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TRAJETÓRIA INTERLIGADA

No horizonte educacional, Escola Lindolfo Silva caminha junto à história quase centenária de Sobradinho

Foto: Nathana Redin/Gazeta da Serra

Sobradinho celebra, neste 3 de dezembro, 97 anos de emancipação | Foto: Nathana Redin

A história da Escola Estadual de Ensino Fundamental Lindolfo Silva corre unida a do município de Sobradinho. O educandário tem sua trajetória oficialmente iniciada ainda na década de 1920, menos de dois anos após a emancipação de Sobradinho. Surgida por uma necessidade da comunidade que se formava, esteve e segue marcantemente presente na trajetória de seus ilustres filhos, contribuindo, desde o princípio, para o aprendizado e ao reforço dos valores da população.

“No seio das matas da Serra local, no ponto central do Mapa do Rio Grande do Sul, muitas árvores haviam caído, o verde havia recuado para dar lugar às ruas recém traçadas no solo cru às custas de pás, picaretas e fortes braços de trabalhadores.” A descrição está no livro do cinquentenário do educandário, comemorado em 1979.

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Emancipado de Soledade, em 3 de dezembro de 1927, por decreto do governador Borges de Medeiros, Sobradinho foi elevado à categoria de município, levando o nome de Jacuhy. Apenas 10 anos mais tarde ganhou a denominação da alcunha que já possuía enquanto distrito, Sobradinho. Foi ainda sob a luz da emancipação, que a comunidade via se erguer uma sólida estrutura na educação.

O Grupo Escolar Jacuhy teve sua criação também por determinação de Borges de Medeiros, atendendo aos anseios da comunidade que dava seus primeiros passos administrativos. O casarão de madeira na Rua Itália, hoje Rua Capitão Veríssimo, passou a abrigar, a partir de 19 de outubro de 1929, estudantes primários oriundos de diversos cantos do extenso Sobradinho. Poucas eram as casas na região onde hoje é a área central da cidade. Um cenário bastante verde que na atualidade deu lugar a um grande número das mais distintas construções.

Pintura feita pelo professor Jary Schirmer (in memoriam) retrata como era a primeira instalação da escola

Os desafios, à época, como se pode imaginar, deveriam ser os mais variados, desde a locomoção por estradas de chão, enfrentando ainda as mudanças do clima, no alto da serra, até a distância dos grandes centros urbanos. Dificuldades que foram se transformando década após década, com o desenvolvimento do município, ao passo em que novas instituições surgiram e as atividades desempenhadas pelos munícipes ganhavam novas ferramentas e expandiam-se para mais áreas.
Foram quatro as casas alugadas que receberam professores, estudantes e gestores nas primeiras décadas do Grupo Escolar. O ano de 1954 marcou a mudança para o endereço atual, onde uma estrutura de alvenaria foi erguida. Depois ainda recebeu um incremento com a construção de blocos no estilo ‘Brizoletas’, mais tarde substituídas por novas estruturas, que hoje formam o espaço atual da escola.

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Prédio próprio concluído em março de 1954 | Foto: Arquivo do educandário

Quantas histórias as paredes do Lindolfo Silva ouviram? Quantos cálculos e frases se formaram em suas classes? Quantos foram os dias dedicados a planejar e organizar provas, mas também eventos, festividades que marcaram gerações? Quantos são os líderes que se alfabetizaram e deram seus primeiros passos de uma vida de compromisso e dedicação à comunidade ainda dentro da escola? Quantos são os profissionais que desabrocharam e fortaleceram suas aptidões e habilidades enquanto ainda estudantes? Hoje, estes estão em Sobradinho, na região ou mesmo espalhados pelo mundo. Aqueles que já se foram também seguem nas vivências de seus descendentes, nas pegadas que marcaram esta terra e na construção da cidade polo do Centro Serra.

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Para o atual diretor, Marciano Rubert, professor há mais de 20 anos no educandário, a Escola Lindolfo Silva está integrada à evolução histórica do município. Gerações de famílias sobradinhenses puderam aprender sobre as múltiplas disciplinas, bem como também sobre valores para a vida em sociedade. De suas salas saíram estudantes que se tornaram professores, médicos, advogados, dentistas, radialistas, presidentes de comunidades, vereadores e prefeitos, entre tantas outras profissões e funções, todas elas essenciais para a formação do Sobradinho que se desenvolveu como cidade polo da região Centro Serra. “Conforme o município foi crescendo, a escola também foi se desenvolvendo e seguindo as mudanças da sociedade. Chegamos a ter em alguns períodos da história mais de 800 alunos. Alguns fatores fizeram com que este número diminuísse, mas seguimos desde o princípio imbuídos da missão da criação da escola. Em 2024, comemoramos os 95 anos de fundação, também os 80 anos da Biblioteca Monteiro Lobato, marcando também os momentos recentes desta trajetória”, salienta.

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Atual diretor, professor Marciano Rubert, destaca a trajetória ligada ao desenvolvimento do município

A ex-vice-diretora Eliane Rathke, atualmente supervisora no educandário, recorda do período em que a escola contava com blocos no estilo ‘Brizoleta’, anos mais tarde vindo a ganhar ampliação do espaço em alvenaria. Destaca também as adaptações ao processo de ensino-aprendizagem ao longo do tempo, acompanhando as mudanças da sociedade e as inovações tecnológicas. Lembra dos muitos projetos, iniciativas que ganharam destaque dentro e fora do município, e os talentos despertos ou aprimorados nas salas de aula.

Aluna do Grupo Escolar, Beloni Prestes Faller, 72 anos, esteve presente nas comemorações pelo cinquentenário, como professora. Antes disso, porém, no final da década de 1960, sua ligação com a escola teve início. Aos seis anos de idade começava sua vida escolar, trajada com uniforme nas cores do educandário. A “Escola do Coração”, como descrito em seu hino, foi motivo de múltiplas pesquisas da professora, que também exerceu o cargo de diretora do educandário. Em um caderno que ganhou capa com um coração, Beloni reuniu documentos, desafios e conquistas, muitos registros que narram os principais acontecimentos do então Grupo Escolar Jacuhy até a atual E.E.E.F. Lindolfo Silva, que leva o nome do patrono Lindolfo Alípio Rodrigues da Silva, engenheiro militar que elaborou o plano inicial da cidade.

Beloni mantém o vínculo afetivo com a escola | Foto: Nathana Redin

Beloni salienta que, no contexto da década de 1920, as famílias que viviam nesta localidade necessitavam de uma escola para que seus filhos pudessem aprender a ler e escrever, fazer contas para ajudar nas tarefas diárias, como na compra e venda de produtos e até mesmo trabalhar no balcão de armazéns de secos e molhados na região. Depois de muitos pedidos e visitas junto às autoridades do governo estadual, conforme registro do histórico, foi autorizada a criação da escola pelo Decreto nº 4.351, de 25 de julho de 1929, sendo chamada de Grupo Escolar Jacuhy. Passou a se denominar Grupo Escolar Lindolfo Silva em 1940. A primeira turma de formandos do Grupo Escolar concluiu o ensino primário em 1934.

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Ao longo do quase centenário, a escola também mudou de endereço, saindo da atual Rua Capitão Veríssimo, em um casarão alugado, para um prédio hoje localizado na Avenida João Antônio (atualmente funciona Lazzari Engenharia e Arquitetura), e após indo para o local onde hoje fica a Frutaria Só da Roça. De lá, funcionou por um período em prédio de alvenaria junto à Rua Júlio de Castilhos, até que se estabelecesse, em 1954, junto à Rua Pernambuco, endereço presente. Na inauguração fizeram-se presentes o governador Ernesto Dornelles e Leonel de Moura Brizola, entre outras autoridades. Com o passar dos anos, o prédio ficou pequeno para atender toda a demanda, e algumas turmas foram estudar provisoriamente em uma casa de madeira conhecida como ‘Barracão’, próximo a ponte do Bairro Baixada. Lá permaneceram até que o prédio anexo, junto à Rua Afonso Wietzke, ficasse pronto, dando origem tempo depois à Escola Santo Carniel.

Foto: Arquivo do educandário

Com carinho, Beloni se emociona ao lembrar de tantos professores, funcionários e estudantes que passaram pela escola e fizeram e continuam a fazer parte desta história. Recorda ainda das transformações, ao longo das décadas, em âmbito educacional e na comunidade, como o fato de quando a escola foi criada o verde dominar a paisagem, poucas casas que se avizinhavam, as estradas de chão batido percorridas por muitos a cavalo, vindos de localidades distantes, e de não haver muros no entorno do educandário, com as crianças praticando esportes e brincadeiras livres pelo pátio. “Nada é mais gratificante do que viver a história e fazer parte dela no presente”, descreveu Beloni em sua mensagem na abertura do caderno de resgate histórico.

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De maneira especial, ela ressalta a importância do educandário na história dos filhos de Sobradinho, seja na formação educacional, profissional, no âmbito social e também contribuindo para o desenvolvimento de seus valores. Uma escola que tem um legado construído a muitas mãos e que, juntamente com todas as demais instituições de ensino criadas ao longo do tempo, formam uma base fundamental no desenvolvimento enquanto indivíduos, mas especialmente na participação ativa em comunidade.

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Os 100 anos já batem à porta

Sobradinho, ao chegar aos 97 anos, celebra não apenas sua história, mas a trajetória de cada instituição, empresa, órgão, entidade, cada história surgida e trilhada sobre seu território, antes e após sua emancipação, e cada pessoa que aqui nasceu ou se estabeleceu, costurando uma grande colcha de retalhos que é tão significativa e representativa.

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