Em visita a parentes no Oeste Catarinense há poucos dias (junto com o irmão Rudi e outro monte-alvernense, Almedo Hillesheim), deparei-me com placa de “Capital da Língua Alemã” quando, a convite de amigo, parente, ex-colega de seminário e hoje colega na escrita de livros, professor Roque Jungblut, estava me encaminhando a encontro de corais na localidade de Cristo Rei, município de São João do Oeste. Ele, presidente da comunidade católica e de associação do coral com cerca de 180 famílias associadas, explicava então que o município tem realmente essa íntima identificação porque a ampla maioria (cerca de 97%) da população fala ou entende o alemão.
A região foi colonizada por imigrantes e descendentes de alemães e católicos vindos em grande parte de Santa Cruz, onde a então Caixa Rural (hoje Sicredi), que está completando 105 anos, atuou diretamente, junto com a Central de Caixas Rurais e Sociedade União Popular (Volksverein) do Rio Grande do Sul, no projeto de colonização denominado Porto Novo, localizado em área no Estado vizinho que corresponde aos municípios de Itapiranga, São João do Oeste e Tunápolis. O projeto iniciou-se em 1926 e logo mais chegará a seu centenário, assim como a imigração alemã no Brasil comemora seu bicentenário neste ano.
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São João do Oeste, conforme divulga a Assembleia Legislativa do Estado, foi reconhecida por lei estadual de 2008 como a Capital Catarinense da Língua Alemã, por sua preocupação em preservar o idioma dos imigrantes. Reportagem recente no local salienta que também lei municipal de 2016 reconhece “o alemão como língua cooficial, ao lado do português, com o seu ensino integrando a grade curricular de alunos da educação infantil, ensino fundamental e médio”. O dialeto “Hunrückisch” está presente no dia a dia dos moradores, enquanto nas escolas já se ensina o “Hochdeutsch”, versão oficial utilizada na Alemanha.
O uso do idioma é incentivado também por outras iniciativas como a “Deutsche Woche” (Semana Alemã) e Associação Cultural Alemã de São João do Oeste, que mantém diversos grupos culturais, como coral, dança e orquestra, com alto grau de participação. Na comunidade de Cristo Rei, foi possível observar como a cultura tem respaldo, a partir do bem organizado grupo coral local, que, junto com outros seis da região, realizou belo encontro dominical e todos eles tinham, pelo menos, uma canção alemã a apresentar.
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A música, forte legado dos imigrantes alemães, coloca-se como grande marca local, em que muitos jovens se destacam. Inclusive um deles, que participou do programa The Voice Kids, conhecido como Edu Gaiteiro, agora com 12 anos e que se apresenta com seu pai Paulo Weber e a banda Os Reis da Alegria, animou (incluindo cantos alemães) festa de aniversário familiar (do irmão Elmo e esposa Helena, ele nascido em Monte Alverne e ela em Arroio do Tigre, que foram a Iporã do Oeste no início de 1960 e desde então possuem lojas de material de construção na região).
Continua forte a interação entre a nossa região santa-cruzense e o Oeste Catarinense, ambos com colonização germânica (Santa Cruz também oficializou a língua alemã como patrimônio histórico e cultural) e que presenciaram o deslocamento de muitos descendentes de famílias locais àquela região, quando aqui as terras escassearam. Ali também realizam Oktoberfests e já prometeram visitas ao evento de Santa Cruz neste mês. A ligação familiar, de idioma, costumes, cultura, realimenta os vínculos e serve de estímulo, neste ano de celebração da imigração alemã, à preservação desses laços e valores que tanto representam para suas populações, e, por isso mesmo, nunca podem ser deixadas de lado.
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