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Direto da redação

Não tem nada de ‘mas’

“Sou contra a violência, mas…” O que vem depois do “mas” costuma ser um problema, porque em geral é condescendência com atos violentos. Portanto, “mas” nada. O atentado contra Jair Bolsonaro não pode servir para relativizações ou, pior ainda, comemorações de parte dos seus adversários. Ainda que a agressividade no discurso tenha sido, até agora, característica do candidato do PSL, o momento é de reconhecer que o Brasil cada vez mais se afunda na barbárie e uma reação firme se faz necessária e urgente.    

Nunca vi uma campanha eleitoral como esta. Mas um caminho foi percorrido até chegarmos nesse ponto. Em março, houve o ataque contra os ônibus da caravana do PT, alvo de tiros no Pará. Ninguém ficou ferido, mas também nenhum responsável pelo crime foi identificado e punido. No mesmo mês, a vereador Marielle Franco, do Psol, foi assassinada a tiros junto com Anderson Mathias Gomes, no Rio de Janeiro. Ninguém foi responsabilizado pelo duplo homicídio até hoje.   

Diante da absurda ausência de reação efetiva, era óbvio que a violência política iria continuar. Impossível esperar outra coisa. Esse é o desdobramento previsível de uma guerra iniciada nas redes “sociais” (e é melhor usar entre aspas, porque de sociais nao têm mais nada). Discutir política é uma coisa. Outra – bem diferente – é acreditar, por exemplo, que em um país desrespeitado por políticos de todas as bandeiras desde sempre, só um partido é corrupto e basta eliminá-lo para restaurar a moralidade. É algo tão infantil quanto chamar um deputado federal de “mito” ou um ex-presidente de “santo”, mas esse é o nível do debate político hoje. No Brasil, cada vez mais pessoas acham que ser “politizado” é ser um fanático.

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A repercussão do atentado contra Bolsonaro mostrou que militantes de direita e esquerda têm mais em comum do que gostam de admitir. Ambos espalharam notícias falsas. Assim como, em março, grupos da direita afirmaram que os tiros contra a caravana haviam sido forjados por petistas, à esquerda condenaram a “farsa” montada em Juiz de Fora para alavancar a candidatura do deputado. Divulgaram fotos antigas dele como se fossem do dia do ataque, “revelaram” uma conspiração montada em conjunto com a Globo (Mesmo sem audiência e numa época em que boatos do WhatsApp influenciam mais gente do que tudo, a Globo mantém inabalável seu status de manipuladora/destruidora de cérebros.) Nem conspiração da Globo, nem do PT.  

Conter a escalada da violência política exige, em primeiro lugar, reconhecer que a violência existe. Considerar que “fato” é apenas aquilo no que eu quero acreditar não ajuda em nada. Sim, porque existem os fatos. E eles não dependem nem da minha, nem da sua opinião.  

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