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Nigéria: as venturas e as tribulações do petróleo

A Nigéria é conhecida como o gigante da África, por ser a maior economia do continente, rica em minérios e principalmente em petróleo – o ouro negro responde por 40% do PIB e 80% da receita do governo –, motivo que me levou a Lagos e às cidades do delta do Rio Níger algumas vezes.

Warri foi a capital do petróleo na Nigéria até a transferência em massa da indústria petrolífera para Port Harcourt. Entre as poucas empresas que ainda mantêm operações por ali, uma fazia parte do meu itinerário de visitas. No pequeno aeroporto de Warri, que mais parece uma base militar, o mesmo aparato bélico nos aguardava e atravessamos a cidade com o comboio armado liderado pelo mesmo comandante.

Pelo que vi nas construções e pelas ruas esburacadas e malcuidadas, a cidade está literalmente em frangalhos, com taxas de desemprego de mais de 90%. Um dos guardas com quem troquei ideias me contou que, nos tempos de pujança, havia cerca de 15 igrejas cristãs na cidade. Após o ocaso da indústria petrolífera no local, grupos neopentecostais fizeram esse número saltar para mais de 300, e, como eu já havia notado em outros países da África subsaariana, muitas são de matriz brasileira. É interessante notar como a pobreza pode ser terreno fértil para a evangelização, mas também para empreendedores pseudorreligiosos que sugam o que resta de um povo já demasiadamente sofrido.

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Entrada do aeroporto de Warri, que mais parece uma base militar

Ao chegarmos no enorme parque de manufatura de uma empresa de capital francês, impressionou-me a fortaleza construída em torno das instalações, com muro duplo altíssimo, guaritas e dezenas de soldados armados. Atravessamos o primeiro portão, onde aguardavam militares e suas metralhadoras. Os veículos e os documentos foram revistados detalhadamente, e só então fomos autorizados a entrar na área principal do complexo. O responsável pela operação era um português, que me deu mais pormenores sobre os cuidados necessários e as agruras de se viver ali. Todos os mais de 400 funcionários moram dentro das instalações, mesmo que tenham suas famílias na própria cidade.

Em Port Harcourt, cidade próxima à fronteira com Camarões, tudo gira em torno da indústria do petróleo. O aeroporto local é famoso por ter sido considerado o pior do mundo por vários anos seguidos. O motivo ficou evidente na
área de desembarque, que há anos havia sido destruída por um incêndio e substituída por tendas improvisadas. No meio petrolífero, nigerianos estão espalhados pelo mundo e, como os que conheci em seu país natal, são sempre amáveis e alegres. O governo determina que a força de trabalho das multinacionais que se instalam no país, assim como ao menos 80% de toda a engenharia de plataformas de produção e redes de distribuição seja produzida por cidadãos nigerianos, que com isso tornam-se profissionais competentes e reconhecidos mundialmente. Ponto para os governantes nesse caso.

Área de desembarque em Port Harcourt teve que ser transferida para tendas

Deixando o país, e antes de passar pela imigração, me despedi do disciplinado comandante Osa no aeroporto de Port Harcourt. Os minutos seguintes ainda guardavam um capítulo final na jornada. Do agente de imigração até um funcionário do aeroporto na escada da aeronave, passando pelos funcionários do raio-X e por oficiais que checavam os documentos, todos solicitaram auxílio monetário, também conhecido como propina. Embora alguns tenham sido bastante ostensivos, desviei das tentativas, aparentando não ter entendido o recado. O voo até Frankfurt fez uma escala na nova capital, a cidade planejada de Abuja, inaugurada em 1980. É uma ilha de desenvolvimento e segurança em um país contaminado por conflitos e criminalidade. Embarcaram políticos e oficiais do governo em seus típicos trajes coloridos, todos bastante animados em uma confraternização que durou até a chegada na Alemanha.

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A Nigéria foi o país onde me senti menos seguro até hoje, mas não pude concluir se era uma insegurança legítima ou simplesmente amplificada por excesso de cuidado e por um medo autoinfligido. Torço para que a nova nação encontre em breve o caminho da prosperidade com igualdade e justiça social.

Petróleo responde por 40% do PIB e 80% da receita do governo no país


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