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ELEIÇÕES 2022

“Não é só a rejeição que seduz o eleitor”, diz cientista político

Foto: Banco de Imagens/Gazeta do Sul

Embora a rejeição seja um fator determinante em uma disputa polarizada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terão que apresentar uma “agenda propositiva” para vencer a eleição de outubro. A análise é do cientista político Carlos Borenstein, que palestrou nessa terça-feira, 19, na reunião-almoço Tá na Hora, da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz do Sul.

Analista da empresa de consultoria Arko Advice, ele entende que as taxas de rejeição tanto de Lula quanto de Bolsonaro serão decisivas. Assim como em 2018 o antipetismo e o desgaste da política tradicional favoreceram o êxito do atual presidente, em 2022 o antibolsonarismo também terá papel relevante. Com isso, sobretudo no provável segundo turno, ficará mais próximo da vitória quem conseguir administrar melhor a própria rejeição.

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Segundo Borenstein, porém, é preciso lembrar de exemplos como o da eleição para o governo do Rio Grande do Sul em 2002, quando Antônio Britto e Tarso Genro travaram uma queda de braço fratricida, o que permitiu a inesperada ascensão de Germano Rigotto. Isso significa que, a depender do grau do radicalismo do embate entre os dois candidatos principais, a polarização pode perder força. “Lula e Bolsonaro precisam desse embate, mas não é só a rejeição que seduz os eleitores. Eles vão ter que construir uma agenda propositiva”, observou.

Para ele, essa agenda terá como foco a economia, que deve ser a pauta primordial da eleição. Ao contrário de 2018, quando o cerne da disputa foi a crítica à política, temas como desemprego e custo de vida estão no topo das preocupações do eleitorado. “A opinião pública vai demandar das candidaturas propostas econômicas, uma agenda de futuro. E esse é o desafio de Lula e Bolsonaro, assim como das candidaturas de terceira via”, comentou.

Em entrevista coletiva antes da palestra, Borenstein também falou sobre os pontes fortes e fracos de Lula e Bolsonaro e o potencial da terceira via, além de outros tópicos. O evento no Hotel Águas Claras Higienópolis previa um painel do qual também participaria o especialista em marketing político Fábio Bernardi, que cancelou de última hora a presença por causa de um problema de saúde.

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Borenstein: “Opinião pública vai demandar das candidaturas propostas econômicas” | Foto: Rafaelly Machado

Cenário no RS é “bastante imprevisível”

Se no plano nacional ainda não há sinais concretos de reversão da tendência de polarização, o cenário da disputa pelo governo do Rio Grande do Sul é muito mais complexo. Isso porque tanto o campo bolsonarista, que é a grande novidade da eleição, quanto a esquerda estão fragmentados. No caso da direita conservadora, são pré-candidatos o ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e o senador Luis Carlos Heinze (PP). Já na esquerda, são três nomes no jogo: o deputado estadual Edegar Pretto (PT), o ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) e o presidente do Grêmio Romildo Bolzan (PDT), que ainda não confirmou se pretende concorrer.

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Outro fator relevante é a expectativa de uma candidatura competitiva no grupo que representa o governo atual. Para Borenstein, o êxito da gestão em revitalizar as finanças públicas e promover reformas estruturantes em um estado com histórico estatizante deve ser um elemento de peso na eleição, enquanto tanto os candidatos bolsonaristas quanto os da esquerda ainda não apresentaram uma narrativa para além do (possível) apoio de Lula e Bolsonaro. “Em termos de atributo para construção de marketing, existe um potencial de crescimento para o candidato que representar o legado de Leite e Ranolfo”, analisou.

O analista, porém, considera a eleição estadual “bastante imprevisível”, o que se reflete nos baixos percentuais e nas pequenas margens entre os candidatos nas pesquisas de intenção de voto, além do alto volume de eleitores sem candidato (brancos, nulos e indecisos), que chega a quase 50%. “Falta clareza. Quem vai ser o candidato do presidente Bolsonaro no Estado? Temos duas alternativas. Quem vai ser o candidato do ex-presidente Lula? Temos três nomes. E se pegarmos os nomes cogitados para representar o governo Leite, o Ranolfo assumiu agora e é um nome desconhecido e o Gabriel Souza é um nome importante, mas no mundo político e não na opinião pública”, avaliou.
Borenstein ainda destacou outro aspecto que torna o panorama ainda mais aberto: em todas as eleições estaduais realizadas entre 2002 e 2018, o candidato vencedor largou em desvantagem nas pesquisas.

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OUTROS PONTOS

Polarização e vantagem de Lula

Embora não trate como definitiva, Borenstein afirmou que a tendência de uma disputa presidencial polarizada entre Lula e Bolsonaro está “muito consolidada” e é o quadro mais provável para a maioria dos analistas hoje. O mesmo não pode ser dito em relação à vantagem de Lula, apontada na maioria das pesquisas de intenção de voto até agora: medidas econômicas tomadas recentemente pelo governo, como a antecipação do 13o salário do INSS e o saque do FGTS, podem fortalecer o atual presidente. Segundo Borenstein, o grande desafio de Bolsonaro é a rejeição – bem superior à de seus antecessores que se elegeram –, a desaprovação da atual gestão econômica e a expressiva vantagem de Lula junto à população com renda de até dois salários-mínimos, o que compreende cerca de 45% do eleitorado.

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Ativos de Lula e Bolsonaro

Para o analista, o ponto forte do atual presidente é uma militância orgânica que se mantém muito fiel a ele. Trata-se, de acordo com Borenstein, de uma “nova direita socialmente estruturada” que surgiu a partir dos protestos de 2013, da Operação Lava Jato, do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão de Lula. “Se observarmos os índices de intenção de voto, é um eleitor que não abandonou o Bolsonaro nem no pior momento do governo. É uma tarefa muito complexa para os adversários do presidente fazer ele perder esse eleitorado”, observou.
No caso de Lula, Borenstein acredita que seu grande trunfo é a memória do último período em que o País registrou um crescimento econômico robusto., sobretudo junto à parcela da população que ascendeu socialmente entre 2002 e 2010. “Como a economia será o carro-chefe da eleição, existe essa fortaleza por parte do Lula. Mas existem também o sentimento contra o PT e as denúncias de corrupção”, observou.

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Terceira via

Quanto ao potencial da terceira via, Borenstein observou que, enquanto os pré-candidatos desse campo têm juntos entre 15% e 20% nas pesquisas, Lula e Bolsonaro somam em torno de 75%. Para além das intenções de voto, no entanto, o grande desafio do grupo é chegar a um alinhamento interno e oferecer algo além da rejeição aos principais candidatos. “Hoje vemos muito mais divergências do que convergências. Não enxergamos nenhum dos atores conseguindo construir um programa atraente, de modo a fazer com que eleitores troquem Bolsonaro ou Lula por outra opção. Não há sequer um candidato”, analisou.

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Leite-Tebet

Questionado sobre quem, entre os pré-candidatos da terceira via, teria potencial maior para furar a polarização, Borenstein citou dois nomes: o ex-governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) e a senadora do Mato Grosso Simone Tebet (MDB). O potencial está, principalmente, na rejeição baixa de ambos. “Creio que uma chapa com os dois tende a ter um apelo eleitoral maior”, disse. Ainda segundo Borenstein, Leite é quem teria condições melhores de encabeçar a dobradinha, em função das realizações no governo, do carisma e por estar entre os políticos responsáveis pela transição geracional na política brasileira.

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Congresso

A tendência, segundo o analista, é de que a futura composição do Congresso Nacional seja predominante de direita e do chamado Centrão, com um espaço minoritário para a esquerda. Isso deve acontecer, conforme ele, mesmo em caso de vitória do ex-presidente Lula. “Caso eleito, ele terá que formar um governo pluripartidário e fazer muita articulação”, observou.

Moro

Para Borenstein, o ex-juiz Sérgio Moro, que retirou a pré-candidatura após trocar o Podemos pelo União Brasil, saiu do processo eleitoral menor do que entrou. Ainda que concorra a deputado federal por São Paulo, com chances de se eleger e ser um puxador de votos para a sigla, seu protagonismo na eleição deve ser muito inferior ao que parecia. Isso, conforme o analista, é decorrente de erros cometidos por ele. “Em menos de quatro meses, ele está no segundo partido. Em certa medida, ele está, perante o eleitorado, fazendo um jogo da política tradicional à qual ele havia construído um discurso crítico desde que foi juiz da Lava Jato”, comentou.

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