A ida ao litoral é um ritual de décadas mantido com fidelidade pelos gaúchos. Basta a temperatura subir ou chegar o feriado do Dia de Finados para que muitos já sintam “o cheiro de mar”, definição típica dos “praianos”. Apesar da assumida paixão, somos amantes ingratos com aquela nesga de terra que margeia o Oceano Atlântico.
Ao longo de três meses, as atenções estão voltadas para nossas praias, mas há críticas em profusão. Mar chocolatão, banho de areia graças ao Nordestão, mãe d’água quando a água finalmente fica azul e preços que se assemelham a um assalto são termos incorporados ao folclore.
De março a novembro, a lembrança com os conterrâneos do litoral beira o zero. Ninguém está preocupado com a falta de investimentos para aplacar o desemprego e as péssimas condições de infraestrutura – água potável, saneamento e transporte coletivo.
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Mas basta calçar as havaianas para que fiquemos exigentes. Coleta de lixo deficiente, capim cobrindo calçada, ruas esburacadas e falta de atendimento de saúde são queixas reincidentes.
Nos dois últimos finais de semana, estive em Capão Novo, praia que é distrito de Capão da Canoa. Foi concebida sob inspiração dos balneários paradisíacos de Miami, nos Estados Unidos. Acompanhei o lançamento imobiliário como repórter do jornal Zero Hora. Era uma joia de praia! Todas as ruas tinham nomes de flores, árvores e pássaros. Tudo era limpo, organizado e bonito. Havia casas, apartamentos e estúdios.
À beira-mar existia o chamado “palcão”, onde havia atividades para a terceira idade pela manhã e para a gurizada à tarde. À noite, shows e apresentações artísticas. No período de folia, havia Carnaval todas as noites e festança infantil de tarde. Mas, depois que o balneário passou à administração da Prefeitura de Capão da Canoa, a decadência foi flagrante.
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A paisagem é desoladora. A quantidade de cães que perambulam pela cidade e de entulho jogado nas ruas, somada à falta de capina, é uma vergonha. O valão que cortava a Rua Dálias (onde ficamos hospedados) é um criatório de mosquitos com lixo e mato abundantes. As ruas de paralelepípedos primam pela quantidade de buracos e desníveis.
A notícia boa é a revitalização da beira-mar. Caminhando à noite pela orla, vislumbrei que são ministradas aulas de tênis e há alguns bares, além de outras obras. Capão Novo possui uma orla bonita, mas sofre do mesmo mal de todos os balneários gaúchos: o desinteresse dos responsáveis para garantir uma vida digna a essa população ao longo dos 12 meses do ano.
Seria humano da nossa parte, veranistas, adotar um olhar solidário com nossos conterrâneos do litoral e reivindicar tratamento igualitário à região que tanto prazer e alegrias gera nos meses de calor.
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