No ano em que Dilma Rousseff perdeu o cargo de presidente, em 2016, a grande imprensa brasileira fazia coro estridente para apontar a corrupção do governo, sua ineficácia e a necessidade de mudanças urgentes – que acabaram se concretizando no impeachment. Não houve semana sem que alguma manchete, capa ou chamada batesse nessa tecla, estimulada pelas denúncias da Lava Jato. Para os adversários daquele governo, na época, os jornalistas eram dignos de confiança e não faziam nada mais que o seu papel. Ninguém falava em “extrema imprensa” e outras bobagens.
Cinco anos depois, a mesma mídia – e, sim, falo dos veículos que publicaram editoriais veementes contra as gestões petistas – é enxovalhada pelo governo atual e simpatizantes. Jornalistas são “comunistas”, “esquerdopatas”, inimigos do povo, traidores da pátria, etc. e tal. É certo que o brasileiro tem memória fraca, mas só um grave quadro de amnésia pode fazer alguém esquecer totalmente da postura da mídia “petista” nos meses que precederam a queda de Dilma. Amnésia ou falta de honestidade, o que certamente é pior.
Há quem acredite que o papel do jornalista é somente elogiar quem está no poder. Jamais fazer qualquer crítica ou acusação, apenas enaltecer, enfatizar os “pontos positivos” e deixar um pouco de lado os negativos. E, de fato, há jornalistas que têm essa função mesmo: são os assessores de imprensa, em geral pagos pelo governo. Se nunca, em nenhum tipo de circunstância, em nenhum assunto, o profissional tem algo a dizer além de louvores a este ou aquele chefe político de ocasião, ele é tudo menos isento.
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Porque “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. O resto é publicidade”, já escreveu alguém. Nesse sentido, realmente não pode existir jornalismo a favor. Mesmo que a liberdade de imprensa não seja absoluta, mesmo que a mídia possa – e deva! – ser criticada (o que está longe de agredir pessoas e ameaçá-las de morte), isenção não tem nada a ver com propaganda e defesa incondicional. Como alguns querem.
Segundo relatório da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), em 2020 houve 420 casos de ataques à liberdade de imprensa no Brasil. Foi o ano mais violento desde o início do levantamento, na década de 1990. A seguir nesse rumo, a Coreia do Norte surge no horizonte.
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