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Não aprendi dizer adeus

Os irmãos Leandro e Leonardo (nomes artísticos) ganharam o Brasil mostrando não terem aprendido a dizer adeus, reforçaram que nem sabiam se iriam se acostumar. Sendo, ou não, um adepto do sertanejo/romântico, tenho essa mesma dificuldade. Não sei dizer adeus. E isso vale para quase tudo. Sou o inimigo do fim, na balada. Em uma reunião com amigos, no bar, viro praticante do conceito do grupo de pagode Atitude 67: “Se a saideira é saideira, porque é que estou no bar?… Traz mais uma saideira, que é pra gente terminar”.

Quando deixei minha última redação, antes de vir para a Gazeta do Sul, publiquei o texto que reforçava essa dificuldade de dizer adeus. Foi tanto, que os colegas aprenderam a música de Leandro e Leonardo e cantaram na festinha de despedida. Ah, cruel “até logo”, que parece cortar o coração como se não tivesse mais a oportunidade de olhar para aqueles profissionais, que passara a chamar de amigos. E olha que ficamos a míseros 80 quilômetros de distância, ou seja, poucos minutos e dois pedágios.

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O mais incômodo, no entanto, é a certeza de que não será possível um reencontro, pelo menos, no plano terrestre. Seria, talvez, mais fácil aceitar, como cantou Nelson Gonçalves, se estivéssemos preparados para a única das certezas que temos na vida: a morte. O vozeirão eternizou: “Se eu soubesse o quanto dói a vida. Essa dor tão doída não doía assim”. Não quero questionar o boêmio, mas acredito que saiba e, mesmo assim, dói.

O gatilho para vasculhar recordações e angústia com as despedidas foi a morte da atriz Lolita Rodrigues. É claro que não tinha proximidade alguma com a estrela nacional, mas por saber da relevância que teve para a história de um dos mais importantes veículos de comunicação: a televisão, sinto-me tocado. Por acompanhar a amizade de três sorridentes ícones: Hebe Camargo, Nair Bello e Lolita Rodrigues, sinto a sua partida como se fosse o fim de uma era. Como vamos, simplesmente, ignorar tudo o que representaram para a classe artística, para o empoderamento feminino, para as boas gargalhadas, mesmo que rindo de tudo, como desespero, como alertou Frejat?

Lolita, Nair, Hebe e outras tantas foram mulheres à frente de seu tempo, que abriram caminhos para que, hoje, todas estejam mais próximas de um mundo igual. Elas fizeram como “a morena Angola, que veio com o chocalho amarrado na canela”. Mas mais do que balançar o chocalho, elas levantaram bandeiras, foram, a seu modo, como Anita (a Garibaldi), que tinha “um filho num braço, no outro um fuzil”. E, mesmo sabendo que cumpriram o seu papel, sem saber dizer adeus, parafraseio a cantora Roberta Miranda: “Vá com Deus!”.

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Guilherme Bica

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