“Neste dia 2 de abril ela faria um ano. E eu não sei o que fazer nesse dia.” Para Dayra Eduarda Martins da Silveira, de 21 anos, o sentimento é de acordar todos os dias e ainda estar em 12 de setembro de 2023. Aquele fim de tarde de terça-feira, que parecia mais um dia qualquer, mudou sua vida para sempre. A filha, Lara Martins Anton, de 5 meses, morreu após engasgar com leite em uma creche particular na região central de Santa Cruz do Sul.
O fato teve grande repercussão na comunidade e alertou o poder público e as forças de segurança para a fiscalização nos estabelecimentos que cuidam dos pequenos. Tanto que uma semana depois, os vereadores aprovariam a indicação para tornar obrigatório o ensino da Manobra de Heimlich em escolas e creches do município. Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte, mas o caso, que completou meio ano na última terça-feira, ainda não teve um desfecho.
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Em entrevista à Gazeta do Sul, a mãe da bebê Lara desabafou e contou os problemas que ela e as pessoas próximas vêm passando desde então. “Nossa família está destruída. Todos de alguma forma se medicam com remédios controlados para ansiedade. Eu vou na psicóloga, os avós tomam remédio, e meu irmão mais novo pergunta por ela”, disse Dayra, se emocionando.
“Agora, no dia 2 de abril, ela faria 1 ano. Meu irmão pequeno me pergunta se vamos fazer festa de aniversário para ela, e eu não sei o que responder”, complementou. Ela e o pai de Lara, Alyson Yuri Soares Anton, de 21 anos, tentam seguir uma rotina, mas admitem que é difícil. Segundo Dayra, não houve complicações na gravidez, nem problemas de saúde na bebê que tivessem influenciado a situação.
“Não tem desculpa para o que aconteceu. Uma criança morreu dentro de uma creche. Minha filha estava lá para ser cuidada, e não cuidaram da Lara”, enfatizou. “Lembro da minha filha desde a hora que eu acordo até a hora em que vou dormir. Não tivemos respostas, e não sei por que demora tanto. Tenho certeza que se fosse filha de uma pessoa importante da cidade, isso já teria sido concluído.”
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O caso segue em investigação com a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). A delegada Raquel Schneider confirmou à Gazeta que continua no aguardo de uma perícia complementar do Instituto-Geral de Perícias (IGP) de Porto Alegre. “Fizemos alguns quesitos, visando esclarecer o laudo de necropsia, pois a resposta da causa da morte foi muito genérica”, detalhou a titular da DPCA.
Segundo o que a polícia divulgou na época do fato, a monitora titular da sala da creche onde Lara estava teria dado a mamadeira para ela, que chegou a brincar depois no chão. A bebê, então, adormeceu na cadeirinha de descanso e foi colocada no berço. A morte teria acontecido quase uma hora depois de ela ter mamado.
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A monitora titular estava trocando outra bebê, e uma mulher que trabalha no local fazendo serviços passou e percebeu que Lara estava um pouco pálida. Ela pegou a menina e começou a realizar manobras de reanimação. Saiu da sala pedindo ajuda e uma outra monitora, de outra turma, pegou a criança e também fez manobras, enquanto a titular da sala ligou para os bombeiros e outra para o Samu.
Ainda de acordo com a DPCA, a diretora também teria tentado prestar socorro fazendo massagem cardíaca, e a bebê teria expelido bastante leite. Os bombeiros vieram primeiro à creche e fizeram tentativas de reanimação. Depois o Samu chegou e entubou a criança, para levá-la ao Hospital Santa Cruz (HSC). Na casa de saúde foram realizadas outras manobras de reanimação, sem sucesso. Então, os médicos realizaram uma aspiração tubo orotraqueal, onde foi constatada secreção com característica de leite em grande quantidade. A bebê não resistiu e faleceu. A diretora do estabelecimento de ensino, uma mulher que realiza serviços gerais e duas monitoras prestaram depoimento à delegada Raquel.
A polícia verificou que a creche não possuía sistema interno de câmeras nas salas, o que não é obrigatório. As únicas gravações são da entrada do estabelecimento e do entorno na rua. Todas as monitoras que prestaram o socorro inicial têm curso atualizado da Lei Lucas. O nome da creche é mantido em sigilo pelas autoridades.
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