De janeiro até esta segunda-feira, 4, 15 pessoas foram assassinadas em Santa Cruz do Sul. O número, embora preocupe, é 44% mais baixo em relação ao mesmo período do ano passado, quando 27 pessoas foram mortas até novembro. Os delegados responsáveis por investigar esses crimes, Alessander Zucuni Garcia e Ana Luísa Aita Pippi, apontam a transferência de líderes do tráfico de drogas para presídios federais e o trabalho de investigação da Polícia Civil, que resultou em diversas prisões ao longo do ano, como alguns dos fatores que contribuíram para essa queda.
“Geralmente os homicídios no município estão relacionados ao tráfico. Um fator que contribuiu foi o envio de quem coordenava a traficância para presídios federais, como foi o caso do Chapolin. Esse isolamento certamente refletiu na diminuição nesses números”, comentou Garcia, que comanda a 2ª Delegacia de Polícia, responsável por elucidar os crimes ocorridos na Zona Sul.
Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, é apontado como um dos líderes da facção Os Manos, criada no Vale dos Sinos. Ele seria um dos responsáveis pelo avanço da facção para o Vale do Rio Pardo e desde 2012 comanda o tráfico na região. Por causa disso, segundo a polícia, seria um dos mandantes de boa parte das mortes vinculadas ao tráfico ocorridas em Santa Cruz, mesmo detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Em agosto do ano passado, ele foi transferido para um presídio federal no Rio Grande do Norte, onde segue cumprindo pena de 86 anos por assalto, latrocínio e tráfico de drogas. Em um áudio que circulou pelo WhatsApp às vésperas da transferência, ele exigia fidelidade de comparsas e ameaçava de morte tanto quem o traísse quanto familiares.
Publicidade
Segundo Garcia, uma das operações em nível local que contribuiu para a redução dos homicídios foi realizada pela 2ª DP em setembro deste ano e tirou das ruas seis pessoas envolvidas em execuções relacionadas ao tráfico. A investigação teve início após duas tentativas de homicídio no Bairro Santa Vitória, em setembro. Os suspeitos, dos quais quatro foram detidos mediante mandado judicial e dois em flagrante, eram integrantes dos Manos. A ação foi batizada de Parvum Malum (Pequeno Malvado), em alusão a um sétimo investigado, Marcelo do Carmo, conhecido por Marcelinho ou Pequeno.
De acordo com o delegado, ele já estava preso e foi notificado por ser o mandante de um dos assassinatos investigados. Junto com outros criminosos, Marcelinho seria um dos líderes na prática de crimes vinculados ao tráfico de drogas e já foi condenado em outros casos. “O grupo preso era ligado a ele e certamente estava na iminência de cometer novos homicídios. Além de tirar das ruas esses indivíduos, a operação trouxe um efeito de repressão, porque os criminosos percebem que as investigações estão sendo exitosas e passam a temer futuras condenações.”
Investigação prendeu outros dois
A delegada Ana Luísa Aita Pippi, que investiga os crimes ocorridos na Zona Norte de Santa Cruz, também aponta a transferência de presos, como Chapolin, e o trabalho da Polícia Civil como fatores que contribuem para a queda dos homicídios. “O combate à criminalidade pela polícia judiciária é um dos motivos, assim como o cerco ao tráfico de drogas e as investigações sobre os homicídios, que tiram das ruas os executores. As investigações policiais voltadas a punir quem comete tais crimes também acabam inibindo ações por parte dos executores.”
Publicidade
Dos crimes investigados pela equipe da 1a DP, a delegada ressalta as mortes de dois irmãos, Denian Marcel de Oliveira (em agosto do ano passado) e Kevi Luan de Oliveira (em março deste ano), ambos assassinados a tiros no Bairro Várzea. A Polícia Civil conseguiu prender os suspeitos dessas execuções. A primeira prisão foi efetuada um mês após a morte de Denian, quando uma ação integrada entre a 1ª e a 2ª DP deteve quatro pessoas. Já a segunda aconteceu em setembro deste ano. Em ambos os homicídios, Marcelinho teria sido o mandante.
Redução
30 pessoas foram mortas em Santa Cruz em 2018
27 assassinatos ocorreram entre janeiro e novembro
7 mortes foram em outubro, o mês mais violento do ano passado
15 pessoas foram assassinadas neste ano, de janeiro até ontem
0 homicídios foram registrados em agosto e outubro
13 envolvidos em homicídios foram presos pela Polícia Civil desde setembro de 2018
Casos
Janeiro
Dia 20 – Jeferson Rodrigues Mantz, 18 anos. Morto a tiros por volta das 19 horas de sábado no pátio do Centro Social Urbano, na Rua Dona Carlota, Bairro Faxinal, próximo ao presídio. Teria levado pelo menos três tiros: um na perna, outro nas costas e um no rosto. O caso continua em investigação.
Dia 26 – Bruno Moisés Lemos Ribeiro, 19 anos. Foi atingido por disparos na Rua Davi Severo Mânica, no Bairro Dona Carlota, por volta de 1h30. Caso em investigação.
Publicidade
Março
Dia 4 – Kevi Luan de Oliveira, 20 anos. Morto por disparo de arma de fogo na Rua Irmão Emílio, no Bairro Várzea. Um suspeito de 22 anos, morador do Bairro Santa Vitória, foi preso preventivamente após investigação da 1a DP. A motivação do crime estava ligada ao tráfico de drogas.
Dia 11 – Jairo Bitencourte Pereira, 48 anos. Baleado na frente de casa na Rua Dois, no Bairro Progresso. Morreu no hospital dois dias depois. Investigação em andamento.
Dia 12 – Carlos Gilberto Brinker, 48 anos. Encontrado morto na antiga sede da Apae, na RSC-287, no dia 17. O caso foi investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) como latrocínio, e três pessoas foram indiciadas pela morte.
Abril
Dia 18 – Leonardo Soares da Silveira, 23 anos. Morto a tiros em um bar na Rua Professora Alice Simões Pires, no Bairro Santa Vitória. Em investigação.
Dia 26 – Jandir Rodrigues da Silva, 44 anos. Baleado na cozinha de casa na Rua Erva Mate, no Residencial Viver Bem. Em investigação.
LEIA MAIS: RS tem queda de 40% em casos de homicídios em agosto
Publicidade
Maio
Dia 10 – Evaldo Müller, 80 anos. Foi encontrado ferido dentro de um carro, na garagem da própria padaria, na Avenida Euclydes Kliemann, no Bairro Arroio Grande. O processo sobre o caso já foi remetido ao Judiciário.
Dia 13 – Jeferson Rodrigo dos Santos, o Neni, 27 anos. Foi alvejado com quatro disparos de revólver calibre 38 no rosto e no pescoço, na Rua Madre Teresa de Calcutá, no Bairro Santa Vitória. Em investigação.
Dia 25 – Cristiano da Silva, 31 anos. Morto a tiros por volta das 20h40 na Rua João Pedro Koelzer, no Bairro Rauber. Segundo a Brigada Militar, quando a guarnição chegou ao local, o rapaz já estava morto, a poucos metros à frente do portão de casa. O homicídio segue em investigação.
Junho
Dia 1º – Cleber Luiz dos Santos, 46 anos. Encontrado morto com uma pedra sobre a cabeça no Bairro Dona Carlota. Quatro pessoas foram indiciadas pela 2ª DP e respondem em liberdade. Uma briga teria dado inicio às agressões que levaram à morte da vítima.
Dia 18 – Adolescente morto a tiros no Bairro Santa Vitória, quando fugia pelo telhado de residências. Teria sido executado. O nome não foi divulgado. Em investigação.
Dia 19 – Vanderlei Nunes, 38 anos. Morto a tiros enquanto caminhava pela Rua Irmão Willibaldo, no Bairro Margarida. Em investigação.
Julho
Dia 3 – Jean Pereira Gonçalves, 28 anos. Assassinado com tiros no rosto na Rua Capitão Fernando Tatsch, no Centro, por volta das 23h40. Em investigação.
Publicidade
Setembro
Dia 23 – Tiago Aliandro Kohlrausch, 30 anos. Morto com dez tiros na garagem de casa, no Bairro Motocross. Um advogado, padrasto do filho da vítima, foi preso na última sexta-feira pela 2ª DP, suspeito de ser o mandante. No mesmo dia, um tio-avô da criança também foi detido por posse de duas armas no Bairro Santo Antônio. O carro usado no crime era dele na época.
LEIA MAIS: Assassinato no Motocross teria sido para afastar pai e filho
This website uses cookies.