Por Gabriel Fuelber, Ramon Oliveira, Nathana Guedes e Anael Henriques, estudantes da disciplina de Jornalismo de Dados*, do curso de Jornalismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
A elevação no preço dos alimentos, combustíveis, energia elétrica e serviços já era uma tendência esperada desde o surgimento da Covid-19. Como consequência, muitos negócios foram obrigados a parar as atividades – ou pior, fecharam suas portas definitivamente. Com isso, o desemprego teve um crescimento alarmante em vários municípios brasileiros. No entanto, para muitas famílias a crise já havia chegado antes mesmo da pandemia, o que fez com que o cenário se tornasse ainda mais desolador.
Conforme dados da Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Esporte de Santa Cruz do Sul (Sehase), em outubro de 2019 havia 2.550 famílias em situação de pobreza e extrema pobreza cadastradas no Programa Bolsa Família (PBF), recebendo em média um valor de R$ 146,70. O PBF beneficiou famílias com renda por pessoa de até R$ 89,00 mensais; e famílias com renda por pessoa entre R$ 89,01 e R$ 178,00 mensais, desde que tivessem crianças ou adolescentes de 0 a 17 anos.
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Dessa forma, mesmo com a economia brasileira fragilizada, durante os meses seguintes houve uma estabilização no número de beneficiários em Santa Cruz. Contudo, a situação mudou completamente em abril de 2020, quando foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 na cidade. Na ocasião, 461 famílias ingressaram no Bolsa Família em apenas um mês – um aumento de 18% em relação ao mês anterior, um dos maiores desde que o programa foi criado em 2004.
De acordo com a diretora da Secretaria de Desenvolvimento Social, Priscila Froemming, o impacto psicológico causado com o surgimento da pandemia desencadeou uma procura desenfreada da comunidade pelos benefícios. “Desde o mês de março de 2020 houve uma procura muito grande pelo cadastramento no programa Bolsa Família. Acredito que a pandemia foi o principal fator desse aumento, pois o desemprego aumentou e a procura dos programas sociais, consequentemente, cresceu”, destaca Priscila, que ainda detalha os problemas que a desigualdade social causa em Santa Cruz do Sul. “A pobreza e extrema pobreza afetam diretamente todos os segmentos, sejam eles de políticas públicas de atendimento à população, assim como o comércio, a indústria, entre outros”, conclui.
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Após o impacto inicial das medidas de distanciamento, impostas para evitar a disseminação da Covid-19, foi necessária uma intervenção urgente do Governo Federal, o qual criou então o Auxílio Emergencial, destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, que teve por objetivo fornecer proteção financeira no período de enfrentamento à crise causada pela pandemia do novo coronavírus. Este benefício foi dado a cerca de 67,9 milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na Terra da Oktoberfest, aproximadamente 27,5 mil santa-cruzenses receberam o auxílio, dos quais 3,3 mil já estavam cadastrados no Programa Bolsa Família (PBF). No entanto, o benefício sofreu redução no valor repassado e teve critérios modificados, muitas famílias começaram a sofrer com o valor menor ou falta de renda por terem um suporte financeiro reduzido. Mesmo assim, muitos grupos familiares precisaram ingressar no novo serviço, que mesmo reduzido, garantiu um mínimo de amparo. Desta forma, durante um dos maiores picos da pandemia na região, de fevereiro deste ano até março, houve um aumento de 12% no número de beneficiários, algo em torno de 375 famílias.
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Neste espaço de tempo, a Sehase ( Secretaria Municipal de Habitação, Desenvolvimento Social e Esporte), realizou um levantamento sobre onde se localizam as famílias para compor o Plano Municipal de Assistência Social. A partir dessa ação, se obteve um mapa da pobreza de Santa Cruz do Sul.
De março até outubro deste ano, os números se mostraram estáveis, não havendo nem aumento e nem redução significativa na quantidade de beneficiários. Se em março havia 3.317 famílias recebendo o benefício, em outubro esse número chegava a 3.385. Dessa forma, na tentativa de minimizar os impactos causados pela pobreza em Santa Cruz do Sul, o município tem adotado algumas políticas públicas para atender essa população carente.
Para Priscila, é fundamental que essas medidas sejam adotadas pela Administração Municipal a fim de criar chances de uma melhora na qualidade de vida dessas famílias. “O município de Santa Cruz tem uma rede bem variada para atendimento a esse público, tendo um propósito de capacitar e inserir essas famílias no mercado de trabalho, promovendo a dignidade e independência financeira, para assim garantir um mínimo equilíbrio econômico para o sustento das famílias”, diz.
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As medidas que foram planejadas para o atendimento das famílias de Santa Cruz são:
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Criada no ano de 2005 com o objetivo de ajudar famílias e crianças no período do Natal, o Grupo do Bem é um dos casos mais emblemáticos de que a solidariedade pode transformar a vida de muitas pessoas. A iniciativa, que surgiu no Bairro Santa Vitória, hoje tem atuação em todo o município.
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Conforme a coordenadora do Grupo do Bem, Luciana Antonia Tremea, atualmente são 190 pessoas envolvidas com o projeto, que já ajudou pessoas de outros municípios e até estados. “Nosso trabalho é bem focado em Santa Cruz do Sul, mas já fizemos atividades em outros municípios, onde entregamos doações, como por exemplo em Rio Pardo, Sinimbu, Vera Cruz, Candelária, Vale Verde. Já enviamos, inclusive, doações para São Paulo”, revela orgulhosa a professora universitária.
Em relação à quantidade de pessoas que o projeto ajuda, Luciana afirma que é difícil dimensionar em quantidade, tendo em vista as inúmeras atividades realizadas quase que diariamente pelo grupo. “São muitas famílias beneficiadas pelas ações do Grupo do Bem, fica até difícil quantificar, pois temos atividades todos os dias da semana e nos fins de semana também. Foram muitas pessoas auxiliadas, para dar um exemplo, no ano passado entregamos a Sopa do Bem durante 25 sábados, e a cada sábado entregamos de 800 a 1.200 pratos, com isso já dá para ter uma ideia da dimensão do nosso trabalho”, salienta.
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Segundo Luciana, são diversas as áreas de atuação do projeto, que ajuda as famílias com a entrega de pães, bolos, sopa, cachorro-quente, roupas, alimentos, móveis, remédios, brinquedos, entre outros. “Não temos uma atuação específica, porque atuamos em várias frentes, nosso lema é fazer o bem sem olhar a quem. Cada um dos nossos membros tem um amigo, conhecido, familiar, colega, que tem alguma doação para o grupo e isso nos torna muito gratos, pois assim tentamos diminuir o sofrimento de tantas famílias”, frisa.
Moradora do Bairro São João, em Santa Cruz, a catadora Angelita da Silva Plate, de 52 anos, há um ano e meio preparava as suas refeições no pátio da casa. Morando com o filho Fernando, de 12 anos, e a filha Andressa, de 10 anos, foram muitas as dificuldades enfrentadas por eles até a chegada do Grupo do Bem. Beneficiária do Bolsa Família desde 2009, ela recebe atualmente cerca de R$ 190,00 por mês deste programa, um valor muito baixo tendo em vista o aumento no preço dos itens básicos.
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Segundo Angelita, a sua trajetória de vida sempre foi marcada por muitas dificuldades, mas que nunca deixaram de lhe tirar o sorriso e a vontade de batalhar pelas suas conquistas. Contudo, por muitas vezes o receio de ter o que comer na mesa para a família tirava o sono da catadora, assim como nos dias de chuva, em que a casa sofria com as goteiras. “Antes de eu receber a visita do Grupo do Bem, a minha casa era dividida pelos móveis e algumas cortinas. Não tinha quase nada aqui dentro, precisava cozinhar do lado de fora, pois não tinha uma cozinha. Nos dias de chuva a gente se abraçava em um canto para não se molhar com as goteiras. Era muito complicada a situação, principalmente no inverno, quando eu utilizava o fogão a lenha para esquentar a água e dar banho nas crianças”, relembra emocionada.
Contudo, a situação começou a mudar após uma pessoa contar a situação vivida por Angelita para o Grupo do Bem. Assim, em poucos dias, a catadora teve uma grande surpresa. “Era de tarde quando a Luciana chegou aqui em casa para ver como estava a situação. Foi muito emocionante a preocupação e interesse deles para me ajudar. Em poucos dias, foram chegando doações para mim e fui conseguindo organizar minha casa, que hoje já posso chamar de casa em razão do Grupo do Bem. Para mim, eles representam tudo o que eu tenho hoje”, conta emocionada.
Segundo a moradora do Bairro São João, por conta de dificuldades físicas, ela consegue apenas recolher materiais nas proximidades de sua residência, pois sofre com fortes dores na região lombar. “Não vou até muito longe recolher os materiais, por isso não consigo juntar muito. Minha renda média com esse trabalho é de R$ 350,00. Sei que não é muito, mas sempre procurei lutar pelas minhas coisas, então é uma forma de eu tentar ganhar um dinheiro. Por conta da minha dificuldade de locomoção, recebi do Grupo do Bem uma máquina de costura para trabalhar com ela em casa, e posteriormente vender o que eu produzi num brechó. Espero que dê certo”, destaca.
Nos 16 municípios que compõem a Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), a porcentagem da população sendo beneficiada com o Programa em outubro de 2021 variou de 6% a 18%. Os municípios com maior taxa populacional em situação de pobreza são General Câmara (1.544 pessoas), Pantano Grande (1.667 pessoas) e Rio Pardo (6.925 pessoas), todos com 18% dos habitantes sendo beneficiados com o Bolsa Família. Com cerca de 6% dos habitantes recebendo o auxílio, Vale do Sol tem 796 pessoas recebendo o e aparece como o município com menor índice.
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No gráfico abaixo, veja o panorama geral de todos os municípios pertencentes a AMVARP:
Durante a reta final do Auxílio Emergencial, em agosto deste ano, o governo federal lançou um novo suporte financeiro: o Auxílio Brasil. No site oficial do programa, este “braço social” visa integrar em um só programa várias políticas públicas de assistência social, saúde, educação, emprego e renda. É um substituto do extinto Bolsa Família que, segundo o Ministério da Cidadania, tratou de gerar transferência direta de renda para ajudar grupos que estavam em situação extremamente pobres ou pobres a superarem a pobreza. Já na área de saúde, o Programa contribuiu para o desenvolvimento saudável de meninas e meninos, acompanhando, duas vezes por ano, a vacinação, o peso e a altura das crianças com menos de 7 anos. Gestantes também recebiam acompanhamento de seus pré-natais e orientações na fase de amamentação, a fim de poderem criar seus filhos de forma saudável. Todas estas características do Bolsa Família continuarão existindo no seu sucessor.
O Auxílio Brasil entra em cena com a primeira fase de pagamentos neste último mês do ano, iniciando no dia 10 e terminando o ciclo em 23 de dezembro. A renda será creditada por meio da Caixa via Conta Poupança Social Digital ou Poupança Caixa Fácil.
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*Este conteúdo faz parte do Projeto ODS Gaz-Unisc, uma parceria entre os cursos de Comunicação e Fotografia da Unisc e o Grupo Gazeta. Os autores são acadêmicos das disciplinas de Redação Jornalística e Jornalismo de Dados, ministradas pelas professoras Patrícia Regina Schuster e Cristiane Lindemann. As pautas direcionam o olhar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) – um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
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