Via de regra, quem vem a Santa Cruz sai com uma boa impressão. Como já falei por aqui em outras ocasiões, é difícil encontrar, ao menos em nível de Brasil, município que ofereça condições elevadas de qualidade de vida combinadas a uma estrutura tão completa de serviços tal qual conhecemos. Frutos da trajetória de um povo organizado e visionário.
Talvez por isso me chame tanto a atenção a dificuldade que temos de nos livrar de alguns velhos problemas. E o exemplo mais visível neste momento é a falta d’água. Quando leio manchetes como a que a Gazeta estampou em meados de dezembro, sobre pessoas que passaram 50 horas com as torneiras secas em casa sob um calor de 40 graus, a sensação que tenho é: isso não combina com Santa Cruz. A cidade que há pouco figurava entre os cinco maiores PIBs do Rio Grande do Sul não merecia enfrentar esse drama a cada verão. Em 2018, completa-se uma década desde que o antigo contrato com a Corsan foi denunciado pela Prefeitura, o que significa que tempo não faltou para corrigir essa situação. Mas as desculpas são muitas e a fiscalização é pouca. Não combina.
Outro exemplo: Carnaval. Pelo segundo ano consecutivo, as escolas de samba não vão desfilar. A discussão sobre qual o modelo adequado de financiar a festa é antiga e curioso que até agora não se tenha chegado a um consenso. Enquanto isso, municípios menores, como Encruzilhada do Sul e Rio Pardo, mantêm a tradição viva e se valem de seus dividendos com tranquilidade. Confesso que tenho dúvidas sobre qual deve ser o tamanho da participação do poder público nesse financiamento, mas lamento que, independente de governos, a incapacidade de se chegar a um acordo esteja sacrificando algo que é importante para uma significativa parcela da comunidade. Não combina.
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E vou além: o lixo. O descaso de boa parte da população com a forma como os resíduos domésticos são descartados é alarmante, e basta um rápido passeio pela zona urbana para constatar. Temos hoje contêineres e coleta seletiva, mas muitos ainda não se importam sequer com o básico, que é separar secos e orgânicos e acondicionar. Ainda não conseguimos nos livrar dos depósitos irregulares (inclusive em alguns dos principais acessos à cidade) e das montanhas de lixo nas calçadas – às vezes, por incrível que pareça, no entorno dos contêineres. Não é, de fato, um problema apenas de Santa Cruz, mas boas ideias e empreendedorismo não nos faltam para avançar. Por que não avançamos, não sei.
Diz a canção que quando a gente gosta, a gente cuida, e por isso esses velhos nós que não se desatam são tão difíceis de entender. Assim como não entendo por que os nossos cinemas têm tantos filmes dublados. Não é um problema grave, eu sei. Mas não combina.
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