Certas coisas não mudam. Transcendem épocas, soam modernas, “incensadas” e revolucionárias, mas no seu âmago não evoluem. Passam-se os anos, novos hábitos são incorporados à rotina. Modismos entram em nossas vidas e saem com a mesma rapidez. A comunicação agora invade a privacidade sem piedade. Na semana passada, uma postagem feita por três adolescentes e universitárias da cidade de Bauru, no estado de São Paulo, ganhou as manchetes nacionais.
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As estudantes da Unisagrado publicaram no Instagram comentários ofensivos a uma colega de aula de 40 anos. “Ela era para estar aposentada… ela nem sabe o que é o Google!”, afirmam entre risos debochados e outras agressões verbais que viralizaram Brasil afora.
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Vazada para outra rede social, o Twitter, em poucas horas de exposição o vídeo foi acessado por mais de 5 milhões de pessoas, dando notoriedade ao trio desprovido de empatia, respeito e humanismo. A sobrinha da mulher agredida, Beatriz Linares, compartilhou a imagem no Instagram, seguida do seguinte comentário.
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“Minha tia sempre batalhou trabalhando sem parar desde pequena com as irmãs para ajudar a minha avó e a cuidar dela. Ela sempre teve o sonho de estudar e nunca teve a oportunidade. Hoje, ela conseguiu entrar em um curso que ela sempre quis e estava muito feliz e animada para começar as aulas, e daí surgem três meninas escrotas, que só vivem na própria bolha, gravando vídeo zombando pela tia ser a mais velha da turma”, lamentou.
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A reação soou até civilizada diante do absurdo que três jovens universitárias postaram. Jovens, deveriam ter uma cabeça arejada porque geralmente são fiscais da moral alheia. No alto de sua ignorância, as estudantes cometeram o crime de etarismo, que consiste na discriminação contra pessoas ou grupos baseada na idade do indivíduo.
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Tenho certeza de que, se a discriminação tivesse outro caráter – como vemos todos os dias Brasil afora –, o número de visualizações seria infinitamente maior. Mas ofender as pessoas, chamando-as de “velhas”, não causa o mesmo impacto que outras agressões que mobilizam milhares de entidades e grupos organizados. Até a “grande mídia”, ditadora dos padrões e parâmetros morais, pouca importância deu ao fato ocorrido em São Paulo. A repercussão restringiu-se às redes sociais.
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A Unisagrado emitiu nota oficial. O texto diz que a instituição não compactua com qualquer tipo de discriminação. Mas para surpresa geral não anunciou punições ou advertências. “Colono”, “velho”, “babaca” são discriminações que proliferam no cotidiano, mas não nos damos conta, tamanha “naturalidade” com que as pessoas costumam agredir. Apesar da modernidade em tantos segmentos, educação continua em baixa.
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