Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

Memória

Nomes dos rios e arroios revelam história dos Vales

Melissa: estudo resgata a memória e a história dos Vales do Taquari e do Rio Pardo

Mapas, banco de dados, arquivos e cartas foram as principais fontes de pesquisa de um estudo revelador sobre a história dos Vales do Rio Pardo e do Taquari. Doutora em Ciências: Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), Melissa Heberle Diedrich, em sua tese de doutorado, estudou as origens dos nomes de 96 cursos d’água das bacias hidrográficas do Rio Taquari-Antas e do Rio Pardo e a sua relação com a história ambiental.

Melissa, que também é professora efetiva de Língua Portuguesa e Língua Inglesa no IFSul, campus Lajeado, fez a análise e a catalogação de nomes geográficos, os topônimos, apresentando um estudo da origem e da motivação por trás da difusão de cada nome, além da mudança das denominações de rios e arroios ao longo do tempo. Segundo ela, hidrônimos são, especificamente, os nomes geográficos para os cursos d’água.

“Essa pesquisa surgiu justamente por não haver muitos dados em relação aos topônimos, que são os nomes dos lugares, e, principalmente, em relação aos hidrônimos, que são os nomes dos cursos de água, de rios e arroios das bacias hidrográficas do Rio Taquari e do Rio Pardo. Surgiu pela necessidade e pela ausência de informações”, explica. Para Melissa, as motivações históricas dos nomes de arroios e rios comprovam que eles carregam a identidade da região na qual estão inseridos e ajudam a contar suas histórias.

Publicidade

Na bacia do Rio Pardo, segundo a pesquisadora, foram estudados 34 hidrônimos – três nomes de rios e 31 arroios, que nascem em dez municípios. “Santa Cruz do Sul é o município de origem da maior parte desses hidrônimos. Também têm destaque Candelária, Sinimbu e Vera Cruz, falando mais especificamente da bacia do Rio Pardo”, salienta. Já a bacia do Rio Taquari-Antas teve 62 hidrônimos analisados – 21 rios e 41 arroios, que abrangem 46 municípios.

Cursos d’água têm relação com a formação linguística
A pesquisadora informa que não existiam dados sobre os históricos dos hidrônimos e a relação com a formação linguística das regiões. Explica que, por meio da pesquisa, na bacia do Rio Pardo, por exemplo, a análise etimológica revelou a presença de 15 línguas de origem desses rios e arroios. “A origem indígena, oriunda das línguas guarani, tupi e tupi-guarani, consta em 21 hidrônimos. É a segunda mais frequente nas bacias hidrográficas analisadas. Já a língua mais frequente de origem foi o latim, com a qual estão relacionados 51 nomes de arroios ou rios.”

Segundo Melissa, foi possível identificar a presença do espanhol, a exemplo dos arroios do Caranguejo e Rondinha; do alemão, caso do Arroio Wolfran; do italiano, no Arroio da Gruta; a língua africana, no Arroio Quilombo; e também a presença de outros idiomas, como árabe, castelhano, gaulês, hebraico e mesmo o português.

Publicidade

Para ela, o estudo serve como resgate da memória e história regional. Além disso, as informações levantadas pelo trabalho podem ser exploradas e aproveitadas para a composição de atlas toponímicos, mapas linguísticos ou fonte de consulta, sendo referências na área da hidronímia. “É todo um estudo resgatando essa motivação histórica que, pelo nome atual, muitas vezes a gente perde; embora alguns fiquem com o mesmo nome, outros acabam sofrendo alterações”, conclui.

Análises
O estudo fez emergir categorias às quais a origem dos nomes pesquisados está relacionada.
– 38 hidrônimos estão relacionados ao ambiente físico e a elementos da natureza; por exemplo, cor, forma geográfica, localização, profundidade, tamanho e vegetação. São exemplos “Estrela”, “Taquari” e “Pardo”, nomes de rios da bacia que atravessam os Vales e são importantes para a formação identitária das regiões.
– 33 hidrônimos têm relação com a imigração, colonizadores e homenageados, conforme dados da pesquisa. É a segunda relação mais prevalente, o que indica estreita influência com os movimentos de migrações do século 19. “Engenho”, “Fão” e “Francisco Alves” são alguns dos exemplos.
– 14 diferentes nomes de cursos d’água têm a relação do hidrônimo com a presença de animais na região. É o caso de Rio das Antas, Arroio Beija-Flor e Arroio Cerro da Mula.
– Sete nomes estão ligados a outras denominações de influência da cultura indígena. É o que acontece com as palavras “Jequi”, “Quatipi” e “Saraquá”, todas nomes de arroios das bacias hidrográficas estudadas.
– Três hidrônimos têm relação com grupos étnicos; por exemplo, “Bururi”, “Carijó do Buraco” e “Castelhano”.

LEIA MAIS: Situação de rios mostra os efeitos da estiagem na região

Publicidade

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.