Tradicionalmente, setembro é marcado pelas manifestações de amor e respeito pela Pátria, em comemoração à Independência do Brasil, no dia 7. A bandeira nacional é hasteada para a hora cívica e estudantes, militares e integrantes de entidades saem às ruas para demonstrar a civilidade do povo brasileiro e a adoração pelo País retratada no Hino Nacional. Porém, fora da Semana da Pátria, os símbolos nacionais costumam ser lembrados em poucas ocasiões, como em eventos municipais ou esportivos. Em uma época onde cada um luta pela sua própria bandeira, ao mesmo tempo em que é bombardeado por uma avalanche de notícias sobre escândalos e corrupção, o sentimento de amor ao Brasil parece ter entrado em crise – assim como a economia e a política.
Mas, para o professor do curso de História da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), José Antonio Moraes do Nascimento, o patriotismo deve se sobrepor à decepção causada pelos escândalos. Segundo ele, patriotismo é um sentimento de pertencimento, de respeito e de entrega à nação. “É agir na defesa do interesse da maioria da população deste País. É defender o Estado de Direito e a Democracia, que representa a vontade da maioria”, define.
A demonstração, portanto, vai além do respeito aos símbolos nacionais. “Demonstra-se muito mais através da luta pelo País, da defesa das riquezas e dos bens dele e pelo efetivo combate à corrupção, usando os mesmos pesos e medidas para todos os cidadãos. Não basta respeitar os símbolos se, juntamente com isso, não vier o respeito para com a maioria dos cidadãos brasileiros”, afirma. Nascimento observa que, embora as pessoas continuem valorizando o Brasil, os recentes escândalos políticos abalaram a esperança do povo.
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Maria Gabriela de Almeida ainda é estudante, no 8º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor José Ferrugem, mas defende um ponto de vista semelhante ao do professor universitário. Aos 13 anos, acredita que exerce seu papel como patriota fazendo o bem. “Busco respeitar os outros, não julgar. Tento ser uma pessoa boa”, diz. “A situação política deixou o Brasil malvisto, dentro e fora dele. Mas, apesar das dificuldades, ele não é um País simples, tem suas partes boas, é rico em belezas naturais.”
Alunos mais conscientes e críticos
Maria Gabriela é integrante do Projeto Cidadania, criado na Escola José Ferrugem neste ano, pela professora de História Carla Garibaldi. O objetivo da iniciativa é estimular que os estudantes se informem sobre o que acontece no País e desenvolvam o senso crítico. Desde março, em todas segundas-feiras os alunos se reúnem no pátio, cantam o Hino e, depois, uma dupla apresenta um notícia da semana e opina sobre ela. “É uma forma de torná-los cidadãos mais conscientes”, explica Carla. “O Brasil é um País maravilhoso, não tem desastres naturais. O problema são as pessoas que estão nele. Digo para os alunos que eles são o futuro do Brasil, precisam ser melhores e tornar isso aqui melhor. Penso que talvez a nossa geração não tenha sido tão bem trabalhada para isso.”
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Outras escolas de Santa Cruz também têm em comum o sentimento do dever de formar cidadãos críticos. Segundo a diretora da Escola Educar-se, Valderez Kern, nesta semana, além da hora cívica, os alunos participam de atividades voltadas ao conhecimento geral, como reforma política e cobrança de impostos. “A ideia é fazer com que tenham caráter crítico e saibam diferenciar o amor pela Pátria e o que está acontecendo no Brasil”, argumenta. Para ela, apesar de os acontecimentos serem negativos, não podem causar desesperança nos jovens. “Eles precisam entender que não podem ser apolíticos, devem participar da política para que pessoas boas sejam colocadas lá”, defende.
O Colégio Mauá também se mobiliza na Semana da Pátria. Enquanto as séries iniciais trabalham a adoração à pátria e desenvolvem apresentações artísticas, a partir do 5º ano os alunos discutem temas voltados à cidadania. “Tentamos mostrar para eles que patriotismo é o amor à Pátria, cuidado com o espaço onde vivem, o respeito com os outros e com os símbolos”, comenta o diretor Nestor Raschen.
Gabriel é hoje o maestro da banda marcial da Escola Santa Cruz. Foto: Rodrigo Assmann.
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Desfile resgata tradição e civismo
Amanhã, pela sétima vez, Kevin Gabriel da Silva de Oliveira, de 19 anos, vai marchar com a banda marcial da Escola Estadual Santa Cruz. O jovem entrou no grupo no primeiro ano de atividade e hoje é o maestro da banda, composta por 42 alunos. A participação dele no desfile cívico é uma das formas de demonstração do patriotismo que ainda sobrevive a tantos desgastes. Por lá, os estudantes mantêm o interesse de levar para a rua o sentimento de orgulho, mesmo em meio à crise.
Segundo a diretora Lecir Teresinha Tomazi, neste ano, dos cerca de 1,2 mil alunos, em torno de 400 vão participar do desfile – o dobro em relação a 2011, por exemplo. “Ninguém é forçado a estar lá. Só têm que ter disciplina. Procuramos demonstrar o patriotismo em si porque ele foi esquecido. Patriotismo não é só futebol. É também civilidade, disciplina, valores e respeito tanto à Pátria quanto ao próximo, independente da modinha”, diz a professora.
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Para incentivar a participação das escolas municipais, a Prefeitura oferece transporte ao desfile. “Tentamos sensibilizar as escolas para que voltassem a participar e, desta vez, contaremos com 90% delas”, comenta a secretária de Educação, Jaqueline Marques. “O desfile é o momento principal, mas também estimulamos os estudantes a participarem do concurso de desenhos da Semana da Pátria”, lembra.
Coordenadora da Comissão da Semana da Pátria, Lisandra Faccin ressalta que o desfile é uma oportunidade para que a comunidade conheça os trabalhos feitos pelos programas sociais e entidades, e para que as escolas façam um resgate histórico. “A pátria está além da política. Se os adultos não mostrarem isso, quem vai mostrar? Estamos carentes de referências de amor e respeito pelo País. Se as nossas crianças ficarem descrentes, o que será do Brasil daqui a alguns anos?”
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