A Igreja de 1738 e as ruínas laterais cimentam óleo de baleia e conchas. As baleias, uma vez avistadas, eram cercadas e aos poucos conduzidas num percurso sem volta. Embretadas ou encalhadas, não tinham como se safar do abate.
Contam-se histórias sobre a habilidade em confinar os cetáceos para lhes aplicar os golpes mortais. Vértebras, ainda hoje, são encontradas junto à orla, logo adiante, na praia do Tinguá. Semissoterradas, durante a maré baixa, amostram-se como o faziam seus corpos à época das chacinas. Uma ossada, já tornada porosa pela ação do tempo, pode ser reconhecida por entre os arbustos que sombreiam visitantes neste museu a céu aberto.
Poucos sabem do que está realmente registrado nas remanescências. Alguns ouviram falar, outros retransmitem o que os fôlderes destinados aos turistas ilustram. Mesmo espiando, através das frestas das portas fixadas nos marcos desgastados, pouco se consegue ver do interior da Igreja. Nas paredes muradas, algumas marcas de ganchos atiçam a curiosidade. A mesma que se faz presente ao visitar o atual cemitério, junto às ruínas e capela.
Assentado, nos degraus frontais da Igreja, um motorista do ônibus local lia a bíblia. Perguntado, sem olhar para o oceano à frente, se contentou com a resposta: “Pouco importa o que tudo isso significa. A Igreja sou eu, somos nós. O resto são muros e paredes”. Sem esperar mais perguntas, continuou sua leitura para logo a seguir transportar os poucos passageiros que aguardavam.
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Da parada junto à Igreja Nossa Senhora da Piedade, o coletivo seguiria pelas ruas do privilegiado contorno da Armação da Piedade, município catarinense de Governador Celso Ramos. Os passageiros, de tão habituados, talvez nem percebessem a beleza incomum que se repete a cada reentrância preservada, ou, em recuperação, de mar e orla.
Como não se extasiar com as encostas verdes que parceirizam mares em curvas inebriantes? Talvez a beleza excessiva nos distancie dela mesmo, nos tornando repetitivos cumpridores de tarefas e devoções. Estas importantes e necessárias, sim. Suficientes?
Por certo, de tanto ir e vir, as pessoas não deverão ter dado maior atenção à área onde quatro sambaquis encontram-se registrados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Sambaquis datados em mais de 5 mil anos. Como viviam aquelas pessoas? Quem eram? Com o que sonhavam? Deveriam amar sua moradia natural.
Provavelmente, em seu retorno, o motorista pouco caso faria dos oito degraus que conduzem ao sineiro, engastado numa janela aberta para o mar. O badalo enferrujado ainda insiste na permanência emudecida referendada pela recomendação em letras cansadas: “Não toquem os sinos”. Sinos calados pela dor das baleias trucidadas e nativos desterrados.
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