Agronegócio

“Não entendo o que o Brasil faz na COP”, diz presidente da Associação Internacional dos Produtores de Tabaco

Incredulidade. Esse é o termo que a maior liderança mundial no cultivo de tabaco usa para expressar seu sentimento em relação à presença brasileira na Convenção-Quadro para Controle do Tabaco. O argentino José Javier Aranda preside a Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA) e está na Cidade do Panamá para acompanhar a 10ª Conferência das Partes (COP-10) do tratado global, no âmbito da Organização Mundial da Saúde (OMS), que debate meios de reduzir os impactos do tabagismo.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Sul, Aranda demonstrou seu estupor com o fato de a representação brasileira ter voz forte e ativa na conferência francamente contrária ao tabaco, e inclusive como proponente de medidas que poderiam ter impacto direto na cadeia produtiva. “Não entendo isso. Parece que são dois Brasis: um que é um dos maiores produtores mundiais de tabaco, e há mais de 30 anos é o maior exportador mundial, com um mercado conquistado com eficiência e qualidade”, referiu. “E outro, esse que ratificou uma Convenção-Quadro que quer minar essa cadeia produtiva, formada amplamente por pequenos produtores rurais familiares. Mas isso não é jogar contra o próprio time? Vêm aqui atacar seus próprios agricultores e minar a economia das regiões apoiadas nessa atividade. Quem explica isso?”

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Na entrevista, Aranda citou que o seu país, a Argentina, jamais ratificou o acordo global, nem pretende fazê-lo. Assim como os Estados Unidos, outro grande produtor mundial de tabaco e que era o líder das exportações antes que o Brasil tomasse esse posto, em 1993. Essas duas nações em nada estão comprometidas com termos debatidos ou propostos para implementação ou com restrições a partir de uma COP.

“Sou da opinião de que o último país do mundo que deveria estar na Convenção-Quadro e na COP é o Brasil. E, para minha incompreensão, é o que até tem algumas das pessoas mais influentes e intransigentes contra o tabaco, aqui na COP. Pois essas pessoas deviam ser declaradas não gratas dentro de seu país!”, comentou.

Além do presidente, a diretoria da ITGA está representada no Panamá pela chefe-executiva Mercedes Vázquez. Afiliada da ITGA, a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) está presente com o vice-presidente Romeu Schneider, também presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Tabaco, e o tesoureiro Fabrício Murini.

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Vários países enviaram delegações de produtores que na manhã da abertura, na segunda-feira, iniciaram uma caminhada cujo objetivo era chegar até o centro de convenções, local de realização da COP. Mas, por ação da organização da Conferência, esse grupo foi barrado já no primeiro posto montado por policiamento do Exército panamenho, e não pôde ir adiante. Esses produtores vêm de nações como Argentina, Brasil, Panamá, Nicarágua, Colômbia, Honduras e México, entre outras.

Aranda refere que, na atualidade, a cadeia do tabaco no mundo envolve em torno de 400 milhões de produtores. De forma direta ou indireta, mais de 380 milhões de pessoas obtêm seu sustento a partir dessa atividade. Está presente em países muito populosos, como China, Índia e Bangladesh. No Brasil são em torno de 130 mil produtores, com produção de cerca de 600 mil toneladas, das quais em torno de 90% é exportada para mais de 100 países.

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Já na Argentina, informa Aranda, são em torno de 16 mil produtores, com expectativa de que esse número chegue em breve a 20 mil produtores. A produção atual é de 100 mil toneladas, a sexta parte do que é colhido no Brasil. Cerca de 60% do tabaco argentino é da variedade Virgínia, que corresponde a mais de 90% do produto brasileiro, enquanto o restante na Argentina é de Burley e uma pequena parcela de Crioulo.

Aranda ainda cita o perfil de vanguarda e de referência para todo o planeta do sistema integrado de produção no Brasil. “Nenhum outro país implantou um modelo mais eficiente do que esse, com amplo controle de qualidade e um exemplo em gestão ambiental para todos os demais”, frisou. “E esse país é que ratifica a Convenção-Quadro e envia gente para cá para combater essa atividade, tão importante para a economia como um todo e para os pequenos produtores? Como entender algo assim?”

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Romar Behling

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