Aconteceu em Palmares, município de São Paulo. Na sexta-feira, 11, passada, um homem entrou em uma padaria usando a máscara contra Covid-19 na altura do queixo. Uma funcionária de 38 anos pediu que ele usasse a proteção de forma adequada, em respeito às regras sanitárias dentro do estabelecimento. O cliente ficou muito nervoso, transtornado, e não se limitou a insultar a atendente. Ele a agrediu com socos, chutes e joelhadas. Como resultado, Adriana, a vítima, teve um dos braços fraturado e precisou passar por cirurgia. Se não fosse a interferência de outras pessoas, sabe-se lá o que teria acontecido com ela. O caso parou na Delegacia de Polícia, onde houve o registro de lesão corporal. O acusado foi solto.
Além do absurdo da situação em si – espancar ou ser espancado por uma questão banal como usar máscara em uma pandemia, algo que nem deveria causar polêmica –, há duas coisas a ressaltar no episódio. A primeira delas é a covardia. Hoje em dia, no Brasil, está na moda ser covarde. As estatísticas mostram o aumento dos casos de violência contra mulheres, crianças e idosos, geralmente em situações de desvantagem física, sem condições de defesa contra o agressor. Só no Rio Grande do Sul, o número de feminicídios cresceu 55,6% em abril deste ano, comparado ao mesmo mês de 2020, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado.
O agressor de Palmares não viu nada de errado em quebrar o braço de uma mulher que nem conhece. Talvez tenha se sentido até “mais homem”, por estranho que possa parecer. Tudo serve para justificar a violência. Para isso, contribui mais uma coisa: o descontrole emocional. Também comum, ou não? A incapacidade de manter o equilíbrio diante da menor contrariedade, a tendência a abafar “no grito” o que poderia se resolver com uma conversa, a facilidade em ter ataques histéricos por nada, isso é muito comum e, para alguns, justificável – sinal de “autenticidade” ou, vamos dizer, “personalidade forte”. Vê-se com desconfiança quem prefere dialogar em vez de gritar, conciliar em vez de dar socos na altura do queixo. Como se fosse um defeito, dissimulação ou fraqueza, vá saber. Talvez isso ajude a entender, pelo menos um pouco, por que o ambiente público, o debate público, anda tão conturbado.
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