A noite de 6 de março de 2014 jamais sairá da lembrança do radialista Ênio Giovanella, que durante muitos anos embalou festas e programas de rádio da região. Naquela ocasião, o ex-locutor da Rádio Gazeta sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que quase lhe tirou a vida. Morando sozinho no Bairro Senai, ficou cerca de 36 horas desacordado até ser encontrado pelo filho mais novo, Ênio Giovanella Jr. Após um mês internado, sendo 14 dias na Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) do Hospital Santa Cruz, ele voltou para casa. Apenas dois meses depois, teve outro episódio de AVC. Foram mais duas semanas hospitalizado, e mais oito dias na UTI.
“Foram uns cem dias de hospital”, lembra Giovanella, referindo-se a sua longa recuperação desde o primeiro episódio. O acidente que lhe tirou a força na voz abreviou uma carreira de quase 30 anos de sucesso nas rádios e também como DJ em discotecas de Santa Cruz do Sul. Nove anos após o problema de saúde, aos 66 anos, o ex-locutor e agora motorista de aplicativo comemora novas marcas na carreira e mostra a mesma vitalidade e alegria de sempre.
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“Já levei 4 mil passageiros para casa. Acho que estou bom”, comenta animado, a bordo de seu Toyota Prius híbrido que usa para trabalhar no aplicativo 99Táxi. “Ninguém me dizia para ir trabalhar. Me diziam para ir para cama descansar. Mas é bom isso aqui”, atesta o agora motorista.
Apesar da dificuldade na fala, que o impede de reassumir os microfones e a profissão que tanto amava, Ênio leva a vida com bom humor e se diverte com seus passageiros. Ele considera o trabalho fundamental para continuar progredindo contra as consequências do AVC. Muitos de seus passageiros acabam reconhecendo o “amigão das tardes”, apelido que o acompanhou com a apresentação do programa Show da Tarde, na Rádio Gazeta. Alguns até aproveitam para bater papo e tirar fotos com o radialista aposentado, que marcou época em Santa Cruz do Sul e região.
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Atualmente, a família celebra a franca reabilitação da doença que quase custou a vida do radialista que conquistou uma legião de fãs em seus programas. Mas a filha Dayane, de 38 anos, recorda que seu cotidiano mudou completamente desde o momento em que ela foi avisada sobre a doença do pai.
Foram dois meses de internação, e mais um mês até um segundo AVC que deixou sequelas graves, como a dificuldade na movimentação e na fala. “Lembro que foi muito difícil, tanto para mim quanto pra ele. Trocar fraldas, cuidar de traqueostomia, fazer coisas que nunca me imaginei fazendo, pois tinha medo até de entrar em um hospital. Naquele momento tive que ser muito forte e fazer, e foi o que aconteceu. Deus dá forças para a gente nos piores momentos. As coisas foram acontecendo e eu tinha que fazer, pois não havia outra escolha.”
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Dayane chegou a largar a faculdade e se mudar para a casa do pai para oferecer os cuidados que a recuperação de um AVC necessita. A mãe de Dayane e ex-esposa de Ênio, Marta, em virtude da amizade que manteve com ele, também participou dos cuidados. “Hoje ele está bem, graças a Deus, e vive a vida dele como antes, independente e feliz. Mesmo aposentado optou em ter um trabalho para se distrair, ver pessoas e voltar a ter uma rotina. Claro que não é o mesmo Giovanella, mas eu também não sou mais a mesma Dayane, aprendemos muito um com o outro”, ressalta a filha.
Ênio Giovanella iniciou sua carreira como locutor de rádio em 1985. Por causa do amigo Sergio Tadeu, conseguiu apresentar um programa na Rádio Santa Cruz. Mas o início não foi fácil, conta o radialista. “O Sergio Tadeu era técnico de som lá e me disse: ‘Por que tu não vai na rádio fazer teste?’. Eu disse que não. Ele me falou: ‘Vai lá, meu pai é o diretor’. Fiz o teste e me disseram: ‘Esse aí não, ele é muito cabeludo’. Eu tinha muito cabelo na época”, diverte-se ao relatar a situação que por pouco não o impediu de começar na profissão.
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Ênio acabou trabalhando no rádio por insistência de Sergio, que mesmo com a negativa em virtude da vasta melena, fez pressão para que a direção da empresa aceitasse o amigo. Este acabou conseguindo um programa de meia hora na rádio.
“Fiquei um ano trabalhando de graça, até que começaram a pagar um salário mínimo.” Cinco anos depois, Giovanella iniciava sua carreira na Rádio Gazeta, onde liderava a audiência com o Show da Tarde. Na época, a programação tinha até um quadro de amor, recorda. “Se o cara não tinha namorada, mandava carta e apareciam dez meninas bonitas. As pessoas mandavam muitas cartas. Eu fazia uma programação romântica também. Era sucesso. Os homens se ofereciam no rádio, e as gurias mandavam cartas com fotos.”
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O locutor trabalhou depois na Rádio Triângulo, em Candelária, e acabou voltando para a Gazeta, onde ficou até sofrer o AVC em 2014. Na época de sua primeira passagem pela Gazeta, nos anos 80, Giovanella também tinha sua danceteria, a Center Clube Santa Cruz, na 28 de Setembro, próximo ao entroncamento com a BR-471, que funcionou até meados de 1996.
Ele lembra da primeira vez que comandou uma festa como DJ, no extinto Clube Operário. “Eu tinha duas caixas de som e um gravador. Eu falava no microfone: ‘vamos dançar’ e colocava o microfone na frente do gravador.” Nas festas que fez por Santa Cruz, Giovanella teve sucesso em trazer grandes nomes da música para se apresentar na cidade, como a cantora paraguaia Perla e o inesquecível Sidney Magal, que tocou na Sociedade Ginástica. “Que show que ele fez lá! Foi em 1984”, recorda.
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