Em 1974, o “rei” Roberto Carlos pareceu prever o fenômeno das redes sociais ao gravar a música “Eu quero apenas”, mais conhecida por “Um milhão de amigos”. Lembra a letra? “Eu quero apenas cantar meu canto, eu só não quero cantar sozinho (…), eu quero ter um milhão de amigos (…)”.
O que explica a popularidade das redes? Entretenimento, curiosidade, solidão? Um inevitável desejo humano de dizer ao mundo “eu existo, sou feliz, bem-sucedido e tenho amigos”?
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E que usufrui de cardápios gourmet, que viaja, que faz compras abundantes, etc…? Afinal, ninguém posta fotos e comentários sobre seus momentos de tristezas e frustrações.
Não à toa, pesquisas e testes realizados por neurocientistas confirmam que falar de si, se gabar, se expor voluntariamente gera sensações de recompensas cerebrais. Que “navegar” nas redes sociais aumenta os níveis de narcisismo e autoestima.
O conjunto de ações e reações nas/das redes sociais será simplesmente um retrato anárquico de um mundo em acelerado e errante ritmo e competição?
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Ou será uma reveladora percepção e compreensão, ainda que inconsciente, de temor da própria inutilidade, esquecimento e descarte social?
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E com tanta exposição, superficialidade e irrealismo, o que restará de verdadeiro, importante, valioso e suficiente para provocar no outro descobertas e encantamento com nossas “personas”?
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Como explicar e valorar tantas postagens fúteis e irrelevantes? Algumas, inclusive, íntimas e particulares, assumindo riscos tocante à integridade pessoal e familiar, ignorando os alertas dos especialistas em segurança virtual?
Logo, quais são os limites entre a razoabilidade e o exagero? Entre a cautela e a imprudência? Afinal, os oportunistas e os perturbados cibernéticos estão presentes e em rede, preparados e animados para atormentar, chantagear e fraudar. Digital e fisicamente. E matar, a exemplo dos psicopatas de ocasião.
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O assunto é inesgotável e se presta às mais variadas análises e conclusões. Simplificando, seria um retrato e um extrato do humano? Aliás, o que veio antes: a rede social ou a condição humana?
E nem falei em infelicidade, em inveja, em rancores, em frustrações, em baixa autoestima, típicos sentimentos que afligem uns mais, outros menos, porém, às vezes tragicamente, como que à beira de um abismo existencial.
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