Erasmo Carlos não tinha nem 30 anos, mas já se sentia um “velho” em 1968. A Jovem Guarda perdia influência no cenário artístico, o parceiro Roberto abandonava o rock e criava uma nova identidade musical. Ao mesmo tempo, surgia a Tropicália com Caetano, Gil, Gal Costa, Mutantes… Era outra visão de mundo, uma postura mais ousada que a dos garotos da Rua Augusta, nas roupas, no cabelo, na imaginação poética, em tudo. Erasmo não entendia aquilo muito bem. Decididamente, o “Tremendão” estava ultrapassado.

Então, ele fez o que podia fazer: adaptou-se. Lançou em 1971 o que os críticos consideram seu melhor disco, Carlos, Erasmo, fortemente influenciado pelo tropicalismo. A faixa de abertura, De Noite na Cama, não por acaso é uma composição de Caetano Veloso.

Era uma via de mão dupla. Artistas da Tropicália haviam sido influenciados pela Jovem Guarda, sobretudo no que diz respeito à incorporação de guitarras elétricas e rock na música brasileira. E uma das canções mais emblemáticas de Gal Costa, Meu Nome é Gal, foi escrita por Erasmo. Anos mais tarde, ele diria que o tropicalismo foi “a Jovem Guarda com consciência”.

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Erasmo Carlos morreu nessa segunda-feira, 21. Com isso, o Brasil perdeu não apenas o criador de dezenas de clássicos (com e sem Roberto) que fazem parte da vida de milhões. Perdeu um pouco – mais um pouco – de civilidade. Quem o conheceu tem uma imagem definida: de um artista receptivo, generoso com todos e avesso a estrelismos. Daí a razão de outro apelido, “Gigante Gentil”. Apesar do 1,93 metro, a “fama de mau” não lhe fazia muita justiça.

Nos últimos tempos, Erasmo andava chateado com a hostilidade constante nas redes sociais. “Quando comecei a trabalhar com internet, me assustou muito a agressividade das pessoas. Fiquei horrorizado”, afirmou em uma entrevista. Até em resposta a isso, compôs a música Gigante Gentil, lançada em 2015.
“Mesmo hostil, um gigante pode ser gentil”, diz a letra. Quase saindo de cena, uma declaração de princípios. Erasmo nunca temeu nem odiou o que lhe era estranho, diferente. Pelo contrário. O Brasil de hoje não está à altura dele.

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