Não é nada prazeroso, muito menos festivo, escrever, perto do Natal e do Ano Novo, sobre as dificuldades financeiras que milhões de brasileiros estão vivendo, já há algum tempo, e que neste período do ano parece que se intensificaram. No Brasil de verdade, muito diferente do mundo fantasioso do ministro da Economia, Paulo Guedes, a economia, com exceção de algum setor, parou e não se sabe quando voltará a andar. O resultado do PIB divulgado pelo IBGE, indicando uma queda de 0,1% no terceiro trimestre do ano, coloca o país em “recessão técnica” ou em estagnação, como preferem muitos economistas. Os números apenas confirmam o que todos os analistas já sabiam e grande parte da população sente no bolso, no dia a dia.
A pandemia da Covid-19, em vias de completar dois anos no primeiro trimestre de 2022, com novas ondas que não permitem a volta à normalidade total, tem peso muito grande nesse resultado. O presidente Bolsonaro tem repetido que o lockdown, implantado por governadores e prefeitos contra a vontade dele, seria o único responsável pela crise econômica do Brasil. Entretanto, um trio de matemáticos da Universidade de Tecnologia e Design de Singapura desmontou a teoria de Bolsonaro com a utilização da teoria do paradoxo de Parrondo. Foram analisadas duas situações hipotéticas: numa delas, todos os participantes concordam com o lockdown; na outra, todos decidem manter tudo aberto. Ao longo do tempo, as duas estratégias se mostraram perdedoras. A do lockdown prejudica a economia, enquanto a da abertura impõe custo em sofrimento e perda de vidas. Com a aplicação do “paradoxo de Parrondo”, combina-se duas estratégias perdedoras, surgindo uma terceira vencedora: a alternância entre as estratégias da abertura e do fechamento acaba sendo a mais efetiva para reduzir os custos da pandemia, tanto econômicos quanto em vidas.
Para combinar estratégia de abertura e fechamento, isoladamente perdedoras, numa única estratégica vencedora, os políticos brasileiros – presidente, governadores e prefeitos – precisariam falar a mesma língua e colaborar entre si. Mais ainda, precisaria haver um único técnico e, principalmente, coordenação entre todos os jogadores. Nada disso aconteceu, tendo descambado para a polarização entre o “partido da saúde” e o “partido da economia”, para prejuízo e infelicidade do Brasil.
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Desde 2019, antes do início da pandemia, a economia do Brasil já vinha “devagar, quase parando”. Aí, falhas e a falta de rumo na condução da política econômica do país contribuíram, e muito, para esse quadro. As contas de energia dispararam, os combustíveis e alimentos pesam cada vez mais no orçamento das famílias. Quer dizer, estava de volta a inflação, definida, do ponto de vista teórico, como o aumento persistente do nível geral de preços.
Com o retorno de trabalhadores ao mercado, dispensados no início e durante a pandemia, mas com salários menores, o resultado é que a renda média cai ao menor nível em quase 10 anos, conforme série histórica do IBGE. Como consequência, o percentual de famílias endividadas só poderia crescer, atingindo 74,6% em outubro deste ano, o maior patamar em quase 12 anos.
As rendas extras que estão sendo pagas por esses dias – 13º salário, bonificações, participações em resultados, etc -, poderiam melhorar os números da economia, mas parte desse dinheiro vai ser usado para liquidar ou ao menos amortizar dívidas vencidas. Além disso, o presente processo inflacionário que, conforme apontam especialistas, deverá estender-se para o próximo ano e a preocupação com os possíveis desdobramentos da nova variante da Covid-19 – a Ômicron – faz com que o brasileiro fique mais cauteloso com o dinheiro, mesmo nesta época de apelo ao consumo quase desenfreado.
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Com o objetivo de alertar o brasileiro, a Folha On-line publicou, em 30 de novembro deste ano, o artigo “Como festejar Natal e Ano Novo sem se endividar”, em que relaciona alguns cuidados básicos:
Por fim, é prudente não deixar que o “espírito natalino” se transforme em desperdício ou endividamento. Confira algumas dicas para festejar e não ficar endividado ou até inadimplente, neste fim de ano:
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