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No lado escuro da força

Não lembro de ter votado em José Otávio Germano. Nunca me identifiquei com suas opções ideológicas. Ainda assim, jamais o considerei um político do tipo execrável. Aqueles diante dos quais preferimos votar em branco. Segui sem maiores interesses sua trajetória ascendente e suas frequentes visitas a Santa Cruz do Sul ao longo dos anos. Nos últimos dias, no entanto, acompanho com atenção os desdobramentos e as desventuras do cachoeirense.

Ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-secretário de Segurança do Estado, ex-vice-presidente de futebol do Grêmio e, provavelmente, ex-prefeito de sua cidade, Zé Otávio virou o escândalo da hora na política gaúcha. Há um mês, ele foi afastado da função após operação deflagrada pelo Ministério Público. Pelo que se sabe das investigações até agora, Germano se ausentava sem justificativa legal da Prefeitura para se entregar a uma rotina de excessos, festas e sexo patrocinada pelo erário. Recebimento de propina e desvio de recursos estão entre as acusações.

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Filho de uma tradicional família de políticos da região central, mais de uma vez cotado para ser candidato ao governo gaúcho, José Otávio parece ter mergulhado fundo demais. Não é o primeiro, evidentemente. Desde sempre homens se entregam nessa espiral de prazer e perigos. Com os riscos aumentando o desejo e o desejo aumentando os riscos. Até que um dia, para alguns ao menos, a casa cai. Para os anônimos, as críticas e o abandono se restringem ao mundo particular. Para as figuras públicas como o prefeito de Cachoeira do Sul, o massacre é midiático, os danos talvez irreparáveis.

Essa pode ser a história de um homem de 61 anos criado com privilégios. Que não consegue e talvez nem queira segurar os próprios impulsos. E que foi flagrado em um atoleiro produzido por ele mesmo. Poder e dinheiro não bastaram. Novos êxitos na política, quem sabe o governo de um Estado, não bastaram. Essa disposição pelo lado sombrio é inquietante para nós, comuns entre comuns. Nós que cumprimos as mais elementares regras sociais, que pagamos as contas em dia, que temos medo das consequências, que temos medo de perder o controle.

Quem nunca pensou em jogar tudo para o alto e ao menos por uns instantes experimentar o proibido, o recriminável, o “sujo”? Pense bem, você aí diante do seu espelho, quantos apetites e ânsias precisou ou precisa controlar para seguir adiante sem chutar o balde? Quantas vontades você sepultou para se tornar esse cidadão de bem?

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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