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Na pandemia: novos negócios e os desafios para seguir prosperando

A pandemia modificou todos os setores da vida humana. Além das incontáveis mortes, transformou o modo de estudar e de trabalhar. Alguns, que estavam empregados, perderam seus empregos em razão de fechamentos de empresas ou contenção de custos. Outros viram seu faturamento diminuir e precisaram buscar novas alternativas. Assim, para algumas pessoas, foi preciso criatividade e coragem para abrir o próprio negócio.

Tal realidade resultou em elevação nos índices de pequenos empreendedores em Santa Cruz do Sul. Dados do Portal do Empreendedor do governo federal apontam que, de março de 2020 até junho de 2022, cresceu 43,39% o número de Microempreendedores Individuais (MEIs) em Santa Cruz. Quer dizer, eram 7.067 MEIs no final de março de 2020 – mês em que a pandemia de Covid-19 teve início – e 10.134 até 30 de junho deste ano. O aumento já era percebido no final de 2021, quando estavam registrados 9.423 MEIs no município.

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Para manter a qualidade e o profissionalismo

Depois de trabalhar durante nove anos em um conceituado salão de beleza de Santa Cruz do Sul, a cabeleireira Eluiza Fernanda Frantz, de 38 anos, decidiu que era chegada a hora de estar à frente do próprio negócio. A pandemia, mesmo que negativa para o setor no qual atua, acabou sendo o principal agente impulsionador para a tomada de decisão.

Segundo ela, a restrição de festividades foi crucial para modificar a rotina de quem trabalha com produção de mulheres para comemorações como casamentos, aniversários e formaturas. “Acabou nos afetando diretamente, principalmente na questão da proibição de eventos. Primeiramente não era permitido abrir os salões, depois foi permitido somente com 30% da capacidade, momento em que nos revezávamos entre os profissionais do estabelecimento. Como nosso salário era gerado por comissões, afetou diretamente o que recebíamos.”

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Por isso, pouco mais de um ano após o início da pandemia, Eluiza resolveu sair do salão onde trabalhava e montou seu próprio espaço. “Já havia passado quase um ano e meio sofrendo as consequências da pandemia, então percebi que estava na hora de dar uma virada e veio a ideia de empreender, abrir um negócio no meu próprio endereço, sem precisar pagar aluguel. Seria uma forma de reduzir os custos sem perder qualidade em linha de produtos e em profissionalismo”, relata.

Por indicação de uma amiga, Eluiza procurou o Banco do Povo de Santa Cruz, onde fez um empréstimo para poder montar o espaço conforme idealizou. “Eu já havia feito orçamento em outros lugares, mas a tabela de juros era muito alta, então fui até o Banco do Povo. Conversando com eles, vi que era uma das taxas de juros mais baixas do mercado. Comecei do zero, reorganizei e modifiquei totalmente meu espaço atual, adequando a frente como ponto comercial.” Além disso, Eluiza conta que os amigos e rede de apoio foram fundamentais para concretizar seu sonho, cada um contribuindo com seu talento e conhecimento técnico.

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Em agosto, a empresa completa um ano. “Só gratidão por tudo e todos que me acolheram para tornar meu sonho realidade, sendo reconhecida como profissional e trabalhando em meu próprio negócio.” Eluiza não pensa em parar por aí. Para ela, é preciso estar sempre se aprimorando e expandindo. “Penso em futuramente ampliar meu espaço, ter mais profissionais trabalhando comigo e oferecer ainda mais serviços às minhas clientes.” 

A pandemia, no entanto, ainda gera consequências. “Posso dizer que 80% normalizou, mas ainda falta um pouco, já que muitas pessoas perderam seus empregos e buscaram alternativas e outras ainda se sentem inseguras para voltar aos procedimentos normalmente. Fora isso, tem ainda o tempo necessário para que as pessoas conheçam os novos estabelecimentos”, acrescenta.

Empreendedorismo por necessidade

Rafael Kirst explica o fenômeno dos negócios que surgiram como alternativa

Ao longo da pandemia, o crescimento nos índices de empreendedorismo no Brasil é percebido como o chamado empreendedorismo por necessidade, conforme o diretor de Inovação e Empreendedorismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Rafael Kirst. “Ou seja, pessoas que perderam o emprego ou buscaram recolocação no mercado de trabalho e não conseguiram e resolveram, a partir disso, empreender. Esse é um fenômeno que de fato ocorreu. Esses empreendedores não necessariamente gostariam de estar empreendendo.”

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Segundo Kirst, observou-se que, para algumas empresas, a pandemia abriu janelas de oportunidades no que diz respeito à perspectiva de negócios. “Aquelas com que a gente lida no Parque Tecnológico da Unisc e já estavam mais inseridas na pauta da inovação e se prepararam antes da pandemia para os processos de digitalização, essas acabaram surfando numa onda positiva. A pandemia foi terrível, com um número tão grande de pessoas ficando doentes e perdendo suas vidas, mas para abrir novos mercados, novos negócios, algumas empresas conseguiram se adaptar melhor que as outras.”

O diretor destaca que, para o empreendimento dar certo, são necessários fatores como a pessoa ter um perfil empreendedor. Porém, um bom planejamento e pesquisa de mercado fazem toda diferença. “Algo bem feito, no sentido de mitigar um pouco e diminuir as incertezas de abrir um novo empreendimento, é necessário. Ir lá e abrir um novo CNPJ, criar uma empresa, é relativamente fácil. O difícil é saber se realmente você vai ter o número de clientes que viabilizará esse negócio.”

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O trabalho de planejamento é crucial para o sucesso ou o fracasso de um negócio. “E o lado positivo é que isso pode sim ser feito a todo momento. Inclusive, tudo é aprendizado, nenhum negócio é definitivo. Uma vez estabelecido esse plano, ele não tem que ser executado à risca, indiferente às mudanças que nos cercam. É possível sim repensar, aprender com eventuais erros”, esclarece Kirst.

Não há uma fórmula mágica para o sucesso de um negócio, mas há maneiras de fazer o processo se tornar menos complicado. “Hoje existe uma série de programas. A própria incubadora tecnológica da Unisc dá auxílio aos empreendedores que buscam transformar essa ideia. No início toda ideia é muito boa, mas transformar isso em um bom negócio já é algo bem mais complexo e que exige um suporte maior. Ninguém é bom em tudo, não existe um superempreendedor que vai dominar todos os aspectos dos negócios.”

Conversar com diferentes pessoas, buscar suporte da incubadora, ou até de outros atores, faz com que o caminho seja menos tortuoso. “O próprio Sebrae faz um trabalho muito bacana, dando suporte para quem está pensando em algo novo. Minha sugestão é aumentar a rede de contatos, porque a partir dessas interações surgem novas ideias e isso vai se desenvolvendo de forma que a gente consegue formatar modelos de negócios inovadores que dão certo”, conclui Kirst.

Sebrae

Uma pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Rio Grande do Sul entre 22 de junho e 3 de julho deste ano, com 392 clientes atendidos pelo Sebrae, avaliou pontos como situação atual do negócio, comportamento do faturamento, situação de dívidas, vendas através de plataformas digitais, entre outros. O levantamento também levou em conta cenários como o início e o avanço da vacinação contra a Covid-19, o surgimento das variantes do coronavírus e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

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Sobre o faturamento do negócio nos últimos 30 dias, 23% dos entrevistados registraram aumento, 32% apontaram redução, enquanto 45% afirmaram que o faturamento se manteve entre janeiro de 2021 e junho de 2022. Além disso, de acordo com as empresas entrevistadas sobre os custos que atualmente pesam no orçamento, a maioria apontou que o que mais influi é a matéria-prima (30%). Em segundo lugar estão os custos com colaboradores e os gastos com combustível (empatados com 16%). Empréstimos e dívidas vêm logo depois (15%).

Os entrevistados também observaram que os maiores desafios para o negócio hoje são os fatores: redução do poder de compra do consumidor (36%); aumento dos custos de energia, água, insumos (31%); equilibrar finanças (28%); planejamento do negócio (23%); oferta de produto ou serviço diferenciado (19%).

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Ainda para 52% dos entrevistados, a expectativa para os próximos seis meses é manter o negócio, 40% pretendem expandir, 3% querem reduzir e 5% encerrar. Sobre a utilização ou não de ferramentas digitais para efetuar vendas, 73% afirmaram que usam e 27% disseram que não. O gerente regional dos Vales do Taquari e do Rio Pardo do Sebrae, Clóvis Alberto Glesse, salienta que a busca por informações e capacitações irá ajudar esses empreendedores a se manterem. “O Sebrae oferece consultorias nas áreas de finanças, marketing, melhoria de processos, entre outras, que preparam melhor os empreendedores para se manter e se expandir. No site, os empreendedores encontrarão várias formas de auxílio”, comenta Glesse.

Aumento de 200%

A bióloga Elisa Rabuske teve ideia a partir do próprio trabalho de conclusão de curso

A expansão da empresa da bióloga Elisa Rabuske, de 30 anos, já está sendo colocada em prática. Focado em vendas de cogumelos dos tipos shimeji e hiratake, utilizados na gastronomia, o negócio foi inaugurado pouco antes do início da pandemia, em 2020, como alternativa para que a empresária pudesse continuar atuando na sua área de formação.  “Meu trabalho de conclusão de curso foi sobre isso. Me formei em 2018 e depois fiquei um ano parada, pensando no que eu poderia fazer para ficar no ramo da Biologia, porque é bem difícil se tu não segue na licenciatura”, relata.

Logo depois da inauguração da empresa, veio o fechamento do comércio. Isso afetou as vendas de Elisa, que atende principalmente restaurantes e lojas que comercializam produtos naturais. Contudo, a Passione Cogumelos sobreviveu ao período de crise e hoje já contabiliza um bom aumento.

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“Eu comecei produzindo sete quilos mensalmente em 2020. Em 2021 a gente foi para 21 quilos, até me surpreendi”, conta a bióloga. O número representa uma alta de 200%. Por enquanto, Elisa compra e mantém os cogumelos em uma estufa montada para execução do trabalho, em Santa Cruz. Mas o intuito é, em breve, passar para a própria produção. Por isso, já começaram os preparativos para a montagem do laboratório. “Faltam ainda alguns equipamentos”, completa.

Recorde de solicitações

Banco do Povo auxilia os empreendedores locais na contratação de linhas de crédito

Em 2021, ano fortemente marcado pela pandemia de Covid-19, o resultado foi um recorde de solicitações de crédito junto ao Banco do Povo e a liberação de mais de R$ 6 milhões para microempreendedores e mais R$ 3,8 milhões a pequenas e médias empresas, totalizando R$ 9,9 milhões.

Segundo o coordenador do Banco do Povo, Paulo Mans, resultado próximo havia sido registrado em 2014, quando foram liberados R$ 5,9 milhões em linhas de crédito, mas a média anual ficava bem abaixo. “Este é o melhor índice dos últimos dez anos, ou seja, de toda a história do Banco do Povo. Nossa média anual girava em torno de 200 projetos aprovados e cerca de R$ 1,8 milhão a R$ 2 milhões em recursos liberados. No ano passado, fomos muito além, com 383 projetos e mais de R$ 9,9 milhões, um salto muito expressivo.” Interessados na contratação de linhas de crédito podem ligar para a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Turismo pelos telefones 2109 9270 e 2109 9226, ou ir direto no ponto físico de atendimento, localizado no Parque da Oktoberfest.

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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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