Na próxima sexta-feira a nossa caçula, Ágatha, fará aniversário e, nas últimas semanas, praticamente não fala em outra coisa: compartilha planos para a comemoração, elenca quitutes que não podem faltar à mesa no dia, divaga sobre a importância de se completar 8 anos. Claro, ela sabe que, por força da pandemia, não poderá chamar as amiguinhas para uma festa. Por isso, foca nas atrações a serem disponibilizadas ao pessoal de casa, considerando que, mesmo sem visitas, já formamos bom público.
Para tanto, fez circular entre nós, pais, as duas irmãs e o irmão, um relatório escrito à mão em folha ofício, ricamente adornado com ilustrações alusivas à data, onde elenca as atrações que haverá na ocasião: jogos, dança da cadeira, balões coloridos, música, danças diversas, diversão e… parabéns. A lista aparece entre desenhos de balões, flores e estrelinhas, de brigadeiros, sorvetes e cupcakes. Claro, também há desenhos de embrulhos de presente e, sobretudo, de um imenso bolo de três andares, sobre o qual há uma grande vela.
O “parabéns”, último item da lista de atrações, está escrito em letras garrafais, bem maior que as demais palavras. Certamente é uma sutil (ou nem tão sutil) referência ao fato de que, se haverá festa, é porque há alguém de parabéns e esse alguém, obviamente, espera que seus convivas desejem-lhe os parabéns.
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Mas há um outro item, citado no meio da lista, que deixou-me preocupado: doses. – Como assim, doses? – perguntei à Patrícia. – É uma festa de criança, para ela e os irmãos, portanto, sem bebidas com álcool… ela está pensando em servir doses do quê?
– Não é doses – esclareceu minha esposa. – É doces. Ela só confundiu-se, trocou o “c” pelo “s”…
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Para não correr o risco de perder-se nas datas, evitando a tragédia de fazer com que seu aniversário passe em branco em meio às ansiedades e percalços da pandemia, Ágatha também elaborou um avançado sistema de contagem regressiva. Confeccionou uma espécie de calendário com papel picotado, do qual, diariamente, remove uma folha. Cada folha que sai dá lugar a outra, que indica quantos dias faltam para o aniversário. Antes de ser descartada, a folha removida é solenemente exibida aos demais integrantes da família.
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– Não esqueçam – alerta a caçula, a cada vez. – Faltam “tantos” dias para o meu aniversário.
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Aqui em casa, Ágatha será a terceira a fazer aniversário durante a pandemia, mas a primeira entre as gurias. Certamente é algo que ficará registrado em sua memória e que compartilhará com as futuras gerações:
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– O aniversário de 8 anos da vovó foi bem na pandemia do coronavírus – talvez relate aos netos, se os tiver, ou a sobrinhos, daqui a muitas décadas. – Lembro que foi um período bem chato. Não podíamos receber ou fazer visitas, nem passear nos parques ou ver as amiguinhas.
Mas, então, abrirá um grande sorriso para a plateia formada por crianças, sentadas ao redor de sua cadeira de balanço.
– Mas logo depois veio a vacina, a doença foi vencida e tudo voltou ao normal. – Vovó Ágatha, conte uma coisa – pedirá então um dos netos ou sobrinhos-netos, um garotinho de grande perspicácia, certamente herdada (segundo dirão os parentes) de certo bisavô, que fora colunista da Gazeta e era também muito modesto. – Então não houve festinha?
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– Ah, houve uma festinha só entre o pessoal lá de casa – responderá a simpática vovó. – Aliás… foi uma festinha mágica. O tema foi contos de fadas e por toda a parte havia vários personagens fantásticos, como fadas e sereias, feitos em EVA pela minha irmã, a tia Yasmin. Ela só tinha 9 anos na época, mas já era uma artista muito habilidosa e preocupada em sempre abrilhantar os aniversários lá em casa, principalmente naquela época de pandemia, quando não dava para convidar visitas. Então, muitos dias antes do meu aniversário, a Yasmin, meus outros irmãos, o papai e a mamãe começaram a preparar uma surpresa, que foi…
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Opa, opa, opa. A Ágatha do futuro está falando demais, está revelando coisas que a Ágatha do presente ainda não pode saber. É hora, portanto, de parar por aqui. O que posso adiantar é que desejamos para a caçula, em seu aniversário, um dia mágico, fantástico, como, aliás, devem ser todos os dias de todas as crianças, aniversariantes ou não, seja em meio à pandemia, seja depois que ela passar.
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