O mito da origem da humanidade inspira o primeiro romance de um carioca que possui vínculo com Santa Cruz do Sul. Aos 48 anos, Gustavo Acioli, nascido no Rio de Janeiro, capital, acaba de estrear na literatura com Na beira do rio, antes da chuva, pela editora portuguesa Chiado Books, que tem filial em São Paulo. No livro de 130 páginas, ele promove uma releitura do Gênesis bíblico, na modelagem divina de Adão e Eva.
Acioli, cuja carreira cultural até o momento, e com pleno êxito, se fizera no cinema, como roteirista e diretor, e na música, como cantor e compositor, é casado com a gaúcha Lara Valentina Pozzobon da Costa. Ela igualmente cumpre trajetória no universo do cinema, como produtora e expoente da audiodescrição, e também já lançou livro de poesia, Uso interno, pela 7Letras, em 2016.
Ao lado de Acioli, pela Lavoro Produções, Lara, 52, desenvolve projetos no cinema junto com a irmã Graciela, 47, radicada no Rio (já o irmão Fernando, 36, reside em Santa Maria). Na verdade, as irmãs têm sua base afetiva em Santa Cruz, onde residem seus pais, Carmen Pozzobon da Costa e Nadyr da Costa. Lara nasceu em Santa Rosa, mas os pais se mudaram para Santa Cruz quando ela tinha poucos meses, de modo que a considera sua cidade natal.
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Acioli e Lara se conheceram no Rio e estão casados há 24 anos, período no qual vêm com frequência a Santa Cruz. Só não o fizeram nos últimos três anos, quando passaram a residir nos Estados Unidos, em Dover, no Estado de New Hampshire, a cerca de uma hora de Boston, Massachussets. Graduada em Letras, Lara obteve bolsa para cursar mestrado em Educação na área na Universidade de New Hampshire, e assim ela e Gustavo se mudaram para lá em agosto de 2018, com os filhos Giovanna, 18, e Dante, 11.
Desde Dover, em conversa por WhatsApp, na terça-feira, 6, Gustavo detalhou para o Magazine as circunstâncias do lançamento de seu primeiro romance. Ele já é amplamente conhecido como compositor e cantor, com dois discos autorais gravados, e como cineasta. Egresso do curso de Comunicação Social – Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), é realizador de curtas e de elogiados longas, caso de Incuráveis, de 2005, e Mulheres no Poder, de 2015.
Salienta que alimentava o plano de investir em um projeto literário há alguns anos. Seu contato com a escrita, além da composição musical, advém da elaboração de roteiros de cinema, e já nesses textos, em geral mais áridos, preocupava-se em agregar alguma fluência mais literária.
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A partir dos EUA, Acioli acompanha projeto de novo filme
Afora os roteiros de cinema, Gustavo Acioli se exercitava em crônicas, publicadas em páginas na internet, muitas delas sobre futebol (aliás, se revela torcedor do Flamengo). Os primeiros textos do que depois resultaria no romance de estreia, frisa, começaram a ser pensados para um roteiro. Como isso não avançou, a certa altura se desafiou a fazer os ajustes e as depurações que permitissem transformá-lo em ficção literária.
“Lembro que um dia, numa festa na casa de um amigo, me deparei com uma edição italiana da Bíblia, e no local mesmo comecei a ler trechos. Ali me surgiu o mote daquilo que depois se tornaria esse romance”, refere. E tão logo concluiu a obra e a viu impressa, teve vontade de iniciar uma segunda ficção longa, mas optou por aguardar. “Até para deixar uma nova história amadurecer melhor”, diz.
A partir de Dover, cidade pacata, de 30 mil habitantes, em região esparsamente povoada, enquanto os estudos acadêmicos de Lara ingressam na reta final e ambos projetam seguir por mais um tempo com os filhos nos Estados Unidos, Gustavo acompanha a evolução de novo projeto no cinema. Trata-se de Vovó Ninja, filme infantil que está sendo dirigido por Bruno Barreto, da produtora LC Barreto, cujo argumento e roteiro são de autoria de Acioli, e que terá Glória Pires no papel principal.
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Saboreando a repercussão do romance de estreia, e lamentando que por ora estejam distantes de Santa Cruz e dos familiares de Lara por aqui, Gustavo faz questão de salientar a importância da interlocução com a esposa, com seus apurados conhecimentos literários, em sua própria afirmação como escritor. “Conversar com a Lara é praticamente uma pós-graduação que posso fazer em casa, na área de literatura”, comenta. E, assim, se o mito da origem inspirou seu primeiro livro, este, ao que tudo indica, haverá de inspirar a origem de muitas novas obras.
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