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Natal de afetos e recordações

O Natal sempre remete a um momento de reflexão, balanço, prós e contras que emenda com as comemorações do Ano-Novo. Este, sim, um espaço para projetar uma nova jornada que chega a partir da meia-noite.

Mais do que nunca, a solidão que condenou a todos nós ao confinamento compulsório será pesada em 2020. O Natal dos reencontros, das ruidosas comemorações familiares regadas a comida e bebida e troca de presentes será raridade.

Será difícil definir o sentimento que permeia a todos nós depois de dez meses de tantas restrições, medo e mortes. A doença, que parecia distante, atravessou o mundo. Desconhecida, teve suas nuances omitidas pela China sob a conivência e covardia da Organização Mundial da Saúde. Faltou pulso para cobrar informações, prevenir o mundo, poupar milhões de vidas e proteger as populações mais sensíveis.

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Nascido no interior de um pequeno município do Vale do Taquari, para mim o Natal era um acontecimento especial. 

Começava com a busca de um pinheiro – de verdade e não um “made in China”! – que exigia um presépio “de fundamento”, como dizem na Fronteira. Íamos mato adentro buscar barba de pau nas árvores para ornamentar a árvore natalina.

Pequenos, ficávamos afastados da organização final da montagem do pinheiro, surpresa reservada para a véspera de Natal. Na noite feliz, íamos à igreja cantar no coral e no final recebíamos um Papai Noel de chocolate e alguns bombons.

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Ao chegar em casa, era o momento da cantoria, quando eu, minha irmã e, às vezes, meus primos fazíamos uma espécie de hora artística ao som de violão, flauta e acordeão. Também cantávamos músicas natalinas em alemão, e somente depois disso recebíamos os presentes, para depois jantar.

Hoje, a tecnologia, o consumismo e a mudança radical de costume tiraram muito do brilho humano que caracterizava o Natal. Se conseguir um pinheiro natural, certamente terei problemas com o Ibama, ou posso ser denunciado por um vizinho ecologista, que pretende se vingar pelo barulho que fiz no meu último aniversário.

Mais do que nunca, será preciso ficar confinado, distante dos afetos, da aglomeração de abraços carinhosos, de beijos estalados e lágrimas de alegria para bebemorar mais um ano. A tecnologia – novamente ela! – permitirá ligações de vídeos através dos onipresentes smartphones. Fazer o que, não é mesmo? Foi o que nos restou neste 2020 esfarrapado que se despede. Mas, ao contrário de anos anteriores, o sucessor não promete nada muito diferente.

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Sobreviventes? Resilientes? Teimosos? De tudo isso um pouco, para encarar os novos desafios. Aqui, neste cantinho da nossa Gazeta do Sul, onde passei dois anos maravilhosos e inesquecíveis da minha vida, continuarei fazendo confissões e projeções e degustando o contato virtual com os amigos leitores. Um Natal iluminado, de paz, saúde e muito amor!

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