Buscar ajuda por telefone se tornou inteiramente de graça. A partir desse domingo, 1º, o número do Centro de Valorização da Vida (CVV), o 188, está disponível em todo o território nacional graças a uma parceria com o Ministério da Saúde. A entidade também oferece atendimentos presenciais, por chat e por e-mail. Desde 2017, o telefone já era acessível a 23 estados brasileiros. As exceções eram Bahia, Maranhão, Pará e Paraná.
O CVV é dedicado a escutar qualquer pessoa que esteja passando por dificuldades, funcionando como uma linha de prevenção ao suicídio. Em 2017, o centro recebeu cerca de 2 milhões de ligações. Neste ano, espera ultrapassar 2,5 milhões.
Segundo Félix Flor, servidor público e voluntário há quatro anos, as pessoas procuram a instituição porque precisam desabafar e contar histórias que, muitas vezes, amigos e familiares não querem mais ouvir.
“Imagina a caminhada que essa pessoa já deve ter feito para pegar o telefone e falar sobre suas angústias para uma pessoa que ela não conhece”, diz Antônio Batista, voluntário há 18 anos. “Falar do seu íntimo não é uma coisa tão simples.”
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O suicídio, segundo Esther Hwang, psicóloga e pesquisadora da USP, é uma questão de saúde pública. “É reflexo de uma sociedade doente, e não necessariamente de uma pessoa doente”, diz. Segundo o Ministério da Saúde, todos os dias cerca de 30 pessoas tiram a própria vida no Brasil.
Para os voluntários do CVV, o suicídio, em si, é uma ação impulsiva, mas há um processo por trás do ato: isolamento, desistência de hobbies, falta de contato com a família e amigos podem ser interpretados como sinais. Depressão e abuso de álcool e drogas também exigem atenção.
“Se a pessoa diz que vai embora, que quer sumir, que um dia vai acabar com tudo, é preciso ficar atento”, diz Elaine Macedo, gestora institucional e voluntária há 23 anos. Segundo a Organização mundial da Saúde (OMS), os idosos correspondem à faixa etária de maior risco para o suicídio. No Brasil, a taxa de mortalidade entre pessoas com mais de 70 anos chegou a 8,9 a cada 100 mil habitantes entre 2011 e 2015.
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Todos os voluntários aconselham a mesma coisa: o idoso precisa sentir que é importante para alguém, mesmo que esse alguém lhe dê apenas um “boa noite”. O índice de suicídio também é alto entre os mais jovens: é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos no Brasil.
Dentre os adolescentes que contatam o CVV, muitos expõem histórias de conflitos com os pais, amigos e preocupações com a escola. Já os jovens adultos relatam o medo de não conseguir um emprego, falam sobre relacionamentos complicados e sobre sua própria solidão.
“Os dias da semana também influenciam nas ligações”, diz a voluntária Elaine. “A noite de sexta-feira, quando o jovem ‘deveria’ ir pra balada, mas se sente sozinho, é diferente de uma noite de um domingo, quando as pessoas estão preocupadas com questões relacionadas ao emprego”, diz. De acordo com a OMS, 90% dos casos de suicídio no mundo poderiam ser prevenidos.
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