A Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul teve sua primeira eleição em 1878. Desde lá, apenas três mulheres assumiram o comando da Casa: Solange Finger, Bruna Molz e Nicole Weber. A atual presidente defende a maior participação feminina, a aproximação com a comunidade e o incentivo para que os jovens tomem gosto pela política. É assim que assumiu o Legislativo e adiantou medidas a serem tomadas neste ano.
Em entrevista à jornalista Aline Silva, na Rádio Gazeta FM 107,9, a detentora da maior votação da história entre as mulheres destacou ser uma conquista como vereadora e mãe. Adiantou, porém, que a partir do momento em que assume passa a ser representante de todos os cidadãos e, como presidente, em especial dos 17 vereadores.
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Com conhecido perfil combativo, Nicole disse que quer mostrar seu potencial para projetos. “Sou também propositiva. A base do governo dizia que não dava para votar meus projetos”, recordou ao citar que, mesmo diante dessa condição, todos os pedidos que chegavam ao seu gabinete tinham encaminhamentos.
Citou como exemplo a ocasião em que alunos da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) tiveram, entre as tarefas, a criação de projetos que pudessem ser aplicados na sociedade. Essa iniciativa resultou na matéria Cidadania Legislativa, apresentada pela vereadora e que permite, atualmente, a demonstração de apoio ou contrariedade aos projetos, no site da Câmara.
A parlamentar antecipou que apoiará viagens dos vereadores a Brasília, como forma de buscar recursos, por meio de emendas. Citou seu exemplo, tendo conseguido mais de R$ 8 milhões para o município. “Uma viagem que custa R$ 3 mil por vereador pode trazer R$ 1 milhão”, disse. Assim, incentiva que a comunidade encaminhe seus pedidos para os legisladores, que conseguem acesso mais facilitado aos deputados.
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Vereadora deverá disputar vaga na Assembleia Legislativa
Questionada pela jornalista Aline Silva sobre a informação que circula nos bastidores da política, em relação a uma possível candidatura à Assembleia Legislativa, Nicole Weber respondeu rapidamente: “Com toda a certeza”. Confirmou que as pessoas que trabalham com ela, seus familiares e o próprio prefeito Sérgio Moraes (PL) estão cientes disso.
Ela colocará seu nome à disposição do partido para concorrer à vaga como deputada estadual e tem conversado sobre isso com seu companheiro Vilson Covatti Filho, que é deputado federal. “Estamos formando uma família com as mulheres pioneiras”, diz ao fazer referência à sua sogra, Silvana Covatti, que foi a primeira presidente do parlamento gaúcho e a primeira secretária de Agricultura do Estado. “Por que não expandir o trabalho que mostrei na minha cidade para o meu Vale e para o Rio Grande do Sul todo?”, questiona.
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Antes disso, tem o compromisso de dar sequência à construção da sede da Câmara, que teve projeto apresentado no fim do último ano. A ideia é fazer com que o Legislativo poupe o recurso do contribuinte, que hoje é pago em aluguel. Hoje são gastos mais de R$ 50 mil mensais com a estrutura atual.
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Segundo o que foi exposto, será uma edificação com 4.388,05 metros quadrados, compreendendo dois andares em subsolo e outros oito pavimentos. O investimento estimado fica entre R$ 15 e 20 milhões.
A estrutura será erguida em formato de “L”, com acesso pelas ruas Marechal Deodoro e Sete de Setembro. São 28 vagas cobertas para veículos, além de estacionamento externo para até 40, plenário, gabinetes para os vereadores e espaços para a presidência e sala de reuniões, entre outras acomodações.
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Questões Pontuais
A senhora é conhecida por suas bandeiras, como vereadora. Quais serão as suas bandeiras como presidente?
Cada Presidente adapta o seu perfil em sua gestão. Minha bandeira principal será aproximar o Poder Legislativo do povo. Realizar uma Presidência dinâmica, moderna, participativa na comunidade, que traga de fora ideias inteligentes. Uma gestão que receba as pessoas, facilite a vida do cidadão e que represente à altura todos os colegas legisladores. Sem esquecer jamais que trazer à luz a participação feminina na política é uma missão.
Ter uma mulher chefe de um poder tão importante de uma cidade é simbólico pelo fato de meninas e mulheres se verem neste espaço. Sou a 3ª mulher em 146 anos de Câmara, como Presidente, isso dá uma média de 1 mulher Presidente a cada 49 anos de homens Presidentes. Isso é completamente desproporcional e triste, e eu quero ser uma agente efetiva dessa mudança. Não adianta só falar, estar aqui é fazer. Outro fator é que sou mãe, e levo meu filho em compromissos junto. Será uma realidade a qual todos verão no meu dia a dia.
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A Presidência tem uma mãe que não desistiu da carreira política porque tem um filho que depende tanto dela, ela leva ele. Se a mãe não tem rede de apoio sempre, leve seu filho. Colocaram-nos historicamente neste papel – que é um fator que desestimula mulheres com vocação de liderança a entrar na política (a ‘ética do cuidado’ com os filhos), pois sejamos realistas – em geral a mãe é sobrecarregada e a política exige dedicação e às vezes assusta, mas isso não pode ser impeditivo, isso deve estimular.
Quero colocar a pedra fundamental da sede própria da Câmara para que seja poupado o dinheiro do cidadão que está lendo agora. Hoje mesmo pedi ao setor contábil que realize uma projeção atualizada de em quanto tempo a sede própria se paga saindo do aluguel, a qual quero apresentar para a comunidade sempre com transparência. Somos um Poder autônomo, legislador, fiscal (a vereadora fiscalizadora continua sempre). Somos uma instituição que torce e trabalhará em parceria com o Executivo em projetos que trarão benefícios para nossa população. Trabalharei constantemente com todas as Secretarias e o Prefeito a fim de tornar projetos há tempo guardados em realidade. Estou feliz, empolgada com o desafio, bem assessorada pela equipe da Câmara, e como tudo que escolho realizar na minha vida, me entrego de coração. Isso que a população pode esperar de mim.
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A senhora acredita que será possível alterar o horário das sessões, como foi defendido durante a última legislatura?
Eu fui a primeira vereadora a entregar o requerimento para que as sessões voltassem a ser às 18 horas e solenes em outros dias. Outros pedidos como esse já foram protocolados. Esta será minha prévia sugestão aos demais colegas e em respeito, debaterei com eles antes de definir. Importante explanar publicamente à comunidade que o cidadão e cidadã pedem nas redes, por exemplo, que seja às 18 horas, mas estranhamente, na maioria das sessões, às 16 horas têm mais pessoas do que às 18h, logo: as pessoas não estão indo no horário que pedem – porque as vezes a sessão segue até 21, 22 horas e está vazia.
No último ano, foi realizado um controle de quantas pessoas a cada horário tínhamos na Casa, dados que pretendo analisar na próxima semana para apresentar na primeira sessão extraordinária do ano para os demais vereadores. Gostaria muito que a população de fato fosse neste horário, porque é o mais coerente.
Um dos problemas que percebemos, no último ano, é que projetos importantes são aprovados, mas acabam não se tornando de conhecimento de quem mais pode fazer uso deles: a comunidade. Como a senhora imagina fazer com que os cidadãos estejam cientes de seus direitos e deveres aprovados no Legislativo?
Ótima pergunta! A mais necessária. Dois dias atrás, encontrei uma senhora na rua e ela me disse que tinha Fibromialgia como eu tenho, queixando-se com razão. Na conversa, descobri que a própria cidadã não sabia que era pessoa com deficiência, que poderia fazer sua carteirinha no CRAS e ter seus benefícios. Vejo isso todos os dias como vereadora. Aprovamos um projeto de minha autoria em parceria com alunos de Direito da UNISC, “Cidadania Legislativa”, onde o povo por ir lá aprovar ou desaprovar os projetos que irão à votação, o povo não sabe ou pouco participa. Então, tenho preparado toda uma reestruturação de comunicação a fim de que os direitos cheguem ao conhecimento do cidadão e da cidadã.
Pretendo fazer uma ampliação na comunicação digital e redes da Câmara, uma realidade hoje inquestionável – as pessoas estão nas redes. E também pretendo enaltecer cada um dos nossos vereadores e vereadoras amplificando seu poder de comunicação. Trabalhou? Mostrou. Precisamos prestar contas para a comunidade, e se depender desta Presidente, o povo estará mais ciente do que acontece no Poder Legislativo do que nunca.
A comunicação é uma das grandes artes ensaiadas pelo ser humano. Sem ela, temos direitos, mas não desfrutamos deles, uma vez que não os conhecemos – como a senhora fibromiálgica que encontrei. Conduziremos este processo com responsabilidade e a imprensa possui um papel fundamental para isso. Aproximar a população da Casa do Povo, ser representatividade, despertar os futuros agentes públicos, abrir a Casa para que crianças e jovens conheçam esse espaço através de palestras – na qual sempre me disponibilizei – agora mais ainda, ser parceira de outras Câmaras e trazer bons projetos, iniciar a sede própria, modernizar a forma de comunicação, formar parcerias com entidades, escutar diretamente o cidadão e cidadã, elevar essa cidade que amamos em consonância e respeito ao Poder Executivo e Poder Judiciário. Acima de tudo, em cada decisão ou escolhe, pesar: isso é melhor para o povo? Se sim, está decidido.