Há dez anos o Brasil vivia uma das suas maiores tragédias. Em 27 de janeiro de 2013, um incêndio durante uma festa em uma casa noturna em Santa Maria matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos. A luta por justiça dos sobreviventes e pais de vítimas é o mote da série documental Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria, que estreia hoje no Globoplay.
Em cinco episódios, a produção refaz, passo a passo, a sucessão de acontecimentos que levaram à morte de tantos jovens e mostra as reviravoltas de um processo judicial cujo desfecho permanece imprevisível. A série é conduzida e dirigida pelo jornalista Marcelo Canellas, 57 anos, repórter do programa Fantástico, da TV Globo. Ele preparou um mergulho profundo na história dos principais protagonistas dessa trajetória de dez anos, em que ninguém foi responsabilizado até agora. Em entrevista à Gazeta do Sul, Canellas detalhou a produção e explicou por que é importante não deixar essa história cair no esquecimento.
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“O terceiro episódio da série mostra minha ida até Buenos Aires, onde ouvi sobreviventes e familiares de vítimas do incêndio na boate Cromañón, onde 194 morreram e que foi praticamente um passo a passo do que aconteceria na Boate Kiss, nove anos depois. Boate superlotada, com mais gente do que deveria, banda tocando, artefato pirotécnico, espuma tóxica e falta de saídas de emergência”, contou. Pelo delito no país vizinho, banda, donos da boate e agentes públicos foram responsabilizados, incluindo funcionários da prefeitura responsáveis pela fiscalização.
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“A grande diferença da Kiss para a Cromañón foi que os argentinos têm uma maneira de prestar contas com o passado que é ficar cara a cara com seus erros. Eles fizeram isso na ditadura militar, e o que nós fizemos foi o oposto, em uma tradição brasileira da acomodação, do conchavo, do esquecimento, de pensar que vamos superar não falando mais nisso. Quando a gente sabe que o não falar mais é a porta aberta para o erro se repetir, que é o aconteceu no Brasil. Quantas tragédias aconteceram depois da Kiss, como Brumadinho, Mariana, Ninho do Urubu e tantas outras”, complementou.
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Conforme Canellas, que passou a infância e a adolescência em Santa Maria, tendo se formado na mesma universidade onde boa parte das vítimas estudava, a ideia da série documental surgiu quando o julgamento foi marcado, originalmente para Santa Maria. “Eu propus ao Globoplay que se fizesse um documentário a partir da provocação dos meus parceiros da TV Ovo de Santa Maria. Como eles acompanharam a trajetória da associação dos familiares das vítimas ao longo dos anos, eu os apresentei ao Globoplay, que em vez de um documentário sugeriu uma série documental tendo o julgamento como pano de fundo e recontando a história do caso.”
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Após um ano e meio de trabalho, foram ouvidos sobreviventes, familiares de vítimas, réus, envolvidos da Justiça e polícia, com vistas ao julgamento que, naquele momento, já havia sido deslocado para Porto Alegre. “Nossa ideia era que o fecho fosse a sentença, só que o julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça, e o desfecho passou a ser o não desfecho, o que mostra muito a cara do Brasil. Nada mais da tradição brasileira do que empurrar nossas dores com a barriga, que é o que fizemos ao longo da história.”
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“Mostramos o movimento cidadão que vai contra isso, dos pais e sobreviventes, que se recusam ao apagamento da história, a se submeter ao silenciamento, ao esquecimento, e que continuam cobrando por justiça e não vão descansar enquanto essa justiça não vier. A série documental tem a virtude de fazer um mergulho profundo na história dos principais protagonistas dessa trajetória.”
Marcelo Canellas relembra que ele estava de férias em Brasília quando o incêndio aconteceu. “Fui para Santa Maria na primeira semana. A primeira matéria que fiz para o Fantástico foi com familiares de vítimas, e depois nunca mais me desliguei do tema. Passei ao longo dos anos cobrindo e propondo reportagens sobre temas correlatos e desdobramentos da tragédia.”
O jornalista da TV Globo recorda quando conheceu o diretor do Colégio, Mauá Nestor Raschen, que perdeu o filho Matheus, de 20 anos, na tragédia. “Estive com ele várias vezes, inclusive no colégio. Conheci a história do seu filho. Seu Nestor é uma figura maravilhosa, iluminada, que falou ao longo dos anos e nos ajudou a contar a história da Kiss. Acho que a postura dele, e de vários outros familiares que levam à frente essa luta, é de defender a memória do filho, de não esquecer para não repetir o erro”, disse Canellas.
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Para ele, essa é uma discussão central sobre o Caso Kiss. “A gente deve se colocar no lugar do outro e a série documental gostaria de ser isso, de recuperação de conceitos tão caros para a humanidade, como solidariedade, acolhimento, aconchego, de que essas famílias tanto precisam.” Para quebrar o gelo ao final da entrevista, Canellas relembrou os amigos que têm em Santa Cruz, em especial do ex-professor do Curso de Comunicação Social da Unisc, Leonel Aires. “O Leonel é meu grande amigo da época de faculdade. Conversamos seguidamente, inclusive essa semana. Tenho uma relação com Santa Cruz e também é passagem da Lisaruth, onde eu não resisto em comprar uma cuca.”
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