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Happy hour

No escurinho do cinema

Na década de 60, quando nos mudamos para a cidade, deparei-me com uma novidade que jamais imaginara em Trombudo. Os dois enormes cinemas existentes na cidade. O Cine Teatro Apolo era o mais antigo e tinha a capacidade de abrigar em torno de 2,5 mil espectadores. Fechou um pouco antes de 1980.

O Cine Vitória, não tão amplo como o concorrente, era moderno e confortável. Possuía todas as cadeiras estofadas, enquanto as do Apolo eram de madeira. No segundo piso havia um camarote com poltronas confortáveis, reservadas para os abastados.

Enquanto a concorrência da TV ainda não havia se consolidado, nos finais de semana os santa-cruzenses tinham o hábito de assistir aos filmes. Sábado à noite acontecia a sessão dupla, que terminava por volta da meia-noite.

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Os jovens casais de namorados iam acompanhados de uma irmã mais velha, chamada de “chá de pera”, que ficava de olho no casal e fazia vista grossa para algum beijo ardoroso entre os pombinhos.

Domingos à noite, após a missa das 19 horas na catedral, uma boa parcela dos católicos dirigia-se para o Cine Vitória, que se tornara a coqueluche dos cinéfilos da cidade. Quando o filme era famoso, formavam-se extensas filas nas bilheterias.

A sessão terminava por volta das 22 horas. Era hábito dos frequentadores darem uma esticada até o Quiosque da Praça, administrado pelo seu Antelmo Emmel. Os homens tomavam chope ou cerveja e a esposa ou namorada, refrigerante. Ingerir cerveja em público não ficava bem para as mulheres. A sociedade não tolerava esses modernismos.

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Depois do cinema, a juventude se reunia no Posto Tapuia, primeiro point da cidade. Os jovens tomavam cerveja até de madrugada. Essa inconveniência do barulho causado pelo som automotivo e gritaria perturbava o sono dos hóspedes do hotel, causa de polêmica na cidade, que fez com que os jovens migrassem para a Avenida do Imigrante. A antiga polêmica só foi transferida de local.

Os matinés, reservados para os menores, lotavam. Antes da sessão, os guris trocavam os gibis em quadrinhos que já haviam lido por outro, inédito. O hall de entrada tornava-se um grande comércio. As revistas de Walt Disney e as de faroeste predominavam.

Alguns adolescentes ousados tratavam de arrumar uma namorada nos matinés. A estratégia era sentar na fila anterior das meninas. Apagadas as luzes, o jovem iniciava o ataque. Mexia no cabelo da menina e se correspondido, pedia para sentar ao lado dela. Timidamente, pegava a sua mão.  Enquanto rodava o filme, as carícias aumentavam e a libido aflorava à flor da pele dos jovens. No escurinho do cinema valia tudo ou quase tudo.

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