A ameaça do coronavírus leva a maioria das pessoas a ficarem em quarentena. Mas no meio rural a natureza segue seus ciclos, e, com eles, tarefas precisam ser executadas. No Vale do Rio Pardo, enquanto produtores que se dedicam ao cultivo de tabaco ainda estão envolvidos na preparação das folhas do ciclo 2019/20 para comercialização, uma nova safra começa a tomar forma. É o que ocorre na propriedade da família Câmara, em Linha Antão, a 15 quilômetros da cidade de Santa Cruz do Sul, ao lado da rodovia que liga a Monte Alverne.
Com a chegada do outono, é inadiável providenciar a semeadura nas bandejas, em sistema float, para garantir as mudas a serem levadas para a lavoura logo adiante. Assim, a semeadura da primeira parte das bandejas foi feita em 10 de março, e as mudas inclusive já foram repicadas (replantadas em células das bandejas nas quais não nasceram sementes). “Já podemos até podar elas a primeira vez”, informa Liane Gilmara Câmara Scherner, 22 anos, que cuida da propriedade ao lado do marido, Sirlei Marcos Scherner, e dos pais, Ereneu e Asti Câmara. Sirlei é natural de Linha Chaves. Os Câmara são oriundos de Linha Arroio do Tigre, localidades do interior de Santa Cruz, e há seis anos a família adquiriu a propriedade atual em Linha Antão.
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Conforme Liane, que também cursa Pedagogia, eles pretendem plantar 50 mil pés de tabaco em 2020, na proporção de 23 mil para os pais e 27 mil ao casal jovem. É a mesma quantidade que plantaram em 2019. Além dessa atividade, produzem alimentos e criam animais para subsistência. Do tabaco colhido até a reta final do ano passado, uma parte foi vendida, com resultado satisfatório, segundo ela, e o restante será preparado para comercialização nas próximas semanas. “Com a estiagem, as folhas estavam muito secas para manuseio”, frisa.
Para os Câmara, a exemplo dos vizinhos, agilizar a semeadura é uma forma de igualmente antecipar o plantio, ao menos de parte das lavouras. Por decorrência, podem colher mais cedo e escapar dos dias de sol forte no verão. “Além disso, o tabaco plantado mais cedo aqui na nossa região costuma ser de boa qualidade e ter bom rendimento”, refere. A família pretende semear por estes dias uma segunda parte das bandejas para o lote complementar de mudas. “Até porque não se consegue plantar tudo de uma vez. Assim, teremos esse primeiro lote de mudas para ser plantado antes, e depois um segundo lote”, explica Liane.
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Uma das primeiras regiões a plantar
O Vale do Rio Pardo, no entorno de Santa Cruz do Sul, é uma das primeiras áreas a realizar o plantio das mudas a cada nova safra de tabaco. Quem confirma é o secretário da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Romeu Schneider, que também preside a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco. E há inclusive tendência de os produtores em algumas localidades anteciparem ainda mais o plantio, em relação à época normal de cada região.
Em grande parte estão sendo motivados a isso pela recente estiagem, comenta Schneider. “Quem havia plantado mais no cedo na última safra escapou da seca no verão. Os que plantaram mais tarde foram afetados pela falta de chuva”, frisa. “Muitos agora levam isso em conta para semear mais cedo.” Mas Schneider lembra que o tempo nunca se comporta exatamente igual entre uma safra e outra, e plantar mais cedo pode vir a se tornar muito relativo.
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A Afubra costuma orientar para que o ciclo da cultura seja mantido o mais dentro do tradicional de cada região. Em alguns microclimas nas localidades é possível plantar um pouco mais cedo. Nesse caso, o produtor deve ficar atento à localização da lavoura. Se costuma formar-se geada, não convém plantar cedo. Deve-se sempre observar bem caso a caso.
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Conforme Schneider, a sugestão é para que o produtor consulte o orientador agrícola da sua empresa para definir a época ideal em conjunto. Afinal, é preciso levar em conta o tipo de tabaco pretendido, a demanda de mercado, a variedade plantada. Além disso, o clima quente dos últimos dias favorece o desenvolvimento mais rápido das mudas no canteiro de float, onde ficam sobre lâmina de água. Ali elas se beneficiam da umidade da água e do calor do sol.
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O setor não dispõe de dados sobre quanto representa, em termos percentuais, a área de tabaco que é cultivado mais cedo na região de Santa Cruz. Afora essa área, só mesmo o litoral sul de Santa Catarina planta antes. Por lá, já há até lavouras em vias de iniciar novamente a colheita.
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