O norueguês Jon Fosse, de 64 anos, venceu o Prêmio Nobel de Literatura 2023 por “por suas peças inovadoras e por dar voz ao indizível”, segundo a Academia Sueca, que fez o anúncio na manhã dessa quinta-feira, 5. O valor do prêmio é de cerca de R$ 5 milhões (11 mil coroas suecas).
Entre os cotados este ano estavam Lyudmila Ulitskaya, Salman Rushdie, Can Xue, Mircea Cartarescu, Peter Nadas, Laszlo Krasznahorkai, Ismail Kadare, Ngugi wa Thiong’o e Margaret Atwood.
Em 2022, a Academia Sueca premiou a francesa Annie Ernaux pela “coragem e agudeza clínica com que ela descobre as raízes, os distanciamentos e restrições coletivas da memória pessoal”. Nascida em 1940, ela é autora de obras como Os Anos e O Acontecimento – e foi apenas a 17ª mulher a ganhar o Nobel de Literatura, criado em 1901 e concedido a 119 homens desde então.
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São raros os nomes ligados ao teatro vencedores do Prêmio Nobel de Literatura. Desde 1901, quando a honraria da academia escandinava começou a ser distribuída, figuram entre os laureados o americano Eugene O’Neill (1888-1953), o francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), o irlandês Samuel Beckett (1906-1989), o italiano Dario Fo (1926-2016) e o inglês Harold Pinter (1930-2008). Junta-se, agora, a esse seleto time o norueguês Jon Fosse, que também é romancista, poeta e ensaísta, mas ganhou relevância internacional pela sua produção de dramaturgia para os palcos.
Como justificativa para o Nobel, a Academia Sueca definiu Fosse como um autor de “peças e prosas inovadoras que dão voz ao indizível”. E é isso que se vê na maior parte de sua obra de dramaturgia, que apresenta características intimistas para abordar as angústias da existência, ligadas à morte, à espera e às frustrações acumuladas no decorrer da vida.
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Jon Olav Fosse nasceu em 1959 na cidade de Haugesund, na Noruega, e estreou na literatura em 1983 com o romance Vermelho, Preto. A primeira de suas mais de trinta peças teatrais foi Alguém Vai Chegar, escrita entre 1992 e 1993.
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O seu estilo começou a chamar a atenção na cena internacional com a estreia de O Nome, escrita em 1995. Nesta peça, a harmonia de uma família burguesa é quebrada quando a filha retorna para casa grávida e detona conflitos que pareciam escondidos debaixo do tapete.
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Em Sonho de Outono, lançada em 1999, a ação é ambientada em um cemitério e, numa trama não linear que confunde passado e presente, Fosse enfoca um homem que reencontra seus pais e duas mulheres.
Já Um Dia no Verão, também de 1999, traz à tona uma mulher que aguarda obsessivamente a volta do marido que saiu para velejar há 25 anos e nunca mais voltou. Perdida em sua imaginação, a personagem reconstitui o passado junto ao homem que amou e o que poderia ter acontecido depois do provável acidente ocasionado por uma tempestade.
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Essas três peças escritas ganharam montagens brasileiras, dirigidas respectivamente por Denise Weinberg, Emílio de Mello e Monique Gardenberg na década de 2000. Na mesma época, Fernanda D’Umbra comandou a encenação de Roxo, que trata dos conflitos de um adolescente enfrentando a morte da avó e a iniciação sexual.
A incomunicabilidade humana atravessa os principais personagens criados pelo autor. Em comum, eles paralisam diante de traumas e situações inesperadas do seu cotidiano. Suas peças já foram traduzidas para mais de trinta idiomas e produzidas em países tão distintos quanto Estados Unidos, China, Turquia, Suécia e Croácia.
Essa mesma essência da incomunicabilidade ronda a sua literatura de prosa. Ele começa a se dedicar mais a ela e menos ao teatro nos anos 2010. Um exemplo é o romance É a Ales, publicado no Brasil pela Companhia das Letras há menos de um mês. A história, que dialoga e amplia a narrativa iniciada na peça Um Dia no Inverno, apresenta uma mulher que também espera o marido que saiu para um passeio de barco e jamais retornou. Em suas memórias, a personagem volta no tempo para revisitar cinco gerações de sua família e reflete sobre como os fantasmas do passado ainda assombram no presente.
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