Colunistas

Na toca do leão

Por onde passa, aquerencia-se. Nasceu na ilha de Marajó, berço comunitário que encontra no açaí o meio de subsistência. Em Belém amanheceu seus estudos filosóficos e teológicos. Ganhou o país, conheceu a Europa, vivenciou Jerusalém, aportou no Rio Grande do Sul.

Agora, há quase dois anos, coexiste no Bairro Santa Vitória, aqui em Santa Cruz do Sul. Coexiste, pois habita com seu povo, pássaros, árvores, o cachorrinho “Príncipe” e um oratório. Ao nos receber, de pronto, nos levou às amoreiras, ingazeiros, goiabeiras, por ele plantadas, e já sombreando os pássaros que ali compartilham alimento, água e bem querer.

Onde beirara um lixão, agora verdejam árvores dialogantes com a diversidade emergente. A seguir, ele nos conduz à sala, que emenda com a cozinha. Um banner ilustra a parede. Figuram bispos, dioceses, instituições e eventos de suas itinerâncias. Fotos de pessoas próximas completam o cenário de quem chegou aos 75 anos e se encontra jubilado.

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Após insistir no convite para conhecermos Marajó, sua “primeira toca”, pois é assim que chama suas estadias, ele nos conduz ao oratório, também chamado de “cantinho de Deus” e “lugar do silêncio”. Ajoelha-se, reza. Mostra como abre o sacrário doméstico.

Aponta para a imagem de Cristo, que a tudo observa. Sua espiritualidade é cativante. Segundo Leoni Cristina Kessler Vila, devota de Nossa Senhora de Schoenstatt e agente de viagens, ele, quando das refeições, coloca um pratinho especial. É para Deus, seu amigo, confidente, guia e mestre.

Retornamos ao fundo da morada. Ele afaga as plantas, verifica se não falta água, admira as aves que saltitam livres, explica como ajeitou as costaneiras de eucalipto, que espacializam o terreno. Já de saída, à pergunta de como se sustenta, não se faz de rogado.

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Diz que nada lhe falta, que está feliz no superlativo. Brinca que optou por “ser” ao invés do “ter”, porque ser começa com “s” de Silva, seu sobrenome. Sim, ele é o padre Leão Gomes da Silva. Nada teme, a todos busca se dedicar. Atende a sete comunidades. Gosta do lugar, o Centro Missionário de Evangelização Irmã Vitória. Gostaria de ali permanecer por “uns trezentos anos…”.

Ele, um São Francisco, chamado Leão, sonha com sua terra natal, a marajoara ilha. Lá flui com as águas, emaranha-se na natureza. Mesmo assim, não desdenha o concreto das cidades. Entende que se pode viver em qualquer lugar, sem destruir a natureza. Exemplifica sua predisposição coexistencial ao dizer que “gramática sem prática é alma sem corpo”. Ao nos despedirmos, lhe pedi uma frase sobre si mesmo: “Sou um jequitibá”.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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