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FORA DE PAUTA

Nosso elo

A última quinta-feira, dia 26 de agosto, marcou a passagem do aniversário de uma das pessoas mais importantes da minha vida. Um mês antes, em 26 de julho, passou-se o Dia dos Avós. Tais datas despertaram em mim reflexões sobre o quanto a relação com minha avó materna significou na construção de quem eu me tornei e de todas as decisões que tive que tomar ao longo desses 28 anos de vida. São raras as lembranças da minha vida em que ela não esteve presente como peça fundamental dos caminhos que fui trilhando.

O contexto disso é preciso explicar. Faço parte do grande grupo de pessoas nascidas de uma jovem gravidez indesejada. Para que minha mãe seguisse os estudos e trabalhasse, minha rotina, desde bebê, até a adolescência, foi junto da minha “vó Nina”. Não que minha mãe não tenha participado da minha criação, bem pelo contrário. Mas a presença da minha avó nos meus dias de infância e a referência de proteção e afeto que ela proporcionava – e proporciona até hoje – foram essenciais. Professora de Geografia e, àquela época, já trabalhando como bibliotecária de uma escola estadual, vivia suas paixões pela literatura e me incentivava a cultivar tal hábito. Desde cedo, ela me mostrou a magia de ler. 

Não lembro bem, mas talvez meu primeiro livro lido tenha sido o infantojuvenil Pollyana, trazido da biblioteca e emprestado por alguns dias. Não demorou muito para que eu tomasse a decisão de trabalhar com algo que me proporcionasse contar histórias. Com oito anos, eu dizia que seria escritora. Mas, mudando um pouco os rumos da vida, virei jornalista. O que, de fato, me permite escrever e contar as mais diversas histórias através das minhas palavras.

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Contudo, ela não é apenas uma leitora voraz. Também escreve e tem um diário no qual conta algumas histórias – talvez dramas – pessoais. A esse, eu até hoje não tive acesso. Não sei se terei. Não sei se quero ter. Em janeiro deste ano, ao fazer uma limpeza em armários, caixas e pastas, encontrei um poema que a “vó Nina” escreveu em homenagem à primeira neta, e que concorreu em um concurso de poesias do jornal da nossa cidade. “E, porque tu existe, tudo foi melhor”, finaliza o texto, intitulado “Um poema para Caroline”. Enviei a ela uma fotografia mostrando as palavras impressas em uma folha amarelada de meados de 1995, pelo WhatsApp – tecnologia a qual ela se entregou depois de muita resistência.

O papel, esquecido no meio de outras coisas, mas jamais apagado das minhas melhores memórias, a fez lembrar que a poesia havia sido escrita quando ela tratava um câncer de mama. Eu sei, sempre soube, que fui a força de que minha avó precisava naquele momento. E ela sempre foi, e é, minha direção. A ligação que temos talvez não seja somente deste mundo. Eu sou quem sou por ela e, enquanto estivermos as duas vivas, e também depois disso, continuaremos sendo uma a construção da outra.

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