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OPINIÃO

No ritmo do carnaval

A segunda-feira foi diferente, assim como certamente será esta terça-feira. Não pelo calor tórrido, mas pela cidade quase vazia. E não foi para fugir das altas temperaturas. Trânsito quase em ritmo de domingo, lojas em grande parte com as portas fechadas, assim como restaurantes, serviços públicos não essenciais de folga… É o Carnaval. Muitos adoram para extravasar toda a energia, outros são críticos ferrenhos e, também, aqueles que não estão nem aí. Mas, claro, tem também aqueles que seguem a rotina, pois, mesmo que pareça, o mundo não pode parar.

O Carnaval no Brasil é símbolo de folia ou descanso para grande parte da população. Mas o que muitos não sabem é que o Carnaval e a quarta-feira de cinzas não são feriados nacionais. Ao contrário do senso comum, a data é classificada como ponto facultativo. Festa popular, de raízes culturais fortes e grande adesão de massa, o Carnaval costuma ter boa parte das atividades econômicas paralisadas e não é de hoje.

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Os críticos aos festejos muitas vezes não fazem ideia do que essa comemoração movimenta economicamente. E não é apenas com o movimento de turistas em algumas cidades, mas há uma grande cadeia por trás de toda a preparação. A montagem dos carros alegóricos, por exemplo, começa bem antes e envolve mão de obra e muitos materiais, adquiridos de diferentes ramos comerciais. A compra das fantasias, roupas e adereços movimenta as lojas em um período que normalmente é de vacas magras. Bebidas, alimentos, combustíveis, passagens… tudo tem incremento nas vendas. Isso gera empregos e impostos.

E tem o lado cultural. Todos os anos as escolas de samba contam na passarela, com o seu tema-enredo, na representatividade das fantasias e alegorias, aspectos como a exaltação à história e à cultura afro-brasileira, histórias de personalidades marcantes, elementos de religiões de matriz africana ou críticas sociais que denunciam o racismo e a desigualdade social. Muitas vezes os desfiles se transformam em um bela aula de conhecimento.

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O antropólogo Roberto DaMatta, no final da década de 1970, se propôs a investigar o significado social da folia em seu livro Carnavais, malandros e heróis. Para ele, o Carnaval sempre foi um lugar de questionamento da norma, do padrão, da forma habitual de viver o cotidiano e da libertação das repressões. No passado, reflexo da sociedade, a festa questionava temas tabus como a nudez e a sensualidade. Atualmente, o debate é sobre feminismo, racismo e a quebra de preconceitos, inclusive nas próprias músicas e marchinhas tradicionais. Para o antropólogo, esse questionamento é válido, desde que traga conscientização.

Entre aqueles que são foliões natos, os que apenas adoram uma folguinha, aqueles que mantêm a rotina de trabalho ou mesmo os que são críticos da festa da folia, o importante é manter o equilíbrio e o respeito. Carnaval é símbolo da alegria do povo brasileiro. É um momento de fuga mesmo, do pessimismo, um momento de se libertar. E os foliões aproveitam isso e fazem da rua sua casa, sua festa. Como lembrou DaMatta, a festa é muitas vezes criticada como momento de alienação, mas pode ser um espaço de transformação de padrões da sociedade. Então, cada um pode e deve festejar do seu jeito, seja na passarela, na praia, no seu cantinho em casa… que na quarta-feira tudo volta ao normal e que tudo esteja normal, sem percalços por causa de exageros.

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