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Nível do Jacuí baixa e se aproxima de marca histórica

Barcos encalhados e cadeiras de descanso sobre o cascalho, onde antes corria água. O cenário atípico encontrado nas praias de Rio Pardo, no entorno do Rio Jacuí, é fruto da estiagem que atinge a região e o Estado desde meados de dezembro.

Enquanto os veranistas aproveitam para se refrescar nas águas rasas, junto a bancos de areia que surgem no leito do rio, as empresas que utilizam embarcações como veículo de trabalho estão, literalmente, encalhadas e sofrem para atender à demanda de serviços.

A seca atual já ganha proporções históricas. Embora a chuva tenha atingido a região em alguns períodos nas últimas semanas, o intervalo entre as precipitações vem sendo demasiado longo. O nível do Jacuí vem baixando e atingiu 5,60 metros na noite dessa segunda-feira, 2, depois de marcar 5,70 metros no domingo, em medições feitas na Barragem Anel de Dom Marco. O nível normal é 7 metros.

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O líder comunitário e presidente da Associação de Moradores do Balneário Porto Ferreira, Carlos “Magrão” da Silva, observa que o nível atual já se aproxima de 4,70 metros, marca registrada durante a estiagem histórica que atingiu a região em 2012. “Dessa época pra cá, eu nunca vi o rio tão baixo”, afirmou Magrão.

Embora os veranistas mais sossegados aproveitem a chance para se banhar em águas calmas no curso de água, outros encontram dificuldades. “Temos casos de pessoas que usam lanchas e jet ski, que já arrebentaram motores e se acidentaram devido às pedras e bancos de areia.”

Para evitar mais danos, os moradores improvisaram boias nos pontos mais baixos, para demarcar os locais que devem ser evitados pelos aventureiros. A seca atual e a previsão de pouca chuva nas próximas semanas deixam o morador do Porto Ferreira em alerta. “Se essa seca se estender por mais alguns dias, o nível do rio chegará ao mesmo de 2012.”

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CADEIRAS ONDE DEVERIA TER ÁGUA

Diferente do final de semana, quando as águas do Porto Ferreira lotam de veranistas, a segunda-feira é de calmaria. A Gazeta do Sul foi nessa segunda-feira, 2, ao balneário conferir os estragos da seca e deu de cara com um quarteto bom de risada e de prosa.

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Instalados sob a sombra das árvores em um dos bancos de areia que apareceram devido à estiagem, junto à rampa do acesso principal do balneário, João Frantz, Juarez Hildebrand, Carla Hildebrand e Lourdes Spies conversavam animados sobre o fim de semana, em meio à passagem de um pote de pipocas.

Quarteto aproveitou a segunda-feira no Porto Ferreira: lazer em tom de preocupação | Foto: Alencar da Rosa

Os quatro “aposentados de bem com a vida” – como eles se autodenominaram – logo citaram um dos assuntos em pauta durante a tarde. “Falávamos agora há pouco dessa seca. Desde 2012 eu não vejo algo desse tipo”, afirmou João Frantz. A esposa dele, Leonilda da Silva, encontrava-se pescando longe, dentro do leito, com a água abaixo das canelas, em mais um retrato da estiagem.

“É bom para nos refrescarmos dentro d’água, mas sabemos que a seca é perigosa”, comentou Carla. Para Frantz, a grande estiagem será uma prévia de uma época de chuvas fortes. “Vamos pagar isso aí. Logo vai voltar a chuvarada, lá pelo final de maio podemos ter nova enchente por aqui.

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Dragas paradas

Embora a movimentação de caminhões seja intensa no porto da Rauber Minerais, às margens da Praia dos Ingazeiros, a extração de areia por parte da empresa no Rio Jacuí não é realizada desde a última sexta-feira. El Monte, Cristo Rei, Santo Ângelo, Leopoldo Rauber, Renato Rauber e Tupã Jacuí, nomes das seis embarcações utilizadas pela empresa no serviço, estão encalhadas por causa da diminuição do nível do rio.

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O último citado, com capacidade de levar até 2 mil toneladas de material, é o maior barco para extração de areia em atividade no Estado. “Nosso trabalho é muito prejudicado pela estiagem. Os poucos barcos que conseguem sair da margem às vezes não conseguem chegar no local da extração devido a algum obstáculo”, revelou o empresário André Luís Rauber.

Segundo ele, se chegam ao ponto para executar o serviço, precisam carregar menos do que a embarcação suporta, pois o peso faz com que o barco afunde e bata nos bancos de areia ou em pedras. “Já estamos trabalhando com pouca carga desde novembro, quando começou a estiagem. Em dezembro e em janeiro, tivemos alguns períodos parados por causa da baixa acentuada do Jacuí, como vem acontecendo agora novamente”, revelou Rauber.

A manutenção também precisa ser redobrada. “Muitas vezes tranca a hélice, o leme quebra, dentre outras situações.” A empresa, que conta com 40 funcionários e tem como compradores as principais concreteiras da região e do Rio Grande do Sul, completou 45 anos no último domingo.

De acordo com Rauber, é possível realizar uma extração de areia por dia. “É um procedimento demorado e, por vezes, temos perdas significativas. Na sexta-feira carregamos e, quando estávamos voltando, o barco encalhou. Tivemos que derrubar parte do nosso carregamento na água para conseguir sair”, relatou o empresário.

Uma medida que poderia evitar a queda acentuada no nível do rio, conforme ele, seria a revitalização da Barragem de Santo Amaro, em General Câmara, que está deteriorada. “A última promessa é de que existe uma verba para iniciar as obras de revitalização em novembro. Com essa barragem estabilizada, o curso de água não sairia tanto e o nível poderia melhorar em até um metro em momentos de seca. Por agora, não adianta, o jeito é esperar chover.”

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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Naiara Silveira

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