Ainda no rastro do boom de filmes de super-heróis, a Netflix estreia em 15 fevereiro uma nova série do gênero, The Umbrella Academy, baseada nos quadrinhos escritos pelo músico americano Gerard Way, da banda My Chemical Romance, e com ilustrações do brasileiro Gabriel Bá. Na história, uma família de irmãos com superpoderes se reúne após a morte do pai adotivo.
Na verdade, o ponto de partida do enredo é 1989, quando, estranhamente, 43 crianças nascem simultaneamente em diferentes lugares do mundo, filhos de mulheres que, até o dia anterior, não estavam grávidas. Sabendo que as crianças têm superpoderes, um homem muito rico adota sete delas e começa a treiná-las para combater o crime. Já crescidos, cada irmão segue seu próprio caminho e eles só voltam a se reunir com a morte do pai.
Durante a Comic Con Experience, em São Paulo, realizada em dezembro, Umbrella Academy foi apresentada ao público brasileiro pela primeira vez. Além de Gerard Way e Gabriel Bá, que atuam também como produtores executivos da série, os atores Tom Hopper, Emmy Raver-Lampman, David Castaneda e Ellen Page estiveram no País para falar sobre a produção.
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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, os atores afirmaram que, apesar da origem sobrenatural, que deve ser explicada com o decorrer da série, o diferencial da produção é que ela fala de heróis com problemas muito humanos. “Eles foram muito reprimidos na infância e acho que muito da jornada deles é sobre como isso se manifestou em suas vidas adultas e como eles lidam com isso agora”, analisa Ellen Page, que vive na série a personagem Vanya, a única dos adotados que não possui um poder especial.
À medida que treinavam para combater o crime, os sete passaram por uma infância traumática e abusiva. Eram forçadas pelo pai a trabalhar como heróis e com métodos de treino bem questionáveis. Geralmente, eram colocados uns contra os outros para exercitar a competitividade. Segundo a atriz Emmy Raver-Lampman, sua personagem, Allison, só percebe o trauma quando se torna mãe. “Ela começa a pensar, ‘eu nunca faria isso com a minha filha’.”
De todos, a personagem de Page é a mais traumatizada. “Quando criança, ela queria ser parte disso e foi isolada pela família. Obviamente foi uma infância abusiva e ela teve vários problemas por causa disso”, diz. “Imagina ouvir a vida inteira que não é especial, quando seus irmãos são famosos por isso.” A infância dos personagens será vista por meio de flashbacks.
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Ao crescer, todos se distanciaram, o que acabou causando um outro problema em suas vidas adultas: nenhum deles consegue se encaixar no mundo real. “Todos eles passam por isso. Passaram 17 anos tentando se relacionar com pessoas sem poderes, numa vida normal, mas não conseguem se adaptar ao mundo real”, afirma Hopper, que vive o filho número 1 da família, Luther, uma espécie de líder entre os irmãos.
Para Gerard Way, porém, o pai dos heróis não é exatamente um vilão. “Sei que ele é abusivo, fez os filhos passarem por momentos difíceis, mas nunca o vi como um vilão, e sim alguém que estava fazendo algo para um bem maior, mas que, infelizmente, causou um mal para as crianças”, acredita. “E nós descobrimos sobre ele à medida que a história avança, entendemos por que ele tomou suas decisões.”
Na opinião de Way, são essas discussões que humanizam os personagens. “Foi algo que pudemos explorar profundamente, as noções de certo e errado, o fato de nem tudo ser preto ou branco, ter uma grande área cinzenta no meio”, analisa. “As pessoas não são totalmente boas ou totalmente ruins.”
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Novo desafio
Tanto para o músico quanto para Gabriel Bá, trabalhar como produtores executivos da série foi um desafio inédito em suas vidas. “É estranho ver uma criação sua passando por tantas etapas no caminho. Desde a escrita do Gerard, aos meus desenhos, e agora roteiros, figurinos, decoração do set, filmagens”, relata Ba.
Apesar de ter escrito apenas pensando nos quadrinhos, Gerard Way fica feliz com a adaptação para a TV. Inicialmente, a dupla tentou vender o projeto para os estúdios como um filme. Desde então, foram cerca de 10 anos até surgir uma reunião com a Netflix, que gostou da ideia e acelerou o processo de produção da série.
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Para o formato de série, algumas mudanças foram feitas na história. Para Way, a melhor de todas foi a escolha de um elenco diverso para viver os personagens. “Foi uma ótima mudança, ficou mais realista”, diz o músico. “Os personagens ficaram mais profundos.”
Segundo ele, o que mais importa nas histórias em quadrinhos, em geral, é a representatividade. “Na adolescência, eu era muito sozinho, então os quadrinhos foram muito importantes para mim”, revela Way, que começou a pensar em escrever histórias como uma espécie de retribuição para novas gerações. “Acho que a maior parte do nosso público é de pessoas que procuram as histórias em quadrinhos para se sentirem melhor sobre a vida”, relata o autor, que diz receber “toneladas de mensagens de fãs compartilhando suas histórias”.
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