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CANDELÁRIA

Nova espécie do período Triássico é identificada

Reprodução do Pinheirochampsa rodriguesi, encontrado em 1968 por Mario Barberena

O Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, de Candelária, conta em seu acervo com uma nova réplica de um animal pré-histórico do período Triássico que habitou a região. A apresentação e entrega pelo pesquisador da Unipampa, Voltaire Paes Dutra Neto, ocorreram na noite da última sexta-feira. O ato teve a participação dos pesquisadores César Schultz, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e Felipe Pinheiro, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa); do curador do museu, Carlos Rodrigues, e de representantes da Prefeitura e da Câmara de Vereadores.

A reprodução é do Pinheirochampsa rodriguesi, denominação do fóssil encontrado em 1968 pelo pesquisador Mario Costa Barberena, na época atuando pela Ufrgs. No período da descoberta, os pesquisadores da Ufrgs encontraram um crânio fossilizado completo de um réptil no sítio paleontológico Sanga dos Fósseis, no distrito de Pinheiro. A localidade já tinha um registro fóssil de aproximadamente 240 milhões de anos, do período Triássico. A remoção dos sedimentos foi difícil e houve a retirada do crânio, com permanência de parte da mandíbula no local durante décadas.

Nos anos 1990, José Dornelles, hoje professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), estudou o crânio e concluiu que poderia ser uma nova espécie do gênero Chanaresuchus, até então só encontrado em rochas triássicas da Argentina. O gênero faz parte da linhagem de um grupo aparentado tanto aos dinossauros (incluindo as aves) quanto aos crocodilianos atuais. Esses animais são restritos temporalmente ao Triássico e foram localizados somente em depósitos do Brasil e da Argentina.

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Entrega da réplica para o Museu Aristides Rodrigues ocorreu na última sexta-feira. | Fotos: Erni Bender/Divulgação/GS

Recentemente, pesquisadores redescobriram a mandíbula na coleção do Museu Irajá Damiani Pinto, da Ufrgs. A peça faltava para compreender que o fóssil descoberto em Pinheiro era na realidade de uma nova espécie: a Pinheirochampsa rodriguesi. Outros dois crânios, coletados na mesma época, ajudaram a entender melhor as características que diferenciam a espécie dos achados na Argentina, como, por exemplo, uma expansão lateral da ponta do focinho.

O pesquisador Voltaire Paes Neto disse que encontrou ao acaso na coleção da Ufrgs pedaços de uma mandíbula que apresentava ligeira expansão na extremidade, assim como José Dornelles já havia notado no crânio. “Tal expansão não é observada nos fósseis argentinos. Para nossa surpresa, descobrimos que ela pertencia àquele crânio, estando separada dele por quase cinco décadas”, comentou o líder do estudo.

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Estudo de especialistas brasileiros e argentinos

O estudo sobre o Pinheirochampsa rodriguesi foi publicado no fim de agosto e contou com a participação de especialistas brasileiros da Unipampa, Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ufrgs, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense e Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O trabalho também teve contribuição de especialistas argentinos do Museu Argentino de História Natural Bernardino Rivadavia e da Universidade Nacional de San Juan.

O nome Pinheirochampsa rodriguesi é em homenagem ao local onde o fóssil foi encontrado na década de 60 e ao curador do Museu de Candelária, Carlos Nunes Rodrigues, que muito tem contribuído, junto com Belarmino Stefanello, para o monitoramento dos sítios, curadoria dos fósseis e divulgação da paleontologia. Com a identificação da nova espécie, os pesquisadores revisaram uma última ocorrência possível de Chanaresuchus no Brasil, um fóssil coletado em Santa Cruz do Sul, no Sítio Schoenstatt.

A descoberta em Santa Cruz faz parte de uma fauna mais recente em relação às encontradas na localidade de Pinheiro, com cerca de 237 milhões de anos, e não se trata nem de Chanaresuchus nem de Pinheirochampsa. Ainda que apresentasse uma expansão anterior na mandíbula, esse fóssil é menor e tem uma morfologia distinta na porção posterior do crânio. Essa e outras características indicam também se tratar de uma nova espécie: Kuruxuchampsa dornellesi, derivado do tupi para a constelação Cruzeiro do Sul e uma homenagem ao pesquisador José Dornelles.

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Voltaire Paes Neto frisa que esses animais hoje são percebidos como espécies terrestres, mas tinham uma relação íntima com a água. Viviam na beira dos rios à procura de peixes, artrópodes ou pequenos tetrápodes. O Pinheirochampsa era um dos maiores e talvez o mais antigo membro do grupo. Seus hábitos alimentares e os de Kuruxuchampsa ainda carecem de estudos, mas as diferenças na porção anterior do focinho indicam que a espécie era mais diversa do que se pensava.

“Eles são parecidos com dinossauros e crocodilos porque são de uma linhagem aparentada a eles. O animal não é ancestral do dinossauro. Procurava alimentos na beira dos rios, mas não era aquático. Era carnívoro e poderia chegar a a1,50 metro”, explica Voltaire.

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No Museu Municipal Aristides Carlos Rodrigues, em Candelária, réplicas dos crânios coletados na localidade de Pinheiro podem ser observadas. No acervo também há uma escultura do animal realizada pelo paloartista Márcio Castro e por Voltaire Paes.

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