom”, explicou.
Claci queria trabalhar com gênero textual, interpretação de texto, noção de quantidade e os sentidos. Como fazer isso? Com uma receita de bolo de cenoura. “Uma das mães de aluno me disse que nunca tinha feito bolo em casa e, com a minha receita, ele ficou delicioso.” O bolo de cenoura de Claci ensina na prática o que os livros didáticos da sala trazem e mostra que a educação deverá trilhar por novos caminhos.
No pós-isolamento, ela avalia manter tarefas em vídeo para envolver pais e filhos em um movimento de redescoberta da educação. “Estamos reinventando o método de ensinar na parceria com as famílias. Eu percebo que meus alunos estão motivados e isso é gratificante”, destacou a professora. No Portal Gaz, a “lição” do bolo de cenoura está disponível para quem quiser ampliar os conhecimentos, ou simplesmente adoçar o fim de semana.
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Em Rio Pardo, ensino é virtual
No Instituto Estadual de Educação Ernesto Alves (IEEEA), que fica no Centro de Rio Pardo e tem mais de mil alunos entre Ensino Médio (manhã e noite), Ensino Fundamental I (manhã e tarde), Ensino Fundamental II (tarde) e Curso Normal (Ensino Médio Curso Normal e o Curso Normal Aproveitamento de Estudos), manhã e noite, a realidade nas aulas programadas é estudar conectado.
A professora Carla Pinho conta como as tarefas de sala de aula estão sendo desenvolvidas nesse período. “Foi acordado, em reunião com os professores, a utilização do WhatsApp por ser um recurso disponível a todos. Tanto para os professores como para os alunos. Eu trabalho especificamente com o Curso Normal e decidi associar o uso desse aplicativo com algumas possibilidades digitais. Então escolhi utilizar o Google ClassRoom, que é uma sala virtual, e o Google Sites para desenvolver e planejar minhas aulas programadas”, revela.
A equipe da escola, formada pela diretora Marla Kroth, coordenador pedagógico Alex Sandro Haas Pimentel e supervisores escolares Assis Pedroso Souza e Carla Maria Pinho da Rosa, escolheu o WhatsApp pelo número de recursos disponíveis. O aplicativo permite o envio de arquivos de texto Word, vídeos, imagens, links e muitos outros recursos que estão disponíveis na internet de forma gratuita. Mais do que permitir a comunicação através de digitação em ambiente específico, ele oportuniza interação com chamada de áudio e vídeo e pode ser usado ainda no computador pelo WhatsApp Web. Algumas turmas criaram grupos para que professores possam enviar as atividades.
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Programadas
Seja por mensagens de WhatsApp ou Facebook, compartilhamento de arquivos de áudio e vídeo, por e-mail, por salas virtuais através do Google, ou até mesmo pela entrega de materiais didáticos nas áreas rurais do Estado, as Aulas Programadas são disponibilizadas de modo que todos tenham acesso.
“Nós tivemos uma preocupação em não caracterizar este momento como um período de férias. É um momento de cuidado e conscientização, mas também uma oportunidade de desenvolver a criatividade. Tanto para os professores, por meio do teletrabalho e da formação continuada disponível no Portal da Educação, como para os alunos, que terão uma infinidade de conteúdos físicos e digitais para explorar seu conhecimento”, ressalta o secretário estadual da Educação, Faisal Karam.
Previamente elaboradas com base em conhecimentos já abordados em sala, as aulas programadas devem ser cumpridas pelos estudantes e respectivos professores. A entrega das atividades dos alunos ocorrerá após o retorno das aulas.
Participou dessa reportagem o repórter Rodrigo Nascimento.
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