Final e início do ano são períodos de retrospectivas. Balanços que variam do confronto de investimentos financeiros a avanços como seres humanos. Esse último levantamento, cá entre nós, é o mais difícil e desafiador de todos. É uma prática que exige olhar-se sem disfarces no espelho da vida recente. Ou deitar, à noite, a cabeça no travesseiro para refletir com realismo. Julgar-se sem pudores, falsos moralismos e sinceridade constitui um ato de profunda maturidade raramente alcançável.
Desde a mais tenra idade, desenvolvemos uma tendência de terceirizar culpas pelos fracassos e resultados pífios diante de desafios impostos pela vida. Em nossa limitada concepção de vida, os outros são, sempre, culpados.
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É uma atitude cômoda, simplista e irreal. O desconforto com a falta de persistência ou de energia para superar obstáculos constrange, irrita e, por vezes, nos causa vergonha diante de metas previamente estabelecidas sem sucesso.
A tendência ao “balanço de final/previsões de início de ano” é chamada de “dezembrite” pelo genial cirurgião e também consagrado cronista J. J. Camargo. Recentemente ele escreveu, na crônica “Síndrome de fim de ano”, que isso cria a escravização pela eterna comparação com os outros.
A cultura do consumismo e da ostentação – que são marcas registradas da modernidade – gera contínuas frustrações. Para ser (e parecer) feliz hoje é preciso ter o que chamam “relevância nas redes sociais”. Isso exige expor detalhes da intimidade e obriga ao sorriso eterno. Como se a estampa ideal para visitar apenas lugares paradisíacos na companhia de gente linda.
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J. J. Camargo lembra que “somos só o que fazemos e que amadurecemos reconhecendo nossos limites”. Para não se machucar, ele dá algumas dicas preciosas. Segue:
1) Não repita os erros dos outros. Trate de ser original; 2) Evite ingenuidade de supor que as pessoas possam estar muito mudadas; 3) Não conte as suas queixas a quem não possa lhe ajudar. Elas seriam ouvidas como fofoca; 4) Em nome da sua saúde, renuncie às pessoas e às coisas que não lhe dão prazer; 5) Não exagere na autoestima. Perto de você, sempre haverá alguém fazendo melhor as mesmas coisas que você jurava não ter concorrência; 6) Só se preocupe com as críticas dos bem-sucedidos porque apenas essas têm chance de serem construtivas; 7) Não seja demasiado rigoroso com os incompetentes e irresponsáveis. Eles já estão punidos, todos os dias, por saberem o que são; 8) Você que já aprendeu que ser feliz é ótimo, descubra logo que melhor ainda é perceber que outros ficaram felizes por sua causa.
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