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“Nossa luta é pela sobrevivência”, afirma cacique de tribo guarani

Primeiro povo a habitar o Brasil, milênios antes da colonização portuguesa, os indígenas ocupam um espaço ímpar na história. Cerca de 800 mil índios ainda vivem no País, embora tenha-se registro de que existiam pelo menos 5 milhões de nativos em terras brasileiras na época do Descobrimento. Hoje, no Rio Grande do Sul, há 32 mil deles, espalhados por diferentes regiões.

Nesta segunda-feira, 19, comemora-se o Dia do Índio. A data foi instituída pelo presidente Getúlio Vargas em 1943, em referência ao Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940, que discutiu medidas para proteger os povos indígenas e seus territórios na América. No entanto, a restrição de direitos dos indígenas e a pandemia dão a este 19 de abril um sentido menos festivo.

Joel Pereira, ou Joel Guarani para os conhecidos, é o cacique da tekoá (nome guarani para aldeia) Arandú Verá, da terra indígena Mato Preto, que fica no município de Erebango, no norte do Estado, a 25 quilômetros de Erechim. Na língua caingangue, o nome da cidade com pouco mais de 3 mil habitantes significa “campo grande”.

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Segundo o indígena de 43 anos, embora a data celebrada relembre seu povo, não há muitos motivos para comemorar. “Nossa luta todos os dias é pela sobrevivência. Para nós, continuarmos sendo indígenas hoje, no Brasil, é difícil”, disse o cacique, que também é coordenador adjunto do Conselho Estadual dos Povos Indígenas (Cepi).

“Anos atrás, todo dia 19 de abril era motivo de grandes comemorações nas aldeias, com grandes churrascadas e culto às nossas etnias. Havia uma semana dedicada aos povos indígenas. No entanto, de anos para cá, temos tentado realizar grandes movimentos em Brasília na busca por manter os nossos direitos que estão na Constituição Federal, pois há uma luta para acabar com o direito dos indígenas”, relatou o cacique.

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Joel: Covid impede venda de artesanato

Os impactos desta pandemia
Líder da comunidade desde 2000, Joel Guarani é professor efetivo do Estado. Na aldeia, há 27 famílias. Segundo ele, as escolas não estão funcionando. “Existem aulas remotas em algumas aldeias, mas na nossa, eu levo os trabalhos nas casas de cada aluno e entrego para os pais. Temos a dificuldade de acesso a computadores e internet, e muitos não têm celulares”, explicou o cacique, que também é conhecido como Kuaray, o nome de batismo dado pelo líder espiritual, o pajé.

Os recursos do Estado para compras de cestas básicas e o auxílio da Fundação Nacional do Índio (Funai) são as formas de sobrevivência da maioria das famílias na aldeia atualmente. “Antes da pandemia, saíamos muito para vender em feiras e outras cidades, mas hoje todos estão mais resguardados”, afirmou.

E engana-se quem pensa que eles usam somente vestimentas indígenas. A utilização do vestuário casual acaba se tornando o comum para todos. No entanto, Joel garante não esquecer das raízes. “Utilizamos as pinturas para demonstração da nossa etnia, e também em apresentações em escolas e situações do tipo”, disse o líder comunitário.

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“Embora o índio tenha carro e celular, nunca deixamos de ser quem somos e lembrar da nossa etnia. Mesmo pelo WhatsApp, quando falo com parentes, escrevo em guarani. A modernidade também traz essa possibilidade, de usarmos a tecnologia, mas sem deixar de ser quem somos. Nunca mais vamos conseguir voltar para o passado, mas o passado sempre vai estar conosco.”

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Emater aposta na distribuição de sementes
Com o objetivo de ampliar o acesso a alimentos e minimizar os impactos sociais e econômicos da pandemia sobre as famílias charrua, guarani e caingangue no Rio Grande do Sul, a Emater/RS-Ascar, em parceria com a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), lançou o projeto Semeando nas Aldeias.

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Além da distribuição de sementes de hortaliças, beneficiando 5.260 famílias indígenas das etnias charrua (17), guarani (921) e caingangue (4.322), que vivem em 150 aldeias localizadas em 67 municípios do Estado, algumas tribos também irão receber sementes de milho e de feijão.

De acordo com a antropóloga e responsável pela Assistência Técnica e Extensão Rural e Social (Aters) a Povos Indígenas da Emater/RSAscar, Mariana de Andrade Soares, as sementes já foram adquiridas com recursos da Seapdr. As famílias indígenas serão assessoradas pelos extensionistas da Emater, que buscarão sensibilizar e orientar sobre o cultivo das espécies e os benefícios nutricionais da diversificação das suas dietas alimentares.

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Elas receberão sementes de hortaliças, em pacotes de 10 gramas cada, com as seguintes espécies: abóbora xingó jacarezinho casca grossa, melancia crimson sweet, melão hales best jumbo, mogango enrugado barão, moranga de mesa e repolho chato de quintal.

Para Mariana, essa iniciativa da Emater e do governo do Estado amplia a autonomia das famílias indígenas na produção e diversificação de alimentos limpos e saudáveis para o autoconsumo.

O projeto Semeando nas Aldeias foi lançado neste mês de abril em alusão ao Dia do Índio. Já está sendo organizada a logística de entrega das sementes nos municípios e, posteriormente, nas aldeias beneficiadas, no período de cultivo das espécies no segundo semestre deste ano.

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