Eu me comovo por qualquer coisa. Sempre fui assim quando se tratasse de arte, música, solidariedade, compaixão, doença de amigo, falecimento.
Esses dias achei no Spotify um pedaço da Sétima de Beethoven, uma versão bem pequena, não me lembro dos compassos. Achei ousado e lindo o arranjo calcado sobre uma liberdade total em cima da circunspecção das pautas originais. Troquei umas idéias com a Silvia Agnes, que me referiu ter chorado quando cantou uma parte da Nona de Beethoven na Ospa. Mas se recompôs minutos depois.
Falávamos sobre essas coisas no grupo de Whats, quando se chegou ao assunto emoção musical.
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Depois de me aposentar, consegui mais tempo para compor. Tenho dois CDs gravados e muitas obras esparsas. Um dia me inspirei e compus, madrugada adentro, uma canção para concorrer num festival. Meu estilo é introspectivo, não gosto de gritedo, olho o Pampa, a vida, as coisas do campo, com olhos de sinceridade na alma. Nada de absurdos que não se sustentam. Por sinal, há muitos compositores que plagiam escancaradamente e retratam em suas obras quimeras falaciosas. Mas para executar procuro depois um auxílio para a harmonia.
Meu trabalho foi aceito pela comissão de triagem. Reuni amigos músicos e começamos a ensaiar.
No dia da apresentação, fizemos a passagem de som com normalidade. Eu tinha levado um dos meus violinos, um Yamaha eletrônico. Sim, o violino clássico fica prejudicado com o som do ginásio. Melhor eu usar o violino eletrônico para eu conseguir me ouvir.
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Pois quando demos a largada já na apresentação em palco, não é que me emocionei de tal maneira, que comecei a verter lágrimas e me perdi campo afora? O diretor do som notou e me desplugou. O meu grupo foi até o fim, mas fomos desclassificados, com muita razão.
Me emociono toda vez que ouço ou toco a canção tão bem interpretada por Marlene Dietrich (das Lied ist aus – Frag nicht varum). Por vezes recordo as músicas preferidas de minha mãe e do meu pai.
Fico em demorados silêncios. Doces lembranças de avós, de pais, de parentes, de amigos, de colegas.
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Música foi o que me consolou nas solidões.
Sobre silêncio durante a execução sou radical.
Eu ia muito aos concertos da Ospa às terças-feiras, ali na Independência.
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Certo dia, sentou na poltrona de trás um jovem casal.Ficavam conversando o tempo inteiro e as pessoas em volta fazendo “pschhhhh”. Não adiantou. Quando a orquestra deu uma pausa falei: “olha, vocês erraram de lugar para ouvir música!” O rapaz disse: “tu quer que a gente vá para onde?”
Retruquei: “pro bailão do Ari, ali no Passo da Areia.”
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