Cultura e Lazer

Nápoles: A cidade e seu magnífico entorno

Aidir Parizzi Júnior
Exclusivo para o Magazine
aidirparizzi@ymail.com

A paixão do compositor de Aida e de La Traviatta por seu país natal e pela riqueza cultural acumulada na Itália resulta da diversidade sempre presente na península. Até meados do século 19, o território italiano era formado por vários países, dentre os quais a República de Veneza, Milão sob a família Sforza, a Toscana dos Medici, os Estados Papais, o Reino da Sardenha sob a Casa de Savoia (futuros reis da Itália unificada) e o maior deles, o Reino das Duas Sicílias com sua magnífica capital Nápoles.

Em torno do Golfo de Nápoles, história, belezas naturais, riqueza cultural e folclore se encontram para formar um dos expoentes da pluralidade italiana. Aos pés do vulcão Vesúvio, espalha-se uma região que deveria estar em qualquer roteiro turístico europeu. Além de Nápoles, estão ali as cidades romanas de Pompeia e Herculano, as ilhas paradisíacas de Capri e Ischia, Caserta com seu deslumbrante palácio real e as cidades costeiras de Sorrento e da Costa Amalfitana.

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A força histórica napolitana está refletida nos históricos castelos de Sant’Elmo, Castel Nuovo e no milenar Castel Dell’Ovo. E como se não bastasse o que vemos na superfície, sob as estreitas e sombrias ruas da região central está a Nápoles Subterrânea, com 470 quilômetros conhecidos de túneis, câmaras e catacumbas que remontam aos gregos e romanos. Do topo do Castelo de Sant’Elmo, a visão da cidade é estupenda, sempre sob a ameaça constante do Monte Vesúvio, único vulcão ativo da Europa continental.

A ensolarada Nápoles foi residência de artistas como Caravaggio (1571-1610) e Bernini (1598-1680), filósofos como Giordano Bruno (1548-1600) e poetas como Virgílio (70-19 a.C.), cuja tumba pode ser visitada na cidade. Em um aspecto menos glamoroso, a região segue sob forte influência da Camorra, organização criminosa nos moldes da máfia siciliana.

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A belíssima catedral do século 14 contém a Capela do Tesouro de São Januário (San Gennaro). Um belo relicário guarda o crânio e dois frascos do sangue coagulado do bispo e mártir napolitano. Reza a lenda que um desastre se abaterá sobre a cidade se o sangue de Januário (272-305) não se liquefizer no dia do santo, o que, milagrosamente ou não, sempre acontece.

Castelos como o Castel Nuovo refletem a história napolitana
Obras de arte de Herculano: preservadas pelas cinzas vulcânicas
Ruas da antiga cidade romana de Herculano
Muitos não conseguiram escapar da fúria do vulcão

Próximo à catedral está o primeiro hospital do mundo nos padrões que conhecemos hoje. No Hospital dos Incuráveis, fundado em 1521, a principal atração é a intacta e ainda ativa Farmácia Histórica, obra-prima do barroco-rococó construída em 1750. Nas prateleiras, quase três séculos de compostos misturam química e alquimia.

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Trazendo o sentimento ufanista de Verdi aos dias atuais, um amigo italiano me disse certa vez: “Quem precisa ir à Disneyworld para ver Mickey e Donald, quando se tem Nápoles e os napolitanos?”

Herculano

Boa parte dos visitantes de Pompeia (artigo de março de 2022) não visitam a outra cidade romana que a fúria do Vesúvio soterrou. Herculano foi coberta por 20 metros de material vulcânico, bem mais do que os quatro metros que cobriram Pompeia. Sobre Herculano, foi construída uma cidade moderna, hoje parte da região metropolitana de Nápoles.

A primeira fase da erupção de 79 d.C. atingiu Pompeia e foi um sinal de alerta para evacuar Herculano, atingida horas depois por uma onda piroclástica (cinzas e gases de até 250 graus centígrados) que invadiu a cidade a 160 km/h. Alguns dos 5 mil habitantes que ainda tentavam escapar via marítima – era uma cidade costeira na época – pereceram nas docas, onde mais de 300 esqueletos foram desencavados. A rapidez do evento e a alta temperatura preservaram estruturas de madeira, portas, artefatos, esculturas, móveis e até alimentos usados pelos romanos há 2 mil anos.

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Herculano foi encontrada durante a escavação de um poço em 1709, três décadas antes de Pompeia. A cidade era um refúgio para nobres romanos. Hoje, o menor número de visitantes e a riqueza das estruturas, pinturas e mosaicos fazem dela uma visita imperdível.

Ainda há muito a ser escavado, mas o que vemos hoje é fascinante. Caminhando pelas estreitas ruas e visitando as casas preservadas pelo vasto cataclismo, somos transferidos para o mundo real de uma cultura que definiu o ocidente. Por instantes, ao contemplar aquela longínqua realidade, tive a impressão de que o passado é que me observava.

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Bruno da Silveira Bica

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Bruno da Silveira Bica

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