Na Escola Estadual de Ensino Médio José Mânica, de Santa Cruz do Sul, os alunos ainda precisam esperar o sinal que indica o recreio. Assim como em outras 24 escolas da área de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE), por lá alunos e professores vão estar dentro de salas de aula até janeiro, recuperando dias letivos e horas/aula em função da greve do magistério estadual.
Três mil alunos e 100 professores da região vão encerrar o ano letivo de 2017 somente em janeiro do ano que vem. A última vez em que houve uma paralisação tão expressiva foi em 1987, durante o governo de Pedro Simon – foram 96 dias de greve. No Mânica 37 professores e sete funcionários aderiram ao movimento, que buscava o fim do parcelamento dos salários e melhorias para a educação pública.
A maioria dos professores retornou às atividades em outubro, conforme a diretora da escola, Daiane Lopes. Imediatamente, começou a recuperação dos dias letivos aos sábados. Ontem teve início a recuperação em turno inverso, com um calendário montado conforme as necessidades de disciplinas específicas. “É provável que a frequência de alguns alunos seja prejudicada durante o período, porque eles trabalham”, comenta.
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Cada caso está sendo estudado em separado, variando conforme justificativas apresentadas pelo aluno e histórico de desempenho em trimestres anteriores. “A recuperação está sendo bem rigorosa, com estudo de todo o conteúdo programado. Não queremos que eles cheguem despreparados no ano seguinte”, diz. Na semana entre o Natal e o Ano-Novo, no entanto, evitaram atividades avaliativas, pois muitas famílias informaram viagens programadas.
O último dia de aulas no Mânica será em 20 de janeiro, para o 1º ano do ensino médio e para o 7º ano. As demais turmas, de acordo com Daiane, serão liberadas à medida que os professores forem cumprindo a carga horária determinada para cada disciplina.
“Foi necessário”
Recuperando uma aula no laboratório de informática, a professora de Língua Inglesa e Língua Portuguesa e Literatura, Gládis Goulart, relata que, apesar de querer estar em férias, tem consciência de que a greve foi necessária para dar destaque à necessidade de uma escola pública de qualidade. “Foi necessário, no futuro vamos perceber isso.” Segundo ela, além de a recuperação ser cansativa, há o desgaste emocional. “Estamos aqui, dando aulas e tendo que fazer empréstimo para ter o 13o salário, que é um direito nosso”, completa.
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ESTRUTURA
Uma das principais dificuldades do período de recuperação da greve é espaço, já que um maior número de alunos passa a frequentar a escola no mesmo turno. Na José Mânica, isso se torna ainda mais difícil, pois são utilizadas salas modulares no dia-a-dia, em função do desabamento do prédio há cinco anos. “Os professores estão se virando, dando aulas no pátio, no quiosque, no laboratório de informática…”, diz a diretora Daiane Lopes.
Além disso, a organização é dificultada porque o horário muda a cada dia. “Temos que controlar a circulação dos alunos, montar grades de horário diferentes e garantir que eles mantenham a disciplina”, explica.
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